Perdemos outro notável artista brasileiro. Sérgio Mamberti faleceu na madrugada desta sexta-feira (3), aos 82 anos, de falência múltipla dos órgãos, após dias hospitalizado com infecção nos pulmões. A notícia foi confirmada por seu filho Carlos, ao G1. Mamberti foi ator, diretor, roteirista, produtor cultural e artista plástico. Também um grande representante político na arte desse país.

De formação teatral, além de várias peças, Sérgio atuou em mais de 40 filmes e teve mais de 40 participações na televisão, entre novelas, minisséries, séries e especiais. Do público de TV, será sempre reverenciado por dois personagens inesquecíveis: o espirituoso mordomo Eugênio, da novela Vale Tudo (1988), e o carismático Dr. Victor Stradivarius, do Castelo Rá-Tim-Bum (1994).

Filho de Ítalo e Maria José Mamberti, Sérgio nasceu em Santos, litoral paulista, em 22 de abril de 1939. Foi irmão do também ator Cláudio Mamberti, falecido em 2001. De seu casamento com Vivien Mahr (entre 1964 e 1980), teve três filhos: Duda Mamberti (ator), Carlos Mamberti (produtor cultural) e Fabrício Mamberti (diretor de TV). Sérgio teve ainda uma relação de 37 anos com Ednardo Torquarto, falecido em 2019.


Nas novelas O Astro, Dinheiro Vivo e Flor do Caribe

Sérgio Mamberti teve uma intensa participação na política brasileira, sempre defendendo os interesses da classe artística. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, esteve à frente de várias atividades no Ministério da Cultura dos governos Lula e Dilma Rousseff: secretário de Música e Artes Cênicas, da Identidade e da Diversidade Cultural, presidente da Fundação Nacional de Artes e secretário de Políticas Culturais.

Com mais de 60 anos de carreira, o ator, formado pela Escola de Arte Dramática da USP, estreou profissionalmente em 1961, na peça “Antígone América“, com Ruth Escobar, dirigida por Antônio Abujamra, pela qual foi premiado como ator revelação. Nesta época, fez parte do grupo Decisão de teatro, de Abujamra.


Nas peças Reveillon (1975) e Calabar (1980)

Com mais de 80 peças teatrais, entre seus principais trabalhos no teatro, estão: “O Inoportuno” (1964), dirigida por Antônio Abujamra (Prêmio Saci de melhor ator coadjuvante); “Navalha na Carne” (1968), de Plínio Marcos; “O Balcão” (1969), de Jean Genet (Prêmio Governador do Estado de São Paulo de melhor ator coadjuvante); “Reveillon” (1975), dirigida por Paulo José (melhor ator com os prêmios Governador do Estado de São Paulo, Molière e APCA); “Calabar: o Elogio da Traição” (1980), de Chico Buarque e Ruy Guerra; “Hamlet” (1984), de Shakespeare; “Tartufo” (1985), de Molière, dirigida por José Possi Neto; “Pérola” (1995), de Mauro Rasi (prêmios Sharp e APETESP de melhor ator e Mambembe de melhor ator coadjuvante); “O Evangelho segundo Jesus Cristo” (2001), de José Saramago, dirigida por José Possi Neto; “Visitando Sr. Green” (2015), dirigida por Cássio Scapin; “Um Panorama Visto da Ponte” (2018), de Arthur Miller, dirigida por Zé Henrique de Paula; e “O Ovo de Ouro” (2019), dirigida por Ricardo Grasson.


Nas peças Visitando Sr. Green (2015), O Ovo de Ouro (2019) e Um Panorama Visto da Ponte (2018)

A estreia no cinema foi em 1966, em Nudista à Força. Entre seus principais filmes: O Bandido da Luz Vermelha (1969), Toda Nudez Será Castigada (1973), À Flor da Pele (1976), O Olho Mágico do Amor (1982), O Homem do Pau-Brasil (1982), Rio Babilônia (1982), A Dama do Cine Shanghai (1987), A Menina do Lado (1987), Anjos da Noite (1987), Brasa Adormecida (1987), O Corpo (1991), Perfume de Gardênia (1992), Castelo Rá-Tim-Bum (1999) e O Homem Que Desafiou o Diabo (2007).


Com Lucinha Lins e Rosamaria Murtinho na novela Estrela-Guia

Sérgio Mamberti estreou na televisão em 1968, na TV Record (administrada por Paulo Machado de Carvalho), onde atuou em cinco novelas seguidas: Ana, Algemas de Ouro, As Pupilas do Senhor Reitor, Os Deuses Estão Mortos e Quarenta Anos Depois. Em 1979, participou da novela Dinheiro Vivo, na TV Tupi, em que viveu um personagem ousado para época: Dr. Pacheco, um burocrata fã de Marilyn Monroe que se travestia da atriz para fazer shows em casas noturnas.

Em 1981, fez seu primeiro trabalho na Globo, na novela Brilhante. Depois Transas e Caretas e, entre 1986 e 1987, uma passagem pela TV Manchete (Dona Beija e Helena). Em 1988, interpretou um dos personagens mais lembrados da novela Vale Tudo: o mordomo Eugênio. Fez sucesso entre o público o tom afetado do personagem, espirituoso, cheio de frases de efeito, muitas vezes associadas a filmes clássicos de Hollywood.


Elenco do Castelo Rá-Tim-Bum

Entre 1989 e 1994, Mamberti teve participações nas novelas Cortina de Vidro, exibida pelo SBT; Pantanal e A História de Ana Raio e Zé Trovão, da TV Manchete; Olho no Olho e as minisséries As Noivas de Copacabana e Agosto, na Globo. Em 1994, o ator interpretou outro personagem que marcou sua carreira, pelo qual é lembrado por toda uma geração: o sábio e carismático Dr. Victor Stradivarius na série infantojuvernil Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura.

Entre 1995 e o ano 2000, Mamberti participou das novelas Dona Anja, no SBT, O Campeão, na Band, Anjo Mau e nas minisséries Engraçadinha, Labirinto e A Muralha, na Globo. Em 2001, mais um tipo memorável: o rico fazendeiro caipira Alaor Pimenta, na novela Estrela-Guia. Vale destacar ainda Silvano, personagem da novela Sabor da Paixão (de 2002), formando com o ator Edney Giovenazzi um casal gay de terceira idade.


Com Edney Giovenazzi na novela Sabor da Paixão

Em 2013, Sérgio Mamberti viveu na novela Flor do Caribe outro personagem muito elogiado: o ex-carrasco nazista Klaus Wagner, vivendo no Brasil sob a identidade de Dionísio Albuquerque. Na última década, teve participações nas novelas O Astro, A Vida da Gente e Sol Nascente. Sua última aparição na TV foi em 2017, em um episódio da sitcom Eu, Ela e um Milhão de Seguidores, exibida no Multishow.

Em 2008, foi condecorado com a Ordem do Mérito Cultural por sua contribuição à cultura brasileira. Sem dúvida, incalculável.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor