Uma das inúmeras novelas de Antônio Calmon na faixa das sete da Globo, Corpo Dourado, estrelada por Cristiana Oliveira e Humberto Martins. A trama foi exibida entre 12 de janeiro e 21 de agosto de 1998 e ficou marcada pela morte do diretor de núcleo, pelo descontentamento de uma das principais atrizes do elenco e pela tragédia envolvendo o ator Gerson Brenner.
Na história, Rosamaria Murtinho vivia Isabel, mulher de Zé Paulo (Lima Duarte), mãe de Laís (Mara Carvalho), Arturzinho (Marcos Winter), Guto (Marcelo Faria) e Judy (Giovanna Antonelli).
Casada durante décadas, sempre fez vista grossa às constantes traições do marido. Apesar de suas origens, era uma mulher de hábitos simples, generosa, modesta, e dona de uma personalidade forte, dessas pessoas silenciosas, que escondem na sua tranquilidade uma grande autoridade moral.
No entanto, houve uma grande mudança no rumo da personagem durante a produção, levando a experiente atriz a se queixar publicamente.
Após a morte de Zé Paulo, a viúva padecia com visões do fantasma, desenvolvendo um quadro similar à esquizofrenia. Mas a assombração não fez sucesso e acabou rifada do enredo. Isabel, curada, casou-se com o motorista da família, Sérvulo (Sebastião Vasconcelos).
“Com a saída do Lima Duarte, tudo mudou. Estava me preparando para pôr os pés na esquizofrenia. Mas, de uma hora para outra, arranjaram um casamento, às escondidas dos filhos, para a Isabel. Tenho a impressão de que não sou mais necessária na trama. Eu chego no estúdio e as cenas que faço são apenas para dar recados”, disparou a veterana ao jornal O Globo de 12 de maio de 1998.
O próprio Lima Duarte, na mesma reportagem, disse que não estava gostando da novela e concordou com as reclamações de Rosamaria.
“Acho que a Isabel murchou. É uma pena”, lamentou. “Não assisto. Não tem nada a ver com a minha carreira nem comigo. É uma história que se passa numa praia, cheia de garotinhas e garotões. Não gosto de Corpo Dourado”, completou.
Troca do diretor
Esse não foi o único obstáculo enfrentado pela trama. Após a morte do diretor de núcleo Paulo Ubiratan, em 29 de março de 1998, o diretor geral Flávio Colatrello foi destituído de sua função; Marcos Schechtmann o substituiu.
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A imprensa noticiou várias versões para a troca: do comportamento inadequado de Colatrello – envolvendo atrasos e distanciamento da equipe – à falta de cuidado com a estética da novela.
Após a estreia, a Globo determinou mais alterações. Saiu de cena a tarja preta que cobria os seios de Alicinha (Danielle Winits), sempre que esta fazia topless na praia – uma ideia proveniente da série Armação Ilimitada (1985), que contou com Calmon na equipe de criação. Os banhos de sol com os peitos desnudos foram mantidos, mas a atriz passou a ser focalizada apenas de costas.
Também corrigiram o sotaque paulistano, anasalado, que Marcos Winter atribuiu a Arthurzinho. E diante das dificuldades de José de Abreu com as aulas de surfe, esporte favorito de seu personagem Renato, o autor passou a escrever apenas cenas do tipo na areia, com a prancha a tiracolo.
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Tragédia com ator
Na reta final, uma tragédia: o ator Gerson Brenner foi baleado durante uma tentativa de assalto no km 4 da Rodovia Ayrton Senna, a 700 metros da Via Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, na madrugada de 17 de agosto de 1998.
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O artista foi vítima de um golpe, lamentavelmente, comum na região: bandidos depositam pedras na pista, causando furos em pneus e obrigando motoristas a parar no acostamento para eventuais reparos.
Ao tentar reagir diante da abordagem de criminosos, Brenner foi baleado na nunca. O ator luta, até hoje, contra as sequelas do trauma.
Por conta do ocorrido, a produção de Corpo Dourado modificou o roteiro do último capítulo, que ainda não havia sido gravado. A cena final, que reuniria todo o elenco na praça da fictícia Marimbá, foi substituída por um momento romântico de Chico e Selena.