MST não aprovou virada de Luana em O Rei do Gado: “Traição”

O Rei do Gado - Patricia Pillar

Grande sucesso em sua terceira reprise no Vale a Pena Ver de Novo, O Rei do Gado (1996) não se resume apenas à inesquecível disputa entre as famílias Mezenga e Berdinazzi. A novela levanta questões importantíssimas, como a causa dos sem-terra.

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Divulgação / Globo

Mas a boa recepção do público não poupou a trama de Benedito Ruy Barbosa das críticas, principalmente dos integrantes do movimento, que as teciam contra a personagem de Patrícia Pillar.

A atriz se inspirou em pessoas reais para compor a personagem e, em dado momento da novela, abandona o acampamento para viver com seu grande amor, Bruno Mezenga (Antonio Fagundes).

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Amor improvável

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Na época, José Rainha Jr., um dos líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) disse em entrevista à Folha de S. Paulo que o envolvimento dos personagens seria considerado uma traição na realidade. Apenas por reunir uma boia-fria e um rico fazendeiro.

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A própria atriz se posicionou sobre os comentários negativos que recebia ao dar vida à Luana, que pouco tempo depois descobre ser a verdadeira Marieta Berdinazzi.

“Um caso de amor entre uma boia-fria e um dono de terras dificilmente aconteceria fora da ficção. Mas o realismo termina aí. Não estamos fazendo um documentário”, disse ao veículo.

“Só o fato de o autor [Benedito Ruy Barbosa] abordar a questão da reforma agrária é um ponto positivo, um canal de discussão. O elenco não está se inspirando em personalidades e nem pretende tomar partido”, conta ela.

Viveu os dramas na pele

A atriz, que estava afastada do vídeo desde Pátria Minha (1994), aceitou a personagem apenas pelo desejo de interpretar uma mulher do campo, fora dos tipos urbanos que sempre deu vida em outras novelas.

Para isso, Patrícia passou 15 dias em um acampamento na cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo, como método de composição da sua personagem em O Rei do Gado.

“Foi fundamental porque eu não tinha a noção de como vive um trabalhador do campo. Conheci mulheres de muita força, vivendo tragédias diárias. A vida lá é dura, miserável. Fiquei deprimida por uns dias. Mas, ao mesmo tempo, são pessoas bem-humoradas, que falam sobre as próprias tragédias de forma mais leve do que eu pensava. São até felizes. Eu fiquei com eles 15 dias”, disse ao O Estado de S. Paulo em 20 de outubro de 1996.

Irreconhecível

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Patrícia Pillar viveu uma experiência um tanto quanto incomum na preparação para a novela. Ela não foi reconhecida durante sua estadia no assentamento sem-terra. Na mesma conversa com o jornal, a atriz relatou como foi a chegada no local.

“As pessoas, quando pensam numa atriz, imaginam uma figura glamourosa. Eu, em absoluto, já não sou. Para fazer aquele trabalho, então, tentei ser a mais parecida possível com aquelas pessoas. Muitos não me reconheceram ou não tocaram no assunto. Tiveram um respeito enorme por mim. As mulheres foram de uma honestidade absoluta ao contar suas histórias. Aprendi com a simplicidade delas. Não houve tietagem. Só no último dia, fizemos uma festinha com bolo e conversamos sobre a novela . Aí sim, dei autógrafos e tirei fotos. Muitos não tinham nem televisão, então nem poderiam me reconhecer.

Segundo a própria, não ser reconhecida pelo público também pode ser algo positivo.

“Às vezes é um alívio. Geralmente, esperam de você coisas que você não é, porque fantasiam a vida do artista. Então, ser tratado sem essa capa como uma pessoa normal, é gostoso”, disse.

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