Um dos grandes nomes da teledramaturgia brasileira, Tarcísio Meira nos deixou em agosto do ano passado, vítima da Covid-19. O ator colecionou tipos inesquecíveis, em novelas e outras produções de muito sucesso.

A carreira de Tarcísio também passou por curiosidades, como a escolha do nome artístico. Ele seguiu uma “regra”, tal qual a esposa Glória Menezes, para optar pelo Meira – que, aliás, não consta em seu nome de registro.

A regra das 13 letras

Em entrevista ao Conversa com Bial, datada de 2019, Tarcísio Meira contou detalhes da opção pelo nome que o acompanhou em sua vitoriosa trajetória.

“O Meira surgiu por parte de mãe, ela era Gonçalves Meira. Uma família paulista. Adotei o Meira por razões óbvias, Magalhães era muito complicado. Por coincidência tinha 13 letras e os atores do meu tempo se preocupavam com isso. Muitos atores tinham 13 letras no nome”, explicou.

Com o auxílio de Pedro Bial, o veterano recordou outras estrelas com nomes de 13 letras: Cacilda Becker, Sérgio Cardoso e Glória Menezes – batizada Nilcedes. Coincidência ou não, o filho de Tarcísio e Glória carrega o mesmo número em seu nome artístico: Tarcísio Filho.

Família amaldiçoada

Tarcísio Meira

Em outra oportunidade, o ator chamou atenção para o fato dele, apesar de optado por adotar as 13 letras, nunca ter sido supersticioso.

“Muitos atores da nossa época têm nomes com 13 letras. Era moda… Se eu fosse me preocupar com a sorte ou com a falta dela, estaria perdido”, brincou, completando com uma “maldição” que rondava sua família.

“Meu tio dizia que minha família foi amaldiçoada. Desde criança, ouvi que Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier, líder da Inconfidência Mineira) é meu antepassado e que foi esquartejado e exibido em praça pública, sendo todos os seus descendentes amaldiçoados (risos). Mas isso é outra história”, divertiu-se.

Na mesma ocasião, Glória também minimizou o “impacto” da superstição na escolha do nome artístico:

“Me chamo Nilcedes (Soares Magalhães), uma mistura dos nomes dos meus pais, José Nilo e Mercedes. Não dá para assinar assim, não é? Glória é Glória em qualquer língua. O Menezes vem das minhas origens portuguesas… E formou 13 letras!”.

A despedida de Tarcísio Meira

Gloria Menezes e Tarcisio Meira

Tarcísio Meira nos deixou em 12 de agosto de 2021, devido às complicações da Covid-19. O ator tinha 85 anos e se encontrava internado na UTI do Hospital Albert Einstein em São Paulo desde o dia 6 do mesmo mês.

Glória Menezes, então com 86 anos, também foi infectada. Ela passou pela internação na mesma unidade de saúde, apenas para acompanhamento; o quadro da atriz evoluiu bem e ela logo recebeu alta.

Tarcísio e Glória foram casados por 59 anos – um dos pares mais queridos e festejados do meio artístico. Eles tiveram apenas um filho, conhecido dos brasileiros por Tarcisinho; a veterana conta com outros dois herdeiros, do casamento anterior.

Trajetória vitoriosa

A história de Tarcísio Meira se confunde com a da TV brasileira. Ele e Glória Menezes estiveram na primeira novela diária do veículo: 2-5499 Ocupado foi produzida pela Excelsior em 1963.

Com a Globo, Tarcisão firmou parceria por 52 anos. Foram muitos os personagens marcantes. João Coragem, o protagonista de Irmãos Coragem (1970), fez com que os homens assumissem a paixão por novelas. Glória estava com ele, na pele de Lara, moça com três personalidades distintas.

Nos anos seguintes, junto da esposa ou não, Meira viveu tipos inesquecíveis em novelas como Escalada (1975), Guerra dos Sexos (1983), Roda de Fogo (1986), Pátria Minha (1994), Um Anjo Caiu do Céu (2001, foto) e O Beijo do Vampiro (2002), além de minisséries como O Tempo e o Vento (1985), Desejo (1990) e A Muralha (2000).

Sua última participação em novelas foi como o Lorde Williamson, de Orgulho e Paixão (2018). Por questões de saúde, ele não pode ir até o fim da produção.

Tarcísio Meira foi velado e cremado em cerimônia íntima, como o protocolo contra a Covid-19 determinava, em Itapecerica da Serra, São Paulo. Suas cinzas foram jogadas na fazenda do casal em Porto Feliz, interior do estado.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor