André Santana

As imagens dos principais pontos do Rio de Janeiro, com seus famosos monumentos e seus prédios suntuosos, costumam dominar o horário nobre da Globo. Como grande parte das novelas da emissora se passa na capital fluminense, o clima de urbanidade e o sotaque carioca forte estão sempre presentes nos folhetins.

Pantanal - Osmar Prado

No entanto, algo está mudando. O sucesso de Pantanal na faixa das nove, com as belas sequências dos rios e dos animais que vivem no bioma, deu uma necessária oxigenada na grade do canal. Saíram os prédios e o trânsito da cidade grande e entrou a natureza com toda a sua exuberância.

Além da metrópole…

Mar do Sertão - Isadora Cruz e Sergio Guizé

O remake do clássico da Manchete, então, abriu caminho para que a Globo redescobrisse o Brasil. Na esteira do sucesso da história de Benedito Ruy Barbosa, vieram outras produções que valorizam diferentes regiões do país, mudando a cara da programação da emissora.

O sertão nordestino, por exemplo, é um dos protagonistas de Mar do Sertão, atual novela das seis. A trama de Mário Teixeira se passa na pequena Canta Pedra, localizada no Nordeste brasileiro, um local que, apesar de sofrer com a seca, traz ao seu redor belas paisagens.

Passeios no campo

O Rei do Gado - Patrícia Pillar

Além disso, O Rei do Gado (1996) acaba de retornar no Vale a Pena Ver de Novo. O folhetim rural também assinado por Benedito Ruy Barbosa se passa em várias localidades, mesclando cidade e campo. Um de seus cenários mais lembrados é o Araguaia, refúgio preferido do protagonista Bruno Mezenga (Antonio Fagundes).

O bom resultado de audiência de todas estas produções mostra o quanto o espectador se interessa por obras que fogem do eixo Rio-São Paulo e exploram o Brasil mais a fundo. O cansaço das tramas urbanas por parte da audiência é tão evidente que Cara e Coragem e Travessia, duas narrativas ambientadas no Rio, estão fora do trilho almejado pelo canal, ao contrário da novela das seis.

Desaprendeu?

Pantanal - Dira Paes e Marcos Palmeira

Anos atrás, havia um maior equilíbrio entre tramas urbanas, rurais e regionalistas na grade da Globo. Benedito Ruy Barbosa era famoso por suas narrativas rurais, enquanto Aguinaldo Silva marcou época com seus folhetins passados em cidadezinhas do Nordeste. Porém, depois que Benedito se aposentou e Aguinaldo passou a escrever novelas urbanas, isso se perdeu.

Foram tantas produções em grandes centros que a emissora chegou a constatar um cansaço. Por isso, em 2016, o canal decidiu adiar A Lei do Amor (2016) e escalar Velho Chico (2016) para substituir A Regra do Jogo (2015). A ideia era justamente dar um “respiro” no horário.

A obra de Benedito Ruy Barbosa e Bruno Luperi não alcançou grandes números de audiência. Velho Chico, no entanto, cumpriu seu principal objetivo, que era dar uma cara nova ao horário nobre da Globo.

Anos depois, o sucesso de Pantanal e Mar do Sertão, além do provável êxito da reprise de O Rei do Gado, mostram que mudar de cenário de vez em quando faz bem. Resta saber se a Globo desaprendeu a fazer o que sempre dominou ou se simplesmente faltam boas opções…

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor