Nilson Xavier

O Brasil acordou mais triste nessa sexta-feira (5). Todos os clichês e lugares comuns para se referir a Jô Soares estão liberados e terão sido poucos. “Ícone do humor“, “referência” e “gênio” precisam ser repetidos. É verdadeiro e genuíno.

Jô Soares

Em mais de 50 anos, Jô encheu a tela da televisão com seu carisma, inteligência e simpatia. Sua morte pegou a todos de surpresa. Não sextamos.

Infelizmente, Jô Soares parte em um momento triste, em que o próprio Brasil está debilitado, carecendo de seus artistas mais queridos.

Humor ácido

Renato Corte Real e Jô Soares em Faça humor, não faça guerra

Em sua obra, Jô explorou o humor em toda sua magnitude, do fino e sutil ao escrachado e popular – em filmes e na Família Trapo, programas de humor e talk-shows, nas peças, em que atuou ou dirigiu, e nos livros e crônicas em jornais e revistas.

A crítica de costumes nunca deixou de ser um propósito do artista. A política e a hipocrisia da sociedade estiveram em seu radar por todo o seu trabalho, em personagens como o Reizinho e Alice (do Brasil, “o país das maravilhas“), e em textos e livros, à vezes nas entrelinhas, outras com alvo certo.

Sylvia Bandeira e Jô Soares

Nem as entrevistas escapavam. Quando preciso, Jô alfinetava seus entrevistados. Ou nunca deixava de se posicionar – lembra quando saiu da Globo, em 1987, e rompeu com Boni?

Porém, com aquela elegância que lhe era tão peculiar. Talvez por isso fosse tão respeitado. Mesmo sendo ácido ou debochado, Jô fazia o alvo de sua crítica rir largamente com a plateia. Quem consegue isso?

Amado pelo Brasil

Lolita Rodrigues

Cresci me deliciando com tipos como Zé da Galera, Bô Francineide (“E dizer que eu saí de dentro dela“), Irmão Carmelo (“Casa, separa, casa, separa… não caso!“), o marido do quadro “Marilza, eu tô aqui!”, Gardelon (“Muuuuuy amigo!“), Piloto (“Ihhh, falha nossa!“), o dentista tarado (“Bocão!“), Capitão Gay, Dorival (“Tem pai que é cego!“), Zezinho, o telespectador que reclamava no fim do programa, e outros.

Até hoje, o vídeo da entrevista de Hebe, Lolita Rodrigues e Nair Bello no Programa do Jô é um antídoto contra tristeza, depressão ou baixo astral. Tá chateado? Assista!

Eu tive a sorte de acompanhar a gravação de um Programa do Jô (com Cláudia Abreu e Tatá Werneck), já na fase final da atração. Mesmo um tanto debilitado, e em um ambiente profissional, Jô era uma presença luminosa, com seu sorriso acolhedor e domínio de palco impressionante. Gravou direto, sem cortes.

Mesmo há alguns anos ausente da mídia, Jô estava presente, nos vídeos na internet, em seus escritos e em nossa memória. E assim continuará, já que é um “ícone” de nossa televisão e uma “referência” de humor. Um “gênio”.

Compartilhar.
Avatar photo

Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor