André Santana

No grupo de discussão realizado pela Globo para avaliar Fuzuê, foi constatado que o público estava cansado da caça ao tesouro dos primeiros capítulos do folhetim. O excesso de enigmas acabou dispersando os espectadores, o que ajuda a explicar a baixa audiência da trama de Gustavo Reiz.

Merreca (Ruan Aguiar) e Luna (Giovana Cordeiro) em Fuzuê
Merreca (Ruan Aguiar) e Luna (Giovana Cordeiro) em Fuzuê (divulgação/Globo)

Para resolver isso, o autor adiantou a resolução do mistério do tesouro, que já foi encontrado. Porém, o final da caça ao tesouro deu início a outra trama que também pode ser bastante cansativa: o baú com as preciosidades começa a passar de mão em mão.

Trata-se do mesmo recurso utilizado em outras novelas que também tinham um tesouro escondido, como O Mapa da Mina (1993) e Negócio da China (2008). Ambas, vale lembrar, dois fiascos de audiência. Ou seja, Fuzuê resolveu um problema, mas criou outro.

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Fim dos mistérios

Marina Ruy Barbosa e Giovana Cordeiro
Marina Ruy Barbosa e Giovana Cordeiro em Fuzuê (Divulgação / Globo)

Nos mais recentes capítulos de Fuzuê, Luna (Giovana Cordeiro) e Miguel (Nicolas Prattes) finalmente encontraram a câmara secreta que escondia o tesouro da Dama de Ouro (Zezé Motta). Com isso, a caça ao tesouro da novela das sete da Globo chegou ao fim.

Assim, cessam-se os enigmas que povoaram o enredo de Gustavo Reiz e aborreceram o público nos últimos meses. O conflito agora se dá sobre quem ficará com as joias valiosas. Maria Navalha (Olívia Araújo) e Luna são descendentes da Dama de Ouro, mas precisam provar isso.

Enquanto não é decidido quem tem direito sobre o tesouro, o baú esteve em poder da historiadora Mariângela (Nany People). Porém, ela ficou pouco tempo com o objeto que é cobiçado pela vilã Preciosa (Marina Ruy Barbosa).

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De mão em mão

Olivia Araújo como Maria Navalha em Fuzuê
Olivia Araújo como Maria Navalha em Fuzuê (Divulgação / Globo)

Depois, Pascoal (Juliano Cazarré) tentou roubar o tesouro. No entanto, os planos do vilão foram descobertos por Merreca (Ruan Aguiar), que conseguiu interceptar o roubo. O “ex-bandido”, acreditando estar fazendo uma boa ação, entregará o baú para Maria Navalha.

Porém, como a mãe de Luna não sabia o que fazer com o objeto, ele acabou sendo escondido por Gilmar (Eber Inácio) e Cata Ouro (Hilton Cobra). Mas o baú continuou sendo passado adiante.

Ou seja, uma nova trama começou em Fuzuê. Ao que tudo indica, nos próximos capítulos, a trama ficará centrada no tesouro passando de mão em mão. Uma história bem menos enigmática que a inicial, mas que, ainda assim, corre o risco de cansar o público.

 

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História repetida

Fernanda Montenegro como Madalena em O Mapa da Mina
Fernanda Montenegro como Madalena em O Mapa da Mina (divulgação/Globo)

Outra novela das sete da Globo centrada em uma caça ao tesouro, O Mapa da Mina apostou na mesmíssima história. Na trama de 1993, os cobiçados diamantes são encontrados por Vicente (Gianfrancesco Guarnieri), que os esconde numa samambaia. A planta, então, começa a ser entregue para vários personagens.

Depois disso, os diamantes são escondidos num ursinho de pelúcia, que também circula pela novela. No final, as pedras vão parar na almofada da sala de Madalena (Fernanda Montenegro).

Negócio da China foi outra novela baseada numa caça ao tesouro. Os personagens buscavam um pen drive que dava acesso a uma fortuna roubada em um cassino chinês. Pois o tal pen drive também circulou de mão em mão entre os moradores do Parque das Nações, bairro onde a trama se passava.

Fiascos

Negócio da China - Grazi Massafera
Grazi Massafera como Lívia em Negócio da China (divulgação/Globo)

O caso é que Gustavo Reiz está repetindo a história de duas novelas consideradas fiascos históricos na Globo. Tanto O Mapa da Mina quanto Negócio da China registraram baixíssimos índices de audiência e renderam dor de cabeça à emissora.

Última novela de Cassiano Gabus Mendes, O Mapa da Mina afundou a faixa das sete de tal maneira que a Globo chegou a cogitar inverter a trama com Mulheres de Areia (1993), sucesso da faixa das 18h da época. Isso não aconteceu, mas a novela acabou encurtada.

Negócio da China também é uma novela de triste lembrança. A história escrita por Miguel Falabella registrou os piores índices de audiência da faixa das 18h até aquele momento. Deu tão errado que Falabella se revelou traumatizado e declarou que jamais voltaria a escrever para o horário.

Ao que tudo indica, Fuzuê está indo para o mesmo caminho. Com isso, não há muito o que fazer para salvar o atual folhetim das sete da Globo. A trama vem sofrendo intervenções de Ricardo Linhares, atual supervisor de texto, mas, até agora, não reagiu na audiência.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor