Uma das maiores diferenças da televisão dos Estados Unidos em relação à do Brasil é o sistema de Syndication, prática na qual o mesmo programa pode ser exibido em várias emissoras do país. A seguir, conheça mais sobre esta prática.

Diferentemente do que ocorre no Brasil, os canais norte-americanos são responsáveis por produzir apenas uma pequena parcela da grade, principalmente os noticiários. O resto da programação, como séries, é adquirido diretamente de estúdios. Na maior parte das vezes, tais contratos são exclusivos; ou seja, uma produção pode ser exibida apenas em um canal. Mas nem sempre isso ocorre.

O modelo de Syndication dá liberdade para que as produtoras possam negociar seus programas com diversos canais, sem nenhuma exclusividade. Isso se dá porque, nos EUA, a liberdade das afiliadas é muito maior, com muito mais conteúdo de responsabilidade da empresa local. Com exceções de faixas transmitidas em rede, como o horário nobre e telejornais nacionais, as emissoras tem muitas horas a serem preenchidas localmente, não se restringindo apenas a jornais regionais.

Assim, com horários livres, a maior parte das afiliadas se beneficia do sistema, adquirindo regionalmente conteúdos que são negociados em todo o país sem vinculação exclusiva com nenhuma rede nacional. O mecanismo já existia informalmente nos anos 50 e 60, inspirado em mecânicas similares praticadas no rádio e nos jornais desde os anos 30. Então, no começo da década de 70, a prática foi legalizada oficialmente, se tornando lei.

Existem dois grandes modelos pertencentes ao sistema. O primeiro é o chamado First-run Syndication, no qual programas são originalmente exibidos através da modalidade, sem nunca ter existido vínculo a nível nacional com alguma das grandes redes. Isto pode ocorrer se o programa é rejeitado pelas emissoras nacionalmente (e a produtora busca isso como um último recurso) ou se o planejamento já se deu assim, como nos programas norte-americanos do palhaço Bozo, exibidos de 1960 a 2001, sempre através deste categoria.

Talvez o maior exemplo de sucesso neste quesito seja o talk show The Oprah Winfrey Show, exibido de 1986 até 2011 por centenas de redes locais, espalhadas por diferentes emissoras. Assim, Oprah se tornou uma celebridade sendo vista em todos os canais, dependendo da localidade.

Outro grande hit produzido originalmente para o Syndication é a série Jornada nas Estrelas: A Nova Geração (Star Trek: The Next Generation). Em 1987, a Paramount, estúdio que detém os direitos da franquia, planejava uma nova série ambientada naquele universo. Mas as negociações com ABC, CBS, NBC e FOX não deram certo. Então, a empresa resolveu bancar a produção sozinha, em uma mecânica bastante peculiar: o seriado foi oferecido gratuitamente para afiliadas das quatro redes em todo o país. Isso em troca do estúdio poder vender comerciais durante a exibição, com os dois lados lucrando.

Assim, a obra foi transmitida em 210 emissoras, cobrindo 90% do território norte-americano. Apesar de ser exibida em dias e horários diferentes de acordo com a localidade, a atração foi um enorme sucesso, tanto de audiência quanto financeiramente.

O segundo modelo é o Syndication de reprises de programas que já foram exclusivos de uma emissora no passado, em suas exibições originais. Por exemplo: a animação Os Simpsons tem exibição original exclusiva na FOX desde sua estreia em 1989. Mas, desde 1993, temporadas anteriores são vendidas em todo o país. Então, enquanto a FOX exibe com exclusividade os novos episódios, afiliadas de canais como CBS, NBC e ABC podem adquirir e exibir capítulos antigos da série.

Outros grandes sucessos do Syndication são programas especializados em notícias de Hollywood, como Entertainment Tonight, Extra e TMZ on TV. Podemos citar também os game shows, como Family Feud, Jeopardy!, Wheel of Fortune e The Price Is Right.

Ainda existem séries que começam a ser exibidas exclusivamente em um canal nacional, mas após um rompimento de contrato, partem para o modelo, como SOS Malibu – Baywatch, a versão dos anos 80 de Além da Imaginação e Punky, A Levada da Breca.

Outro gênero que é hit nesta categoria é o dos programas onde casos familiares são julgados judicialmente, todos produzidos seguindo o modelo, como Judge Judy, The People’s Court e Divorce Court. Além disso, muitos desenhos animados clássicos se originaram do Syndication, como Ursinhos Carinhosos, DuckTales e He-Man. A TV norte-americana também é repleta de talk shows feitos através do sistema, como Ellen, Maury, Rachael Ray e The Jerry Springer Show.

Pensando no mercado brasileiro, seria como se, por exemplo, a Globo liberasse suas produções antigas para exibição em afiliadas de outros canais. Nossa realidade televisiva poderia ser bastante diferente, com reprises diárias de Os Trapalhões no SBT ou com a Record reprisando novelas globais da década de 90.

Analisando o panorama geral, se pode concluir que o sistema de Syndication foi um dos maiores responsáveis pela grande força da TV dos Estados Unidos, possibilitando o desenvolvimento de centenas de novas companhias produtoras e também um grande aquecimento do mercado, diferentemente do que ocorre em nosso país.


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Alexandre Pequeno é jornalista e apaixonado pelas novelas brasileiras desde a infância. A paixão foi tanta que seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi sobre a novela Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos. Em 2018, lançou o canal Novelando, onde aborda, de forma bem humorada, sobre as tramas que marcaram a história da TV. Já publicou contos e crônicas em antologias nacionais Leia todos os textos do autor