Exibida no final dos anos 1990 e atualmente em cartaz no canal Viva, Força de um Desejo não foi um grande sucesso de audiência. Por outro lado, a trama foi muito bem-recebida pela crítica e conquistou um público fiel, que sempre exaltou suas qualidades, trazendo de volta nomes como Sonia Braga (na foto abaixo, no filme Bacurau). Tanto que, mesmo não atingindo grandes índices, a novela ganhou uma reprise no Vale a Pena Ver de Novo, o que é incomum.

Sonia Braga - Bacurau
Reprodução

Porém, poucos sabem que a novela só existiu porque Gilberto Braga desistiu de escrever um remake de Dancin’ Days, que era um desejo seu.

Considerado um dos maiores autores de novelas de todos os tempos, Gilberto não viveu uma fase auspiciosa no horário nobre da Globo na década de 1990. O autor enfrentou problemas em O Dono do Mundo (1991) e Pátria Minha (1994). Com isso, seu projeto seguinte era uma novela à prova de erros: um remake de Dancin’ Days.

Exibido em 1978, o folhetim foi um grande sucesso do horário nobre da emissora. A trama ditou moda e emocionou o público ao contar a saga da ex-presidiária Júlia Matos (Sonia Braga), que lutava contra a irmã, Yolanda Pratini (Joana Fomm), ao tentar se reaproximar de sua filha, Marisa (Gloria Pires).

Novela das oito

Sônia Braga em Dancin' Days
Reprodução

Enquanto colocava um ponto final na minissérie Labirinto (1998), Gilberto Braga ensaiava voltar à faixa das oito com o remake de uma de suas maiores obras. O autor ofereceu a ideia à direção da Globo, que a recebeu com simpatia. No entanto, Marluce Dias da Silva, na época a diretora geral da emissora, queria que a novela fosse exibida às 18h, o que contrariou Braga.

Até então, remakes na faixa das 20 horas era algo incomum no canal. Na década de 1990, a emissora apostou em várias regravações, como Mulheres de Areia (1993), Irmãos Coragem (1995) e Pecado Capital (1998), mas sempre na faixa das 18h. A exceção foi A Viagem (1994), exibida às 19h. Mas, às 20h, só cabiam novelas inéditas.

Assim, Marluce queria o remake de Dancin’ Days às 18h, mas Gilberto Braga gostaria que ela fosse produzida para às 20 horas. Por conta do veto, o autor desistiu de fazer um remake de sua obra e ofereceu outra novela para o horário das 18h: nascia Força de um Desejo.

Rebaixamento

Alcides Nogueira

Na verdade, a sinopse da trama havia sido escrita por Alcides Nogueira e estava engavetada há anos. Braga, então, uniu-se ao colega e escreveu a história, que, apesar da baixa audiência, é até hoje considerada uma das mais belas novelas das seis já produzidas pela Globo. Este selo de qualidade é que credenciou o folhetim a voltar ao ar no Viva.

“De certa forma, eu me senti rebaixado quando me escalaram para o horário das seis. Para piorar a situação, Força de um Desejo não atingiu a audiência que a emissora queria”, explicou o autor ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, de André Bernardo e Cíntia Lopes.

Autor lamentou audiência

Gilberto Braga

Mesmo com inúmeros fãs e a boa receptividade da crítica, Gilberto Braga nunca escondeu sua frustração com a baixa audiência alcançada por Força de um Desejo. Em 1999, a trama registrou média de 25 pontos no Ibope, o que, na época, era considerado pouco. O trilho da faixa das seis ficava em torno dos 30 pontos.

“Tenho bastante orgulho da novela, embora ela não tenha alcançado boa audiência para o horário. A audiência era medíocre”, afirmou o novelista ao livro Autores: Histórias da Teledramaturgia.

“Era mais baixa do que a de novelas que eu, particularmente, considerava fracas. Isso era preocupante. Força de um Desejo era uma novela sobre a qual eu só ouvia elogios, não conhecia ninguém que não estivesse gostando”, lamentou Giba.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor