André Santana

A Favorita é uma novela muito lembrada pela trama central forte. A rivalidade entre Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar) toma conta da história criada por João Emanuel Carneiro, mobilizando todos os personagens que formam o núcleo principal. Com isso, muitas tramas paralelas da novela não foram desenvolvidas adequadamente, resultando em vários personagens que não tiveram o devido espaço.

A Favorita

Taís Araújo, a Alícia, já declarou que gostou de participar da novela, mas que sua personagem não deu muito certo. Na verdade, a patricinha inconsequente se apagou justamente porque o núcleo ao qual ela estava inserida, liderado por Romildo Rosa (Milton Gonçalves), acabou não tendo o devido destaque.

Mas este não é o único núcleo que não disse a que veio. Personagens como Augusto César (José Mayer), Orlandinho (Iran Malfitano), Amelinha (Bel Kutner) ou Gurgel (Mario Gomes) tiveram o desenvolvimento prejudicado, ou tomaram rumos sem sentido.

Augusto César e Maíra

A Favorita

O roqueiro Augusto César teve bastante espaço na trama, é verdade. Mas sua história acabou ficando sem sentido por conta da saída de Juliana Paes da novela. A atriz vivia a jornalista Maíra, que se envolvia com Augusto, mas Gloria Perez solicitou a presença da artista em Caminho das Índias, a novela que sucedeu A Favorita. Com isso, Maíra foi morta na trama.

Assim, Augusto César passou vários capítulos sem rumo. O personagem, que era meio amalucado, teve várias sequências falando sozinho. Mais adiante, é ele quem acolhe Donatela, quando a mocinha escapa da prisão, o que lhe dá uma nova função. Mas nada que “salve” o personagem.

Há ainda a trama que envolve a verdadeira paternidade de Shiva (Miguel Rômulo), que o roqueiro divide com Elias (Leonardo Medeiros). No passado, os dois se envolveram com Diva/Rosana (Giulia Gam), que os deixou com a criança. Ainda assim, nenhuma das tramas empolgou de fato.

Núcleo cômico flopado

A Favorita

Mas o caso mais curioso é o de Amelinha e Gurgel. Trata-se de um casal de picaretas sem eira nem beira. No início da trama, eles têm mais espaço, com Amelinha surgindo ao lado de Donatela como uma alpinista social. Mas, aos poucos, os personagens começam a desaparecer da história, aparecendo apenas em alguns momentos sem importância.

A ideia deste núcleo era trazer um humor meio nonsense, já que Amelinha e Gurgel tinham dois filhos, mas pouco traquejo para criá-los. Era comum ver as crianças com fome, e os pais servirem apenas pipoca a eles. Mas a família não funcionou e perdeu espaço.

Ex-gay

Iran Malfitano em A Favorita

Como Amelinha e Gurgel não funcionaram como núcleo cômico, um outro cenário surgiu na tentativa de fazer o espectador rir. Orlandinho, que apareceria apenas em poucos capítulos, tornou-se um personagem fixo no decorrer de A Favorita, e ganhou um cenário só seu.

Este novo núcleo surge quando Orlandinho, que é gay, é obrigado por seu pai a se casar com Maria do Céu (Deborah Secco). Darcy (Luiz Bacelli) contrata a ex-prostituta para “curar” o filho, o que cria uma série de situações pretensamente cômicas.

Tanto que, num determinado momento da trama, aparece Geralda (Suely Franco), a avó de Orlandinho, o que faz o rapaz e Maria do Céu fingirem um casamento de verdade. No final, como é comum na obra de Carneiro, Orlandinho e Maria do Céu acabam se apaixonando. Enfim, um núcleo equivocado e “esquecível” de A Favorita.

História de amor sem espaço

A Favorita

Com Romildo Rosa, A Favorita fez uma crítica política interessante e o personagem teve um bom destaque. Mas a ideia de fazê-lo ficar entre o amor verdadeiro e a vida política cheia de falsidade acabou ficando pelo caminho.

Romildo era um político corrupto. E era apaixonado por Arlete (Angela Vieira). A secretária também o amava, mas não aceitava o comportamento dele. O político, então, fica dividido: ele muda para ficar ao lado da amada, ou a deixa para seguir com sua conduta equivocada na política?

Porém, esta trama não teve grande espaço em A Favorita. Tanto que Arlete passou muitos capítulos sem nem dar as caras na produção, o que gerou uma queixa da atriz Angela Vieira. Na reta final, este dilema é retomado, mas sem grande força. Passou em branco.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor