Há pouco mais de dois meses no ar, Deus Salve o Rei vem se mostrando uma novela caprichada e com uma superprodução. Os figurinos e cenários são de encher os olhos. A história, no entanto, ainda não disse a que veio. Foram poucos os acontecimentos relevantes até então, mas ainda há potencial para render bastante, vide a recente guerra exibida. Já o outro problema da novela de Daniel Adjafre, que merece uma maior atenção, é o elenco. São poucos personagens, exigindo demais dos principais, ocasionando em inevitáveis repetições de conflitos. E essa quantidade insuficiente acaba implicando em uma quase ausência de veteranos.

Dá para contar nos dedos de uma só mão os intérpretes mais experientes da trama das 19h da Globo. E um dos poucos era Tarcísio Filho, que vivia o íntegro Demétrio, fiel escudeiro do Rei Augusto (Marco Nanini). O personagem foi assassinado durante uma emboscada de Catarina (Bruna Marquezine), aproveitando a guerra entre os reinos de Artena e Montemor. A saída dele deixou o elenco ainda mais escasso de veteranos, além de terem retirado um dos perfis mais promissores do enredo.

Era um prazer ver Tarcísio de volta aos folhetins e com um papel aparentemente atrativo. O ator protagonizava boas cenas com Marco Nanini e o personagem tinha tudo para desmascarar Catarina mais adiante, provocando uma boa virada no roteiro. Essa morte não foi nem um pouco significativa para o andamento da trama e pareceu gratuita, reforçando o descaso do autor com os intérpretes mais velhos.

Afinal, como esquecer o falecimento de Rainha Crisélia (Rosamaria Murtinho) na primeira semana de novela? A diferença era a importância que esse fato tinha no enredo. A saída de cena da grandiosa atriz (que esteve perfeita nos primeiros capítulos) era necessária para Afonso (Rômulo Estrela) recusar o trono, abrindo espaço para o inconsequente Rodolfo (Johnny Massaro).

E mesmo assim a ausência da rainha é sentida na história. Faz falta uma figura extremamente poderosa em um roteiro medieval. Agora, com a morte de Demétrio, restam Augusto, Cássio (Caio Blat), Heráclito (Marcos Oliveira), Romero (Marcello Airoldi) e Constância (Débora Olivieri) no time de mais velhos. Muito pouco, levando em consideração os personagens relevantes. Para culminar, a morte do rei está na sinopse da trama e Marco Nanini sai mais para frente. Como o pai de Catarina ficará preso, após descobrir a verdade sobre o caráter da filha, há a possibilidade de ao menos terem mudado esse falecimento. Mas não se sabe ainda. E os demais citados aparecem bem menos do que deveriam.

Nada contra o elenco jovem, vale destacar. Com exceção de Bruna Marquezine, robótica nas primeiras semanas e ainda fora do tom, o saldo geral é positivo. Vários estão muito bem, como Marina Moschen vivendo a guerreira Selena; Bia Arantes interpretando a bruxa Brice; Marina Ruy Barbosa na pele da mocinha Amália; Tatá Werneck como a destrambelhada Lucrécia; Johnny Massaro vivendo o imaturo Rodolfo; além de Rômulo Estrela, perfeito como Afonso, ganhando uma oportunidade que merecia há tempos; enfim.

Todavia, é necessário o peso de atores mais experientes em qualquer time. E o contraste com O Outro Lado do Paraíso, por exemplo, acaba sendo inevitável. Na novela das 21h, de Walcyr Carrasco, há vários veteranos em papéis de destaque e todos brilhando, ganhando a importância que merecem, vide Fernanda Montenegro, Eliane Giardini, Glória Pires, Lima Duarte, Laura Cardoso, Luis Melo, entre outros. Até a recém-terminada Malhação – Viva a Diferença, que destacava os perfis mais jovens por se tratar de uma produção juvenil, abria espaço para nomes como Malu Galli, Lina Agifu, Ju Colombo, Daniela Galli, Cláudio Jaborandy e Lúcio Mauro Filho, por exemplo.

É uma pena que uma novela tão caprichada quanto Deus Salve o Rei não valorize os atores mais velhos, ainda retirando de cena os poucos que estão presentes no elenco. Daniel Adjafre ainda pode melhorar essa situação com novas escalações e aumento do espaço dos nomes que já foram inseridos na história. Só não pode mais ignorar a importância desses intérpretes e descartar nomes como Tarcísio Filho, não interferindo em nada o andamento do roteiro.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor