Principal estrela da extinta TV Manchete entre os anos 1980 e 1990, Angélica estava há tempos na mira de Silvio Santos, que sonhava em ter a lourinha defendendo as cores do SBT. Em 1993, ele finalmente conseguiu laçar a amiga de Xuxa e Eliana, que estreou o infantil Casa da Angélica em 9 de agosto daquele ano.

Eliana, Xuxa e Angélica nos bastidores do Criança Esperança
Eliana, Xuxa e Angélica nos bastidores do Criança Esperança (divulgação/Globo)

Porém, a estreia do novo programa deu o que falar nos bastidores. Isso porque Angélica e sua família não teriam ficado satisfeitas com o primeiro formato da atração e pediram para mudar tudo.

Com isso, a estreia foi adiada em uma semana e a equipe precisou correr contra o tempo para colocar a Casa da Angélica de pé.

Projeto ousado

Angélica assinou com o SBT no início de 1993. A princípio, a ideia de Silvio Santos era lançar a lourinha no comando de um programa infantil diário e de um dominical voltado para a família. O primeiro projeto a sair do papel foi Casa da Angélica, que estreou em 9 de agosto de 1993, às 15h15.

Porém, o programa que entrou no ar era bem diferente do que havia sido planejado inicialmente. A princípio, o SBT havia contratado o diretor Rogério Gallo, oriundo da MTV Brasil, para criar o novo programa de Angélica. E o profissional queria fazer algo bem diferente do Clube da Criança, atração da loira na extinta Manchete.

De acordo com o Jornal do Brasil, de 9 de julho de 1993, o formato da Casa da Angélica era “surreal” e prometia surpreender os espectadores. O programa teria um formato parecido com uma sitcom, com muita dramaturgia, mas tudo feito diante de uma plateia.

Dividido em dez blocos, o programa teria elementos de ficção, com plantas que falam, um aquário dentro de uma máquina de lavar e outras maluquices. Angélica surgiria acompanhada de três crianças, além do jacaré Jaca e um vilão interpretado por Ariel Coelho. Bernardo Vilhena, Cláudio Paiva e Ruth Rocha responderiam pelos roteiros.

Não gostou

Casa da Angélica
Angélica no comando do infantil Casa da Angélica, no SBT (Divulgação / SBT)

Porém, após as gravações dos primeiros pilotos, Casa da Angélica não agradou. Em 31 de julho de 1993, o Jornal do Brasil informava que dona Angelina, mãe de Angélica, e Marcia Marbá, irmã da apresentadora, teriam ficado insatisfeitas com o resultado.

Diante disso, o diretor Rogério Gallo e boa parte da equipe da atração foram demitidos às vésperas da estreia. Com isso, Casa da Angélica, que deveria estrear em 2 de agosto, foi adiado em uma semana.

Assim, uma nova equipe precisou recomeçar o programa praticamente do zero. Marcelo Zambelli, que dirigiu Angélica na Manchete, foi contratado para substituir Gallo. Com isso, Casa da Angélica foi reformulado e adotou um formato mais parecido com o que Angélica já fazia no Clube da Criança.

Mais do mesmo

Para colocar de pé o ousado projeto criado por Rogério Gallo, o SBT investiu pesado em novos equipamentos e num cenário fixo que ocuparia um estúdio exclusivo. Porém, tudo caiu por terra com as mudanças solicitadas por Angélica e sua família.

Ainda segundo o Jornal do Brasil na época, a apresentadora teria ficado insegura em se aventurar num formato novo, que tinha mais a ver com dramaturgia do que com as tradicionais brincadeiras com crianças.

“Os milhões gastos pelo SBT na contratação de Angélica e na preparação de sua Casa podem agora criar um monstro: um programa velho, simplesmente adaptado a um cenário novo. Isso para loucura do diretor Rogério Gallo, que encarou a contratação pelo SBT como uma chance de mudar a embalagem da apresentadora, e de Cláudio Paiva, que viu seus roteiros já prontos jogados no lixo de uma hora para outra. Entrou areia na Casa de Angélica e, agora sabe-se lá o que ainda pode acontecer”, dizia o texto assinado por Mariucha Monero.

De fato, foi o que aconteceu. Sob direção de Marcelo Zambelli, Casa da Angélica era, na prática, uma nova versão do Clube da Criança, mesclando brincadeiras, musicais, desenhos animados e quadros curtos nos quais Angélica interpretava diferentes personagens. O programa ficou no ar até 1996, ano em que a loira assinou com a Globo.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor