Na guerra das tardes de domingo, Globo é a que mais busca se diversificar
21/04/2018 às 10h00
O domingo é considerado um dos dias mais acirrados na disputa pela audiência televisiva. Ao mesmo tempo, é também um dos mais entediantes para se assistir TV. Isto tem motivado as emissoras a buscarem alternativas que tornem a programação dominical mais atrativa, o que na prática nem sempre se vê. No entanto, um cenário chama a atenção: enquanto SBT e Record brigam pela vice-liderança com formatos parecidos uns com os outros, a Globo é a que mais se arrisca ao trazer diferentes alternativas para as tardes de domingo.
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O exemplo mais claro é o The Voice Kids. A versão infantil do reality musical foi um grande achado e se destaca a cada temporada, ofuscando a edição adulta. Trazendo Carlinhos Brown (egresso do reality principal), Ivete Sangalo e Victor & Leo (recentemente substituídos por Cláudia Leitte e Simone & Simária) entre os jurados, o programa encanta pelo talento das crianças candidatas e pelo repertório de alto nível, chegando a trazer pérolas raras de nossa música.
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Após o encerramento da terceira temporada, o The Voice Kids deu lugar ao divertido Tamanho Família, formato criado pela Globo que trouxe Márcio Garcia de volta ao posto de apresentador, anos depois do fracasso de sua atuação em Caminho das Índias. A competição entre as famílias dos famosos traz leveza a um horário normalmente dominado pelas histórias assistencialistas dos principais concorrentes e o formato aproxima ainda mais os famosos do público, como se estivessem em casa. O resultado tem sido positivo, tanto que está em sua terceira edição.
Outra boa aposta feita pela emissora carioca é o musical Popstar, comandado por Fernanda Lima. Diferentemente dos The Voice e do Superstar, que buscavam artistas e bandas, a competição traz artistas famosos em outras áreas (como esporte e dramaturgia) se arriscando na música. Embora as atuações fossem um tanto irregulares, alguns participantes conseguiram se destacar, como o vencedor André Frateschi, representando o universo do rock, e o vice-campeão Cláudio Lins, levantando a bandeira da MPB. Mesmo passando longe de ser um formato inovador, o programa também garantiu sua segunda temporada, prevista para o segundo semestre.
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Claro, nem todas as tentativas deram certo. No fim de 2013, para substituir o Esquenta, de Regina Casé, a emissora estreou o Divertics, pretenso humorístico baseado em esquetes. O resultado foi catastrófico: massacrado por público e crítica por sua completa falta de graça, foi cancelado sem deixar saudades após o fim de sua temporada. Mesma falta de sorte teve o falido Tomara Que Caia, exibido em 2015 – este, nas noites de Domingo, após o Fantástico, e extinto sem aviso.
Outra tentativa frustrada foi a mudança de horário do Superstar em 2016, para as tardes – após duas edições exibidas às noites de domingo. Com problemas de produção evidentes, apesar do bom nível das bandas candidatas, o formato não conseguiu manter a audiência da primeira temporada do The Voice Kids e frequentemente perdia para o apelativo Domingo Show, de Geraldo Luís, na Record – que foi determinante para sua extinção e também a do Esquenta, encerrado no primeiro dia de 2017. Curiosamente, o programa sensacionalista perdeu cenários e duração desde o começo deste ano, devido ao baixo retorno publicitário, que não cobria seus custos. O buraco deixado pela redução está sendo ocupado por reprises de humor.
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Antes da estreia do The Voice Kids, as tardes de domingo na Globo receberam no fim de 2015 um grande projeto do canal ao lado do Viva, parceiro da Globosat: o remake da Escolinha do Professor Raimundo, trazendo humoristas da nova geração e atores veteranos prestando uma homenagem aos 25 anos do programa solo de Chico Anysio (que já existia anteriormente como quadro).
A primeira e a segunda temporadas empolgaram, graças à sagacidade do texto e às piadas internas envolvendo o elenco. Porém, a terceira edição, exibida este ano, já começou a dar sinais de perda de fôlego – e de sentido, já que muitos dos intérpretes originais dos personagens ainda estão vivos e fora da TV. Ainda assim, a emissora pretende investir em uma nova leva de episódios, um grande risco à credibilidade da Nova Escolinha.
Deve-se destacar ainda a tentativa de diversificação do Domingão do Faustão, que há anos também tem investido em mini-realities e jogos dentro do programa. Apostas equivocadas como o Artista Completão (2014) e o Truque Vip (2015) dividem espaço com grandes acertos, em especial o Ding Dong. Aliás, este último também surgiu em 2015 e não funcionava a contento, uma vez que trazia covers quase sempre fracos. A grande virada do jogo da campainha musical se deu quando passou a resgatar artistas sumidos da grande mídia, desde nomes consagrados a sucessos de verões passados – abrindo também espaço para novos artistas e também astros estrangeiros (como Dionne Warwick e Michael Bolton, que já estiveram por lá).
Atualmente, o programa tem como sua principal bandeira o Show dos Famosos, trazendo atores e cantores interpretando diferentes nomes da música. Baseada no formato Your Face Sounds Familiar, a fórmula já foi explorada pelo SBT no programa Esse Artista Sou Eu, que substituiu por uma temporada o Máquina da Fama de Patrícia Abravanel, em 2014. Isso sem contar a Dança dos Famosos, outra grande vertente do programa de Faustão, que não perdeu seu fôlego nem mesmo com a chegada do Dancing Brasil, comandado por Xuxa na Record.
Em um cenário onde prevalecem a apelação e o sensacionalismo, frequentemente adotado por Record e SBT, ou o loteamento de horários – visto especialmente na Band e na RedeTV, a Globo parece ser a única a se arriscar e fugir destas soluções básicas. Não à toa, programas como o The Voice Kids e o Tamanho Família têm se destacado como boas opções para a hora do almoço do domingo, em meio a algumas tentativas frustradas já feitas pela emissora carioca. Que o bom saldo se mantenha e inspire a concorrência a se mexer.