O público que assiste Pantanal está acompanhando a história de Irma (Camila Morgado) e Trindade (Gabriel Sater). O peão, que tem um pacto com o diabo, engravidou Irma e ela deu à luz a criança, que muitos falam que é o “filho do cramulhão”.

camila morgado Pantanal

Muito antes da trama de Benedito Ruy Barbosa ir ao ar, outro “bebê diabo” colocou medo em São Paulo e em todo o Brasil. Só que nada disso foi visto pela TV… O assunto dominou as bancas de jornais.

“Nasceu o Diabo em São Paulo”

O extinto jornal Notícias Populares, que apostava em uma linguagem popular e totalmente sensacionalista, mostrando os crimes e fatos mais escabrosos da cidade de São Paulo, publicou uma matéria em 1975 que deixou todo mundo assustado – Nasceu o Diabo em São Paulo: Bebê com chifres, rabo e falando.

Não havia nenhuma foto na capa, apenas um desenho inspirado no filme O Bebê de Rosemary, de 1968, em que uma mulher dá à luz ao filho do demônio. Segundo o jornal, a criança teria nascido em São Bernardo do Campo (SP) e tinha características sobrenaturais, como as comentadas pelos personagens de Pantanal.

Não deu outra, o povo foi às bancas atrás de um exemplar do NP.

“Uma senhora deu à luz num hospital de São Bernardo do Campo a uma estranha criatura, com aparência sobrenatural, que tem todas as características do diabo, em carne e osso. O bebezinho, que já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos e um rabo de aproximadamente cinco centímetros, além do olhar feroz, que causa medo e arrepios”, reportava o jornal.

A fuga do bebê e o medo nas ruas da cidade

A história surreal não parou por aí. O NP afirmou que o bebê tinha fugido da maternidade, ameaçando a mãe e os funcionários do hospital. A trama seguiu firme e muitas pessoas foram entrevistadas, afirmando que viram o filho do capiroto pelas ruas das cidades do ABC Paulista. Muitas pessoas, com medo, não saiam de noite, trancadas em casa.

Enfim, o jornal publicou que o “bebê diabo” foi capturado por um grupo de religiosos e que ele poderia ser visto pelo público. Até orientações foram feitas as pessoas que quisessem fazer uma visita a figura bizarra.

Era preciso ser maior de 18 anos, não sofrer de problemas cardíacos e estar munido de um crucifixo. Também evitar conversar com o bebê-fenômeno para não ouvir palavras obscenas e assinar um termo de responsabilidade em caso de ser tomado por possessões demoníacas.

A imaginação fértil do editor

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É claro que tudo isso vinha da criatividade dos repórteres do Notícias Populares, que, ao longo do tempo, publicaram outras histórias do tal bebê para vender mais exemplares até que o fato se esgotasse.

Na história real, um bebê nasceu naquele hospital, mas nada tinha de sobrenatural na pobre criança. Ele tinha duas saliências na testa e um prolongamento do cóccix. Um dos fatores para ele ter essas características, é a mielomeningocele, defeito da coluna vertebral e da medula espinhal que ocorre no início da gestação.

Essa história era para ser publicada, sem qualquer tipo de fantasia. Os editores resolveram criar o “bebê diabo” em cima do fato e conseguiram produzir uma lenda urbana que fez muitas edições serem vendidas igual água no deserto.

Hoje, longe do jornal impresso, o público fica de olho na televisão, na expectativa de ver qual será o destino do filho de Irma e Trindade, mostrando que o povo adora uma história sobrenatural.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor