Travessia está mais para Salve Jorge (2012) do que para A Força do Querer (2017). A saga de Brisa (Lucy Alves), cheia de inconsistências, tem a mesma energia caótica da história de Morena (Nanda Costa). Com isso, o público vem rejeitando a heroína da vez, como aconteceu na novela exibida há dez anos.
Brisa não deu uma dentro desde que Travessia começou. A jovem quase foi linchada por conta de uma fake news, que, curiosamente, só encontrou eco nas ruas naquele capítulo. Depois disso, a jovem preferiu mentir o nome para a polícia e parece incapaz de pedir emprestado um simples celular para contatar a família no Maranhão, algo estranho numa novela que tem a tecnologia como tema.
Com isso, Brisa se parece bastante com Morena, a protagonista de Salve Jorge. A jovem, que foi vítima de uma quadrilha de tráfico de pessoas, também não tomava as atitudes mais inteligentes. Além disso, seu romance com Théo (Rodrigo Lombardi) não emplacou, e Morena acabou rejeitada pelo público. A baixa audiência inicial de Salve Jorge foi colocada na conta da personagem.
Plano B
Na época de Salve Jorge, o baixo desempenho da trama e a rejeição à mocinha preocuparam a direção da Globo. Com isso, Gloria Perez fez algumas mudanças na maneira de contar a história, sumindo com personagens que não empolgaram e apostando em tipos mais populares.
Neste contexto, a autora deu mais destaque à personagem de Carolina Dieckmann. A atriz vivia Jéssica, uma das principais vítimas do tráfico de pessoas na trama. A ideia era que Jéssica participasse apenas do início da história, mas sua presença foi ampliada. Na época, ela era considerada um “plano B”, uma nova mocinha que poderia assumir o protagonismo da história.
No entanto, apesar de ter participado de mais capítulos do que o previsto, o destino de Jéssica se cumpriu. Foi a partir da morte da personagem que a trama do tráfico cresceu. Porém, Morena nunca chegou a agradar de vez o público da novela, que preferia acompanhar a saga da delegada Helô (Giovanna Antonelli).
Em busca de audiência
Com a baixa audiência de Travessia, Gloria Perez deve começar a promover mudanças para fazer a sua história emplacar. Corrigir a “burrice” de Brisa deve ser um dos caminhos a ser seguido pela autora. Resta saber se o público dará uma chance à protagonista depois de tantos equívocos.
Apostar numa “segunda mocinha”, como aconteceu em Salve Jorge, parece mais difícil aqui. Afinal, Travessia ainda não mostrou nenhuma outra personagem com potencial para assumir esta função. Chiara (Jade Picon), que poderia ser uma possibilidade, é ainda mais rejeitada que Brisa.
Assim, uma saída seria apostar, de novo, em Helô, justamente a personagem “nascida” em Salve Jorge. Ou melhor: ressuscitar Débora e transformar Grazi Massafera na grande estrela da novela. É preciso voar…
