O Troféu Imprensa chegou à sua 60ª edição em uma curiosa coincidência: conhecido durante muito tempo como o “Oscar da TV brasileira”, em virtude do prestígio de outros tempos, foi exibido pelo SBT no mesmo dia da premiação maior do cinema mundial, que também comemorava uma edição “redonda” (a 90ª). E, a julgar pelos últimos anos, fica claro que as interações de Silvio Santos com o público e os jurados ficaram bem maiores que a premiação em si.

O veterano comunicador sempre diz que não conhece nada nem ninguém e que não assiste novelas, despertando risos involuntários. Entre uma e outra pérola, chegou a dizer que queria colocar os jornalistas Ricardo Boechat e Rachel Sheherazade frente a frente, devido às posições políticas dos mesmos. O júri deste ano, por sua vez, teve como maior destaque o jornalista Léo Dias, do jornal O Dia, que integra o programa Fofocalizando. Em todas as categorias que foi chamado, Leo não se furtou a dar sua opinião sincera, inclusive dizendo na cara de Sílvio Santos que o SBT deveria valorizar mais o jornalismo de sua emissora.

Além de Dias, completaram o júri Ricardo Feltrin e Flávio Ricco (UOL), Keila Jimenez (R7), Sônia Abrão e Nelson Rubens (RedeTV!), Wivian Maranhão (revista TV Brasil), Jorge Luiz Brasil (revista Minha Novela), Marcelo Bartholomei (revista Caras) e Márcia Piovesan (revista Tititi).

Entre os convidados que receberam troféus, o veterano Sérgio Chapelin, representando o Globo Repórter, aproveitou para relembrar o Show Sem Limite, game que comandou no SBT após sua saída da Globo em 1983 e que não durou muito tempo. A talentosa Vanessa Giácomo aproveitou para pegar seu merecido troféu de Melhor Atriz pela elogiada atuação como a vilã Aline em Amor à Vida (2013-14). Representando o elenco da casa, o destaque ficou para a simpatia de Carlos Alberto de Nóbrega e a irreverência de Danilo Gentili e da equipe do The Noite, caracterizada com um figurino de férias de Silvio Santos.

Quanto à premiação em si, a cada ano se evidencia o quanto a mesma tem perdido prestígio e credibilidade com indicações ilógicas, uma vez que as categorias votadas pelos jurados também contam com indicações feitas pelo voto popular. Como explicar que novelas como Novo Mundo e Rock Story tenham sido deixadas de fora enquanto a fraca Pega Pega foi indicada? Ou a ausência de Tatá Werneck e Fernanda Lima em Melhor Apresentadora, categoria ocupada pelas mesmas dos últimos anos? Qual o sentido de ainda existir uma concorrência de programa infantil, já que apenas o SBT produz para este público na TV aberta? Porque o Pânico na Band, que viveu seu pior ano e deixou de ser exibido, esteve presente e o ótimo Tá no Ar, de Marcelo Adnet e cia, mais uma vez foi deixado de fora? Difícil entender.

Ainda assim, houve escolhas mais do que justas. A Força do Querer, grandiosa trama das 21h de Glória Perez, mereceu muito o prêmio de Melhor Novela, uma vez que resgatou a força do horário das 9, em crise desde o fim de Avenida Brasil (2012). A trama ainda rendeu os prêmios de Melhor Ator e Atriz, respectivamente, para Marco Pigossi, ótimo como o marrento Zeca; e Juliana Paes, que deu show na pele da bandida Bibi Perigosa. Pigossi concorreu com Caio Castro, excelente como Dom Pedro em Novo Mundo, e Rodrigo Lombardi, apenas correto como o advogado Caio?-?uma vaga que seria melhor ocupada por Emílio Dantas, intérprete do traficante Rubinho, ou Vladimir Brichta, genial como o roqueiro Gui Santiago em Rock Story. Juliana, por sua vez, foi relacionada ao lado de Paolla Oliveira, igualmente ótima na pele da policial Jeiza, rival de Bibi; e Glória Pires?-?uma de nossas maiores atrizes, mas que atualmente vive um papel muito aquém de seu talento (a Beth/Duda de O Outro Lado do Paraíso). Lamenta-se, mais uma vez, a ausência de Letícia Colin, impecável na pele da princesa Leopoldina em Novo Mundo.

O Lady Night, de Tatá Werneck, foi o justo vencedor de Melhor Programa, contando com o talento da comediante para o improviso e, muitas vezes, fazendo com que ela se sobreponha aos seus convidados. Outra grata surpresa foi a indicação do Conversa Com Bial em Programa de Entrevistas, ao lado do Programa do Porchat (escolhido pela internet) e do The Noite (mais votado entre os jurados). Com a missão de suceder o horário consagrado por Jô Soares, o talk-show de Pedro Bial é uma boa opção para quem prefere o “talk” ao “show” presente nos concorrentes.

Nas categorias musicais, a presença do sertanejo foi tão maciça que foi até criada a categoria Dupla Sertaneja, fazendo as vezes da antiga Conjunto Musical, que premiava bandas de vários estilos. Simone e Simaria garantiram a vitória na nova categoria; Luan Santana foi escolhido melhor cantor, em virtude do sucesso do álbum 1977; e Marília Mendonça foi eleita melhor cantora pelo júri?-?numa estranha seleção que contemplou também Ivete Sangalo (vencedora do Internet) e Joelma (que compareceu para receber prêmios de edições anteriores), mas se esqueceu de Anitta, o grande nome do pop brasileiro em 2017.

Com indicações e ausências cada vez mais estranhas a cada ano, o Troféu Imprensa não é mais o mesmo de outrora. É de se lamentar, pois aquela que sempre foi conhecida como uma das grandes premiações brasileiras vem suplantando cada vez mais a eleição dos melhores do ano e chamando mais atenção pelas interações de Sílvio Santos com o público e o corpo de jurados.

Vencedores
Todos venceram os Troféus Imprensa e Internet, exceto onde for indicado.

Novela: A Força do Querer

Ator: Marco Pigossi

Atriz: Juliana Paes

Cantor: Luan Santana

Cantora: Marília Mendonça (Imprensa) e Ivete Sangalo (Internet)

Dupla Sertaneja: Simone e Simaria

Apresentador: Silvio Santos

Apresentadora: Patrícia Abravanel (Imprensa) e Eliana (Internet)

Programa: Lady Night

Programa de Auditório: Programa Sílvio Santos

Programa de Entrevistas: The Noite Com Danilo Gentili (Imprensa) e Programa do Porchat (Internet)

Programa de Humor: A Praça é Nossa

Programa Infantil: Bom Dia e Cia

Jornal: Jornal Nacional

Programa Jornalístico: Conexão Repórter (Imprensa) e Fantástico (Internet)


Compartilhar.