Em capítulo de Renascer exibido nesta segunda-feira (22), José Venâncio (Rodrigo Simas) foi morto numa tocaia de Egídio (Vladimir Brichta), maior inimigo de José Inocêncio (Marcos Palmeira). Com isso, o autor Bruno Luperi mantém o destino do personagem tal qual a versão original da novela, em 1993.

Marcos Palmeira em Renascer
Marcos Palmeira em Renascer

Mas não precisava. Há 31 anos, Venâncio morreu por conta de um conflito envolvendo o ator Taumaturgo Ferreira e a direção da novela. Sendo assim, o personagem poderia ter sido poupado na nova versão da trama. Mas Luperi preferiu ser fiel à obra do avô, Benedito Ruy Barbosa.

Com isso, o novelista repete o mesmo erro de Pantanal (2022). Luperi também preferiu manter intactas tramas que Benedito Ruy Barbosa só criou porque teve problemas com o elenco. Deste modo, acabou desagradando o público, que torcia pelos personagens.

Por que Venâncio morreu em Renascer?

Em 1993, o ator Taumaturgo Ferreira, intérprete de José Venâncio em Renascer, foi retirado da novela por conta de conflitos com a direção da trama. Ele mesmo admitiu isso numa entrevista em 2021.

“Queriam que eu fizesse uma coisa mais rural, da Bahia. Eu tinha combinado com o diretor que meu personagem não teria sotaque nem falaria ‘oxente’ e ‘painho’. Porque ele era um cara que tinha estudado fora, mais sofisticado, namorava uma hermafrodita… Eu não via sentido. Combinei com o diretor para não fazer. Só que se esqueceram de combinar com os russos (risos)”, contou ele ao O Globo.

Ou seja, José Venâncio poderia ter sido mantido vivo no remake. Mas o autor Bruno Luperi afirmou que não pretendia fazer alterações drásticas na história criada pelo avô.

“Algumas coisas são imutáveis. Vou pegar o caso de Pantanal. Quando você tem o acidente da Madeleine (Karine Teles) e ela sai da história, a história toda muda. Se ela fica, você não pode contar aquela história. Então, algumas decisões têm que ser aceitas, mas tentando dar um sentido maior, tentando compor um pouco melhor aquilo tudo”, explicou Luperi ao jornal O Globo, em janeiro de 2024.

Erro que se repete

Karine Teles
Karine Teles como Madeleine em Pantanal

Na entrevista ao O Globo, Bruno Luperi se refere à morte de Madeleine em Pantanal. Em 1990, o autor Benedito Ruy Barbosa só matou a personagem porque a atriz Ittala Nandi pediu para deixar a produção para participar de um filme na Índia.

O plano inicial do autor era que Madeleine sofresse um acidente de avião e desapareceria. A personagem retornaria tempos depois, transformada ao ser salva pelo Velho do Rio (Claudio Marzo/Osmar Prado). Mas, com a saída da atriz, esta trama não pode ser desenvolvida como planejado. Assim, havia a expectativa de que, em 2022, isso fosse acontecer.

Mas não aconteceu. Mesmo que a personagem vivida por Karine Teles tenha caído nas graças do público, Luperi optou por manter sua morte como aconteceu na versão original. Isso deixou parte da audiência indignada.

Luperi também optou por retirar Trindade (Gabriel Sater) da história antes do fim, destruindo a história de amor do personagem com Irma (Camila Morgado), que também havia agradado o público. Em 1990, o violeiro que tinha um pacto com o cramulhão só deixou a história porque Almir Sater, seu intérprete, foi escalado para a novela seguinte da TV Manchete, A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990).

Ou seja, Trindade não precisava sumir na segunda versão e o autor poderia ter dado um final feliz para ele e Irma, como o público esperava. Mas isso não aconteceu e Irma terminou a novela nos braços de José Lucas (Irandhir Santos), decisão que revoltou muita gente.

Chance perdida

Assim, ao ser fiel à obra do avô em Pantanal e Renascer, Bruno Luperi perde a chance de surpreender o público ao criar novas histórias. O autor diz que não pode fazer tais alterações, ou então a história toda muda.

Mas não seria melhor se mudasse? Afinal, em 1993, a morte de José Venâncio fez com que Benedito Ruy Barbosa unisse Buba (Maria Luisa Mendonça) e José Augusto (Marco Ricca). Porém, depois que o casal assume a paixão, ambos perdem espaço dentro da trama. A história deles se esgota.

Se Venâncio fosse mantido vivo, o autor poderia criar um novo triângulo amoroso envolvendo o publicitário, Augusto (Renan Monteiro) e Buba (Gabriela Medeiros), aproveitando melhor esses personagens e dando-lhes uma trama mais consistente.

Vale lembrar que, em 1993, Renascer ostentou uma protuberante barriga em sua segunda metade. Manter Venâncio vivo daria a oportunidade de Luperi trazer novas tramas e evitar este período em que nada relevante acontece na novela. Infelizmente, o autor perdeu a chance de fazer algo diferente desta vez.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor