O Viva, canal pago do Grupo Globo, bateu o martelo e definiu qual será a novela que substituirá América (2005) na faixa das 22h50. A escolhida foi Viver a Vida (2009), polêmica e fracassada novela escrita por Manoel Carlos.

Alinne Moraes em Viver a Vida
Alinne Moraes em Viver a Vida

A trama ficou marcada por trazer aquela que foi considerada a pior Helena já criada por Maneco. A personagem de Taís Araújo era vazia de conflitos e não empolgou a audiência, que preferiu torcer pela felicidade de sua rival, Luciana (Alinne Moraes).

Mas Helena não era o único ponto fraco de Viver a Vida. A novela foi criticada pelo ritmo lento e pela falta de histórias, já que várias tramas propostas ficaram pelo caminho.

Que novela substituirá América no Viva?

Viver a Vida substitui América no canal Viva a partir do dia 22 de julho. Escrita por Manoel Carlos, a novela foi exibida pela Globo entre 14 de setembro de 2009 a 14 de maio de 2010, em 209 capítulos.

A novela conta a história de Helena, uma bem-sucedida modelo internacional que decide abrir mão da carreira ao se apaixonar por Marcos (José Mayer), um rico empresário do ramo hoteleiro que é bem mais velho que ela. Porém, ela precisa encarar a rejeição de Tereza (Lilia Cabral), a ex-mulher dele, e sua filha Luciana, que é rival de Helena também nas passarelas.

Luciana inferniza tanto a vida de Helena que a top model se recusa a viajar com a rival durante um trabalho internacional. Com isso, Luciana acaba pegando estrada em uma van que sofre um terrível acidente, deixando-a tetraplégica. Por conta disso, Tereza passa a culpar Helena pela tragédia.

Pior Helena de Manoel Carlos

Taís Araújo em Viver a Vida
Taís Araújo em Viver a Vida

Festejada por ser a primeira Helena jovem e negra, a personagem de Taís Araújo acabou se tornando coadjuvante na trama que deveria protagonizar. Vazia de conflitos, ela passou os meses da novela se consumindo pela culpa de ter provocado, indiretamente, o acidente de Luciana.

Além disso, a atriz e o autor foram alvo de críticas por conta de uma cena polêmica, na qual Helena, ajoelhada, pede perdão a Tereza, que lhe dá um tapa na cara. Uma mulher negra sendo humilhada por uma mulher branca em posição de subserviência pegou muito mal.

“A minha personagem era um erro em vários sentidos. Eu faço mea culpa, eu também não fiz bem. Mas também não era um personagem com paint de protagonista”, avaliou Taís Araújo, em entrevista ao programa Campeões de Audiência, exibido pela TV Cultura.

Lilia Cabral era a Helena?

Em entrevista ao programa Tributo, em homenagem ao autor Manoel Carlos, Taís Araújo voltou a falar sobre sua Helena em Viver a Vida. A atriz acredita que, na época, o país não estava preparado para uma personagem negra bem-sucedida no horário nobre.

“Hoje em dia eu consigo ver com distanciamento todos os possíveis erros nossos, meu, do Maneco, do Jayme [Monjardim, diretor], da Globo. Ou o que eu chamo de ingenuidade, de achar que o Brasil não era o Brasil que se apresenta hoje. Na época era um Brasil que a gente acreditava muito que éramos todos iguais, que éramos todos vistos da mesma maneira, que o que estava escrito na Constituição valia na rua. Quando, na verdade, não”, afirmou.

“Eu sempre falo que dessa novela quem tinha mais característica de Helena era a Lilia Cabral, que, por ter feito tantas novelas do Manoel Carlos merecia ter feito aquela Helena. A questão familiar era uma redenção entre aquela mãe e aquela filha. Eu sempre tenho a sensação de que aquela Helena era pra ter sido da Lilia”, reconheceu a atriz.

Trama arrastada

Mas Helena não era o único problema de Viver a Vida. Na verdade, a novela estreou prometendo muitas histórias promissoras, mas acabou deixando todas pelo caminho. Maneco não conseguiu contar as tramas que pretendia.

O triângulo amoroso envolvendo Gustavo (Marcelo Airoldi), Betina (Leticia Spiller) e Malu (Camila Morgado), por exemplo, andava em círculos. O conflito da médica Ariane (Christine Fernandes), que se envolveria com o marido de sua paciente, também não se desenvolveu. Dora (Giovanna Antonelli), que entrou na história para ser antagonista de Helena, não chegou a cumprir essa função.

Com isso, Viver a Vida não conseguiu prender a atenção do público e se tornou o primeiro grande fiasco da carreira de Manoel Carlos. A trama fechou com 35,6 pontos de média de audiência, na época a pior audiência da história da faixa das nove.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor