Nem tudo está perdido: Gloria Perez quebra tabu em Travessia

23/11/2022 às 18h45

Por: Sergio Santos

Zamenza

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A atual novela das nove vem tendo um início conturbado. Travessia tem enfrentado várias críticas a respeito da fragilidade de seu roteiro, dos conflitos pouco interessantes e dos vários furos que a história apresenta. A audiência também não anda correspondendo.

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Mas, entre tantos erros presentes na trama que estreou há pouco mais de um mês, há algum acerto? A resposta é sim. O casal formado por Brisa (Lucy Alves) e Oto (Romulo Estrela) é o maior êxito do folhetim até então.

Quebrou tabu

Travessia - Lucy Alves e Romulo Estrela

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O curioso é que Gloria Perez acertou em algo que costuma ser uma das maiores dificuldades das novelas: os mocinhos. Não é incomum os protagonistas acabarem ofuscados pelos enredos paralelos e romances secundários. É complicado criar um par central que caia no gosto do público. A própria autora já enfrentou muitos problemas em folhetins anteriores.

O sucesso de Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas (Murilo Benício) em O Clone (2001) foi quase uma exceção. Basta lembrar o fracasso do romance de Sol (Deborah Secco) e Tião (Murilo Benício), em América (2005), ou o de Maya (Juliana Paes) e Bahuan (Márcio Garcia), em Caminho das Índias (2009). Além dos péssimos mocinhos que eram Morena (Nanda Costa) e Theo (Rodrigo Lombardi) em Salve Jorge (2013).

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Agora, em Travessia, Gloria teve uma preocupação para desenvolver a relação dos personagens. Não houve uma construção rasa e apressada. O famigerado amor à primeira vista, que funcionava há muitos anos, mas que passou a ser a ruína de qualquer casal na teledramaturgia, não aconteceu. Brisa e Oto vivenciaram um clichê que raramente falha na ficção: o ranço à primeira vista.

A mocinha precisou se esconder na mala do carro do rapaz para não ser linchada por populares, que acreditaram em uma montagem mal feita na internet que a acusava de ser uma sequestradora de crianças – drama baseado em um fato real ocorrido em 2014. Oto estava hackeando a empresa de Guerra (Humberto Martins) a mando de Moretti (Rodrigo Lombardi) e se irritou com aquele furacão que surgiu na sua frente, bagunçando sua vida.

Situação forçada

Travessia - Chay Suede

A questão é que Brisa deixou Oto balançado e, assim que ele soube o que tinha acontecido, resolveu ajudá-la. Porém, durante a viagem que os dois faziam para o Rio de Janeiro, Oto deixou cair sua arma enquanto dava um casaco para a mocinha na frente de um policial e ambos foram presos. A situação foi muito forçada e inverossímil a partir do desdobramento da prisão de Brisa, que chegou a ser transferida para um presídio usando um nome falso, algo inacreditável.

Mas deixando os furos de lado, o desenvolvimento daquela relação foi despertando interesse e expectativa no público. Até porque houve um breve rompimento, já que a protagonista achou que o sujeito que tinha acabado de conhecer era um bandido perigoso. Ele, no entanto, ofereceu ajuda para tirá-la da cadeia e, aos poucos, o vínculo foi se fortalecendo, mesmo que com uma certa distância.

A decepção de Brisa com Ari, interpretado por Chay Suede (foto acima), que a trocou por Chiara (Jade Picon) e ainda iniciou um processo de pedido de guarda do filho deles, ajudou na sua aproximação com Oto. Mesmo que involuntariamente, o hacker acabou virando um porto seguro para a mocinha. E, nas redes sociais, a expectativa para o primeiro beijo estava cada vez mais alta, algo bastante positivo para uma novela que enfrenta críticas diárias e quase todas merecidas.

Sintonia entre os protagonistas

AGNEWS/DELSON SILVA

A sintonia entre Lucy Alves e Romulo Estrela surgiu logo na primeira cena e foi aumentando à medida que a história dos personagens avançava. Tanto que a cena do beijo, exibida no último sábado, dia 19, esbanjou química. Uma pena que a trilha, Evidências, cantada por Roberto Carlos, destoe. A música não condiz com a temperatura do casal. Aliás, as escolhas das canções se mostra bastante equivocada na novela como um todo, incluindo Tempos Modernos, cantada por Seu Jorge, na abertura. Parece que todas estão mal selecionadas.

Voltando ao ótimo casal protagonista, a saga de Brisa ganhou uma boa virada quando Gloria parou de humanizar Ari e passou a retratá-lo como um típico interesseiro folgado. Ao reforçar os traços vilanescos do personagem, aumentou a torcida pela mocinha e também a nova relação que merece ter ao lado de Oto. Nada melhor para um folhetim do que ter mocinhos para torcer.

Até porque toda a trama das fake news foi muito mal desenvolvida e o fato da montagem ter sido feita por um adolescente frustrado destrói qualquer possibilidade de vingança da protagonista. A foto fake foi criada sem qualquer intuito ou objetivo, o que enfraqueceu a narrativa e ainda retratou de forma rasa um assunto tão sério que vem assolando o país há anos.

Conflito atrativo

Agora, com a luta pela guarda do filho, Brisa ganhou um conflito mais atrativo para o público e o romance com Oto acaba tendo um destaque merecido, já que ele se coloca como ponto de apoio. Pena que até o momento o personagem de Romulo não tenha dramas pessoais para vivenciar. O trabalho que fez para Moretti é muito pouco para um perfil principal. Nem família ele tem.

Travessia ainda está em seu início e Gloria Perez tem muitos problemas para resolver. A história apresenta muitas falhas que precisam ser corrigidas, mas, ao menos em se tratando de casal protagonista, a maré que a autora está navegando é tranquila. Brisa e Oto são cativantes juntos e o entrosamento de Lucy Alves e Romulo Estrela é o principal acerto da produção até agora.

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