Mister Brau não tinha mais história para contar

19/06/2018 às 10h00

Por: Sergio Santos
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A série escrita por Jorge Furtado tinha a difícil missão de substituir o sucesso Tapas & Beijos, que ficou no ar por cinco anos. Mas Mister Brau, dirigida por Maurício Farias, conseguiu manter os índices de audiência da faixa, presenteando o público com um texto repleto de bom humor e crítica social. A história de um casal de astros que sai de Madureira e se muda para um condomínio de luxo da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, rendeu ótimos momentos e a série ainda merece reconhecimento por ter colocado dois negros como protagonistas, principalmente em meio ao polêmico elenco de Segundo Sol, repleto de brancos em uma trama que se passa na Bahia.

Lázaro Ramos e Taís Araújo emprestaram o carisma deles para os personagens, honrando o protagonismo e sendo valorizados como merecem. A primeira temporada, exibida em 2015, esteve focada no preconceito dos vizinhos com os ‘suburbanos’ que subiram de vida, rendendo muitos conflitos hilários, mas também cheios de mensagens indiretas no texto a respeito de intolerância e racismo. Andreia (Fernanda de Freitas) era a maior representante do ódio ao casal, sempre brigando com o marido (Henrique – George Sauma), que ironicamente virou advogado de Brau, participando ativamente dos contratos de shows e afins.

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O êxito da série implicou na segunda temporada, em 2016, mantendo o foco nas trapalhadas protagonizadas por Brau e Michele, agora mais próximos dos vizinhos e precisando lidar com as consequências do sucesso. Outros personagens já presentes no enredo ganharam mais destaque, como Lima (Luís Miranda), Gomes (Kiko Mascarenhas) e a empregada Catarina (Cláudia Missura).
Porém, na reta final mostrou poucas possibilidades para uma continuação, sem evitar maiores desgastes. As situações estavam se repetindo e as tiradas não eram mais tão divertidas quanto antes. Ainda assim, a terceira temporada foi assegurada.

Em 2017, com o intuito de proporcionar novos desdobramentos, Mr. Brau e Michele adotaram três crianças: Egídio (Leonardo Lima), Lia (Brunna Oliveira) e Carlito (Sérgio Rufino). Houve até um crossover com a novela Rock Story, através do encontro de Brau e Michele com Gui Santiago (Vladimir Brichta), no enredo de Maria Helena Nascimento, com o intuito de divulgar o terceiro ano da série. Mas, infelizmente, todos os esforços não conseguiram evitar a mesmice das situações. Curiosamente, a participação de Fernanda Montenegro vivendo Dona Rosita, a intrometida mãe de Gomes, é que despertou uma maior atenção, mesmo tendo participado de poucos episódios. Todavia, a Globo ainda quis outra temporada e, em 2018, estreou a quarta.

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Novamente, é preciso elogiar a tentativa de Jorge Furtado de renovar a trama, mesmo com poucas possibilidades para tal. A saída do roteirista foi colocar Michele como foco central, deixando Brau mais de lado, explorando uma certa decadência do cantor e a ascensão de sua esposa, que passou a cantar lindamente, fazendo inúmeros shows. Até mesmo a abertura mudou, cedendo espaço para a matriarca da família, que passou a dividir os vocais com o marido na música-tema. A ideia se mostrou válida, mas na prática acabou não funcionando. Simplesmente porque não há como criar outras situações que já não foram apresentadas antes.

A mudança acabou sendo apenas no protagonismo, afinal, os conflitos eram os mesmos de sempre e os instantes cômicos não surtiam mais efeito. Até mesmo os perfis secundários cansaram, como Andreia, Henrique e Gomes. Nem mesmo a entrada de Cacau Protásio e Lellêzinha no elenco provocou alguma melhora. E foi um erro trazerem de volta Priscila, personagem feminina de Lázaro em Sexo Frágil, série de Luis Fernando Veríssimo, adaptada por Guel Arraes. O seriado de 2004 era uma bobagem só e não tinha a menor graça. A caricata mulher serviu apenas para ser a nova namorada de Gomes, rendendo momentos constrangedores.

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Mister Brau foi uma boa série, mas deveria ter fechado seu ciclo na segunda temporada. É difícil um seriado cômico voltado para um único tema ter fôlego para muitos anos. Poucos conseguiram se manter um longo tempo sem apresentar sinais de esgotamento. O próprio Tapas & Beijos sofreu desse mal antes de sair do ar e nem A Grande Família escapou da limitação do enredo, apesar dos 13 anos de duração. Infelizmente, a produção não conseguiu evitar o desgaste e ainda bem que resolveram encerrá-la na quarta temporada. O casal Brau não tinha mais história para contar.


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