A quarta temporada de Mister Brau – e provavelmente última, segundo as especulações – estreou invertendo a lógica. Na tentativa de dar um gás para uma série que andava desinteressante em suas duas últimas edições, os roteiristas liderados por Jorge Furtado decidiram trocar o foco do protagonismo. Agora, é Michele (Taís Araújo) quem domina o enredo, enquanto Brau (Lázaro Ramos) amarga o ostracismo e tenta se reinventar artisticamente. A julgar pelos primeiros episódios, a atual leva confirma o que as outras já mostravam: ela é a melhor personagem da série.

Após anos como dançarina e empresária do astro, Michele se tornou uma diva internacional de muito sucesso (uma espécie de Beyoncé dos trópicos), lotando shows mundo afora e despertando o interesse até mesmo de nomes internacionais, como Shakira. A ideia dos autores, desta vez, é abordar o empoderamento feminino através das conquistas de Michele e da insegurança de Brau ao se ver como coadjuvante da própria esposa. Ao mesmo tempo, o cantor – que em um dos shows aparece como percussionista da estrela – busca o resgate de sua veia artística, surfando em várias ondas e até mesmo passando um tempo em Madureira, onde nasceu e se criou.

Os dois episódios exibidos até agora (e disponibilizados no GloboPlay uma semana antes da veiculação na TV) mostraram uma visível acentuação da discrepância entre as personalidades. Brau, naturalmente deslumbrado, aqui por vezes chega a soar boboca e infantilizado, o que em vez de enriquecer o conjunto, o torna cansativo. Some-se a isso a interpretação de Lázaro Ramos, que frequentemente esbarra no caricato exagerado, tons acima do que normalmente o personagem apresenta (embora ele se saia bem em alguns momentos).

Em compensação, os novos rumos de Michele comprovam uma importante característica já mostrada nas outras temporadas. A essência madura e centrada da popstar, aliada a doses de sensualidade e humor, faz dela o melhor perfil de Mister Brau, com certa vantagem sobre os demais. E Taís Araújo, em brilhante composição, aproveita todos os momentos oferecidos pelo roteiro com uma impressionante versatilidade, arriscando-se também na dança e no canto – algo que já havia mostrado anteriormente em Cheias de Charme (2012), onde viveu a Penha, uma das inesquecíveis Empreguetes, ao lado de Rosário (Leandra Leal) e Cida (Isabelle Drummond).

Afastada das novelas desde a malfadada Geração Brasil (2014-15), Taís vem de uma trajetória de sucesso que ainda apresentou tipos como a escrava Xica da Silva, a novela homônima da Manchete (1996-97), a mocinha Preta de Da Cor do Pecado (2004) e a esnobe Ellen de Cobras e Lagartos (2006), sua primeira parceria com Lázaro, que foi aclamada pelo público da época. Mesmo com personagens que não fizeram jus ao seu talento, como a Helena da fracassada Viver a Vida (2009-10) e a Verônica de Geração, a atriz construiu uma sólida trajetória e tem agora a chance de se destacar ainda mais.

Aqui também é justo um elogio para outros bons nomes do elenco, como Fernanda de Freitas – excelente na pele da invejosa Andreia (agora investigada por corrupção e tendo que morar de favor na casa do casal Brau); Kiko Mascarenhas – ótimo como Gomes, secretário pessoal de Michele; Luís Miranda – que vive o compositor Lima, grande amigo de Brau; e Cláudia Missura – que está muito bem interpretando Catarina, empregada de Andreia.

No entanto, a cada episódio do seriado, é visível que Michele é mesmo o perfil mais atraente e mais rico do enredo. Aliás, é de se perguntar por que só agora os autores propuseram inverter o protagonismo – algo que também se estende para a abertura, na qual Taís aparece pela primeira vez ao lado de Lázaro. Se há um fator que consegue atrair atenção em Mister Brau, é justamente a cantora. Ainda mais agora que é ela quem está no controle da situação.


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