André Santana

Na reta final, Fuzuê está bem diferente da novela que a Globo lançou em agosto do ano passado. A comédia rasgada deu lugar a um thriller policial e o tom colorido inicial foi substituído por uma atmosfera sombria.

Giovana Cordeiro e Marina Ruy Barbosa em Fuzuê
Giovana Cordeiro e Marina Ruy Barbosa em Fuzuê (Reprodução / Globo)

Em meio a tantas mudanças, a vilã Preciosa (Marina Ruy Barbosa) ensaia uma redenção. Após vários capítulos sem função, a megera agora aparece dividida entre o bem e o mal, numa resolução um tanto mal ajambrada.

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Poderosa e perigosa

 

Nos primeiros capítulos de Fuzuê, a vilã Preciosa era uma megera sem qualquer sentimento. Tanto que ela sempre repetia o chato bordão “eu sou Preciosa, eu sou poderosa, eu sou perigosa”, sem medo do quão cafona essa frase soava.

Nesta fase, Preciosa nunca demonstrou afeto por ninguém. Seu casamento com Heitor (Felipe Simas) sempre foi tratado como um negócio, e até o filho Preciosa ignorava – tanto que a criança era, na verdade, criada pela avó, Bebel (Lilia Cabral).

Aliás, Preciosa nunca mostrou amor nem pela própria mãe. Tanto que não se fez de rogada ao internar a ricaça à revelia, indicando inclusive que aquela não era a primeira vez que a vilã recorria a tal recurso.

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Mudanças

Marina Ruy Barbosa como Luna em Fuzuê
Marina Ruy Barbosa como Preciosa em Fuzuê (divulgação/Globo)

Mas, ao longo de Fuzuê, alguma coisa saiu do lugar. A novela perdeu o tom de galhofa e virou uma história policial, sobretudo depois que César (Leopoldo Pacheco) reapareceu. O pai de Preciosa assumiu as vilanias da história e deixou a megerinha para escanteio. A personagem de Marina Ruy Barbosa ficou vários capítulos perdida.

A mudança nos rumos da novela coincide com as alterações realizadas pelo autor Gustavo Reiz e pelo supervisor Ricardo Linhares para tentar elevar a audiência da trama. Bons ajustes foram feitos, como a redução do mistério em torno do tesouro e uma melhor construção da relação entre os personagens.

Porém, a comédia descompromissada era um dos trunfos da novela. Mas isso acabou. E Preciosa, que parecia vilã de desenho animado – tanto que vivia recebendo tortada na cara -, destoou da nova proposta. A solução encontrada pelo autor foi redimi-la.

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Redenção

Preciosa (Marina Ruy Barbosa) e Pascoal (Juliano Cazarré) em Fuzuê
Preciosa (Marina Ruy Barbosa) e Pascoal (Juliano Cazarré) em Fuzuê (divulgação/Globo)

Já faz alguns capítulos que Preciosa vem dando sinais de que pode se regenerar. Recentemente, ela pareceu realmente compadecida ao ver Maria Navalha (Olívia Araújo) lutando contra um câncer. Ela também ficará chocada quando flagrar Pascoal (Juliano Cazarré) ao lado de um corpo.

Ao testemunhar um assassinato, Preciosa vai entregar o ouro aos ex-inimigos e revelar a Miguel (Nicolas Prattes) e Luna (Giovana Cordeiro) o que viu no apartamento de Pascoal. A atitude até se justifica, já que é uma maneira de ela entregar o inimigo a outro inimigo sem “sujar as mãos”.

Mas, no geral, a redenção de Preciosa simplesmente não combina com tudo o que a vilã apresentou na “primeira fase” da novela. Ela era má e pronto, não havia espaço para qualquer tipo de “fraqueza”. Por isso, a virada da vilã apenas expõe que Fuzuê acabou se perdendo em meio a tantas mudanças para ampliar a audiência.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor