Morre, aos 96 anos, estrela que participou de grandes novelas da Globo
01/08/2022 às 18h26
A atriz Maria Fernanda nos deixou no último sábado (30), aos 96 anos, por complicações de uma pneumonia. Filha da poetisa Cecília Meirelles e do artista plástico Fernando Correia Dias, a artista dedicou-se especialmente ao teatro, mas também deixou sua marca na TV.
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Maria era considerada uma das primeiras atrizes modernas do país – tal qual Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes, Cleyde Yáconis e Cacilda Becker. Foi contemplada com o primeiro Molière de Melhor Atriz, por Blanche Dubois, de Um Bonde Chamado Desejo (1963).
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O chamado da televisão
Nos anos 1950, Maria Fernanda atuou em teleteatros. A estreia em novelas se deu com João da Silva (1973), produção educativa da TVE – hoje TV Brasil. Antes, ela recusou o convite para Irmãos Coragem (1970), clássico de Janete Clair que agregou a audiência masculina ao gênero.
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Em 1975, Maria não resistiu ao convite de Walter Avancini para Gabriela. Com ele, fez outras três tramas do extinto horário das dez: O Grito (1975), Nina (1977) e a censurada Despedida de Casado. Também Pai Herói (1979), que Janete desenvolveu para a faixa das oito.
“Ele era uma pessoa fascinante. De repente, me catou para fazer ‘Gabriela’, como Dona Sinhazinha. Só aceitei porque foi um convite feito por ele”, declarou a atriz ao jornal O Globo (30/06/2002).
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Vítimas de machismo na telinha
Na Band, Maria Fernanda participou de Dulcinéa Vai à Guerra (1980), estrelada por Dercy Gonçalves. Já na Cultura, integrou o time do especial O Tronco do Ipê (1982). Em 1986, outro grande sucesso: Dona Beija, da Manchete – onde também atuou em Mania de Querer (1986) e Olho por Olho (1988).
As personagens de Maria na TV foram, em sua maioria, mulheres atormentadas pelo machismo. Sinhazinha, de Gabriela, foi assassinada pelo marido Jesuíno (Francisco Dantas) após a descoberta do caso dela com Osmundo (João Paulo Adour). Mafalda, de O Grito, era elitista tal qual o esposo, de quem morria de ciúme.
Em Pai Herói, Gilda Baldaracci desprezava o filho André (Tony Ramos), fruto de um relacionamento anterior, para não afrontar o atual companheiro, Bruno (Paulo Autran). Por fim, a moralista Cecília, de Dona Beija, que tinha aversão ao romance do herdeiro Antônio (Paulo Gracindo) com a cafetina Beija (Maitê Proença).
Os últimos anos
A artista distanciou-se da TV nos anos 1980, mas seguiu em atividade no teatro e no cinema. Maria Fernanda esteve, inclusive, no longa-metragem que marcou a retomada da produção nacional com a rainha D. Maria I, de Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995) – com direção de Carla Camurati.
Os últimos trabalhos de Maria nos palcos e nos filmes foram há 15 anos. Ela deixou um filho, Luiz Heitor, do relacionamento com o diretor de TV Luiz Gallon.
Cabe salientar também a luta de Maria Fernanda contra a ditadura militar. Presa por conta de uma montagem de Um Bonde Chamado Desejo em Brasília, ela mobilizou a classe artística, que promoveu uma greve de 72 horas em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O manifesto culminou com a célebre Passeata da Cultura contra a Censura, que reuniu profissionais do meio na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro.