Zamenza

O término do BBB 20 deixou o público com um vazio grande. Afinal, a décima edição do Big Brother Brasil fez sucesso e foi a companhia dos telespectadores que estão em quarentena por conta da pandemia do coronavírus. O reality era um dos poucos formatos inéditos em meio ao mar de reprises que ocorrem no mundo do entretenimento por conta da necessária interrupção das gravações.

E após uma fraca primeira temporada, o Mestre do Sabor estreou para tentar suprir um pouco essa ”carência” da audiência por novidades. Isso porque as gravações foram finalizadas antes da pandemia. O problema é que não tem como se interessar pelo tipo de formato da disputa.

Apresentado pelo querido chef Claude Troisgros e seu inseparável amigo Batista, o programa conta com José Avillez, Kátia Barbosa e Leo Paixão como jurados. Os três são renomados chefs, donos de restaurantes, e também figuras conhecidas do público em virtude de muitas participações em atrações da Globo, como o Mais Você, É de Casa, entre outros.

Mestre do Sabor

Ao contrário da concorrência, todavia, não há comentários mais pesados ou análises muito rígidas. Sem o jurado carrasco, o que é decepcionante. Afinal, um dos maiores chamarizes desse tipo de formato é o ‘sincericídio’ dos avaliadores. Tudo parece sempre perfeito ou quase.

A fórmula do programa é da própria Globo, portanto, não foi comprado de fora — todos os derivados das demais emissoras são conteúdos prontos. Ainda assim, é perceptível a ”inspiração” nas regras do The Voice Brasil, reality musical exibido desde 2012 pela líder — e esse, sim, um formato do exterior.

A primeira fase (chamada de Prato de Entrada) é uma espécie de audições às cegas, onde o trio avalia o prato sem identificar o cozinheiro. Quando dois ou todos aprovam a iguaria, a pessoa precisa escolher para qual time vai. Isso porque cada chef tem uma equipe para chamar de sua. Chefs profissionais de todo o Brasil disputam 24 vagas.

Claude Troisgros e Batista em Mestre do Sabor

A segunda fase tem o nome de Na Pressão. Cada time vai cozinhar um menu completo, com orientação de seu mestre. Quem avalia os pratos é o apresentador. O grupo que tiver o melhor menu ganha imunidade. Os outros dois times passam para a próxima parte da disputa, na qual cada participante cozinhará individualmente. Os mestres, então, avaliam cada prato e escolhem duas pessoas para deixar a disputa. A terceira fase é a de Duelos. Definida em mata-mata entre os participantes, por escolha dos cozinheiros.

Na Balança é a quarta fase. Os chefs cozinham um prato e os jurados elegem, cada um, seu preferido. Os escolhidos já se classificam para a semifinal. Os participantes restantes preparam outro prato. Novamente, os jurados elegem três preferidos, que também passam para a próxima fase. A semifinal tem apenas seis participantes. Na primeira etapa, os chefs cozinham e voltam a ser avaliados por Claude, que escolhe dois para a grande final. Os quatro cozinheiros que restam preparam novos pratos, desta vez para os mestres. Os três jurados definem os outros dois competidores, que também disputam a final. O campeão leva R$ 250 mil.

A questão é que nada funciona. Todo esse formato criado cansa rapidamente e não há emoção alguma nas disputas. O telespectador não tem tempo de se afeiçoar por qualquer candidato porque todos aparecem superficialmente e fica difícil até identificar as personalidades. As provas, em sua maioria, são realizadas com a ajuda dos jurados e eles nunca perdem a paciência. Até porque nem há como perder. Os candidatos são oriundos de restaurantes profissionais e raramente cometem falhas graves. É tudo muito perfeitinho. O eliminado acaba saindo por algo muito sutil e sempre coberto de elogios. As críticas feitas costumam ser tão bobas que parecem colocadas apenas para forçar uma imagem de jurados “rígidos”. Vale um comparativo com o Masterchef Profissionais, na Band, porque mesmo com candidatos experientes, há uma pressão muito maior nas provas, o que resulta em inevitáveis tropeços que resultam em uma tensão convidativa. O programa da Globo parece que usa uma fórmula fria. Sem intensidade.

E a presença da talentosa Monique Alfradique nada acrescentou. A atriz foi selecionada por conta das críticas feitas na primeira temporada sobre a dificuldade de entendimento das falas de Claude. Porém, o chef francês segue como “apresentador principal” e Monique explica as provas em raros momentos. Ela mal aparece. Vale mencionar também um detalhe: todos os pratos são de alta gastronomia. Pratos que a maioria dos brasileiros desconhece, o que afasta ainda mais a identificação com o programa. Há um ar de luxuosidade presente a todo momento. Algo até meio pedante. E uma das provas que o equívoco está no formato e não na seleção do júri foi a troca de um dos jurados no meio da temporada. José Avillez precisou voltar a Portugal por causa da pandemia e acabou substituído por Rafa Costa e Silva. Nada mudou.

O Mestre do Sabor tinha tudo para ser um ótimo reality gastronômico, mas fracassa em todos os aspectos. É um programa chato, desinteressante e não envolve quem assiste. A emoção é zero. O formato do Superchef Celebridades, quadro anual do Mais Você, comandado por Ana Maria Braga, é um bom exemplo de competição atrativa realizada na Globo. Ou seja, a emissora sabe fazer algo tão interessante quanto o aclamado Masterchef BR. Mas definitivamente não é o exibido às quintas-feiras. O vazio deixado pelo BBB 20 segue intacto.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

Compartilhar.
Avatar photo

Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor