André Santana

Walcyr Carrasco é famoso por conseguir levantar a audiência de qualquer horário. O autor sabe como fazer suas histórias caírem no gosto do espectador, o que o tornou um dos mais populares novelistas da Globo. Ainda assim, ele terá que cortar um dobrado para conseguir repetir seu costumeiro sucesso em sua próxima novela das nove.

Walcyr Carrasco
Reprodução / Globo

Desta vez, os desafios que aguardam Carrasco são muito maiores. Além de suceder Travessia, um dos maiores fiascos de todos os tempos, o novo folhetim precisa driblar alguns empecilhos criados pela própria direção da Globo. Afinal, nem nome a nova novela tem. Como criar expectativa em torno de um produto que nem ao menos ganhou um título?

Um título, urgente!

Travessia - Alessandra Negrini
Reprodução / Globo

Nome que consta na sinopse original da novela, Terra Vermelha não deve ser o título definitivo da substituta de Travessia (foto acima). No entanto, como até hoje a Globo não conseguiu definir um nome para sua novela, é assim que ela continua sendo tratada na imprensa especializada.

O título foi descartado por alguns motivos. Um deles é o fato de já haver um livro com o mesmo nome, de autoria de Domingos Pellegrini. Outro motivo é a preocupação da emissora com a conotação política de Terra Vermelha, o que poderia causar um transtorno desnecessário em tempos de polarização.

Assim, o canal considera outras possibilidades. Terra Bruta é o nome que aparece nos documentos sobre a novela nos bastidores da Globo. No entanto, o título ainda não seria unanimidade na emissora. Com isso, Terra Dourada também surgiu como um possível nome.

A demora na definição do título atrapalha o buzz em torno da novela. Afinal, gerar expectativa faz parte do processo de lançamento de qualquer folhetim. Como fazer isso se a obra nem nome tem?

Segredo desnecessário

Gravações de Terra Bruta

Como se não bastasse a ausência de um título, a nova novela de Walcyr Carrasco também passa por uma espécie de “blindagem” na Globo. De acordo com Patrícia Kogut, colunista de O Globo, a emissora tem adotado diversas estratégias para manter a produção sob sigilo. A ideia é evitar que vazem as cenas que estão sendo gravadas no interior do Mato Grosso do Sul – como a foto acima, divulgada por moradores da região.

Trata-se de uma medida um tanto exagerada. Afinal, um dos segredos do sucesso de uma novela é ela se tornar uma grande fofoca. Assim, adiantar informações sobre a trama, até mesmo flagras de bastidores, também funcionaria como uma divulgação não-oficial, o que ajuda a despertar o interesse do público.

Novela não é série. “Spoilers” de novelas sempre foram consumidos com afinco por fãs de um bom folhetim. Não é preciso escancarar tudo, claro, mas não precisava tanto segredo. Um “vazamento” de cena poderia ser um ótimo aperitivo e aumentaria a expectativa em torno da obra.

Campanha de lançamento

Gloria Perez

Assim como um ou outro “spoiler” pode ajudar a aumentar o interesse em torno da nova obra, uma campanha de lançamento bem-feita também é fundamental. Isso é óbvio, mas parece que a Globo desaprendeu a produzir boas chamadas de novelas nos últimos anos.

Travessia, por exemplo, sofreu com esse mal. A campanha de lançamento da novela adiantou muito pouco quem era Brisa (Lucy Alves) e quais os conflitos que a aguardavam. O ideal é que a novela comece com o público já sabendo o que vai encontrar, justamente para que o espectador embarque na emoção. Como torcer por Brisa, se nem se sabia quem era ela?

Mas a novela de Gloria Perez (foto acima) não foi a única a sofrer com este mal. Tramas como Um Lugar ao Sol (2021) e Cara e Coragem (2022) também foram extremamente mal divulgadas. Uma campanha desinteressante pode colocar a perder toda uma produção.

A novela de Walcyr Carrasco terá a ingrata missão de recuperar a audiência da faixa das nove. Sendo assim, a direção da Globo precisa criar condições para que a trama seja esperada pelo público. Isso só será possível quando a novela tiver um nome e uma boa estratégia de lançamento.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor