A atual novela das sete segue agradável, apesar da evidente queda de ritmo e da questão envolvendo os congelados ter perdido o fôlego. O Tempo Não Para, que chega ao seu centésimo capítulo, consegue se sustentar bem pelos diálogos inspirados de Mário Teixeira e alguns conflitos momentâneos que entretêm despretensiosamente. Já o romance de Samuca (Nicolas Prattes) e Marocas (Juliana Paiva) sempre foi um dos pontos altos da história, dirigida por Leonardo Nogueira.

O casal funciona e logo no primeiro capítulo ficou claro que o autor tinha acertado na escalação. Não se sabia, porém, se o desenvolvimento da relação seria bem realizado. Mas acabou sendo. Apesar do estranhamento inicial em torno das características do mocinho (um rapaz extremamente jovem ser um empresário bem-sucedido, dono de uma grande empresa, por exemplo), o seu encantamento por Marocas fez todo sentido. Afinal, nada mais fascinante do que uma menina de 1886, descongelada em 2018, que redescobre o mundo sem abrir mão de seus valores. Qualquer um em seu lugar se apaixonaria.

É preciso citar essa observação porque paixões súbitas em novelas andam cada vez mais catastróficas. Todos os casais recentes que se apaixonaram à primeira vista logo no primeiro capítulo não funcionaram ao longo da trama, vide Luiza (Camila Queiroz) e Eric (Mateus Solano), em Pega Pega, ou Luzia (Giovanna Antonelli) e Beto (Emílio Dantas), em Segundo Sol, por exemplo.

O que costuma dar certo é o sentimento surgindo aos poucos e normalmente depois de algum embate, como em Orgulho & Paixão. Mas o acerto de Mário Teixeira foi não colocar Marocas como apaixonada logo no começo. Pelo contrário. A menina ficava chocada cada vez que via Samuca sem camisa ou então fazendo algo inconcebível em 1886.

Aos poucos, os dois foram ficando cada vez mais próximos, até o relacionamento se iniciar. A sintonia entre Nicolas e Juliana está presente nas várias cenas do jovem idealista com a destemida filha de Dom Sabino (Edson Celulari). As trocas de olhares e sorrisos viraram a principal característica do par. A química salta aos olhos em todos os momentos românticos e a canção Naked, de James Arthur, foi bem escolhida. Vale elogiar, inclusive, a preocupação em ter uma música tema – as últimas novelas das nove, por exemplo, abandonaram uma das maiores identidades dos romances folhetinescos e mesclaram várias músicas em cada par, sem qualquer necessidade.

Os mocinhos da trama das sete, por sinal, fazem jus ao posto. Aparecem bastante o tempo todo. Algumas vezes isso até merece críticas em virtude da falta de espaço de boas situações que deveriam ter mais destaque nos núcleos paralelos, como a questão dos ex-escravos, a médica Helen (Rafaella Mandelli) que ficou avulsa, a vilania de Amadeu (Luiz Fernando Guimarães), enfim.

No entanto, Samuca e Marocas enchem a tela e os atores estão muito bem. Nicolas Prattes vive um evidente amadurecimento e conseguiu imprimir verossimilhança em um perfil que não bate com sua idade. Ele ainda convence em vários momentos dramáticos. Já Juliana Paiva é um conhecido talento, sempre brilha em seus trabalhos e agora não é diferente. Prova que é boa na comédia e no drama. Após o papel escada em A Força do Querer, onde emocionou em várias cenas, ganhou uma heroína cativante.

É preciso, inclusive, elogiar a linda cena do pedido de casamento que o filho de Carmem (Christiane Torloni) fez para seu grande amor, exibida recentemente. Ideia genial do autor colocar todos os personagens vestidos como se estivessem em 1886 para o bonito momento. Tudo a ver com a essência do folhetim. Os atores emocionaram e novamente esbanjaram sintonia.

O Tempo Não Para tem na relação de Samuca e Marocas um de seus principais êxitos. Mário Teixeira soube construir um casal que desperta empatia e torcida de quem assiste. O carisma dos atores conta muito, claro, mas os personagens bem construídos e a evidente química complementam o ótimo conjunto.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor