Melhor novela de Manoel Carlos estreava há 25 anos na Globo

Manoel Carlos

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Não quero causar celeuma, briga, unfollow ou cancelamento. Mas sinta-se confortável para discordar e seus argumentos serão aceitos, porque serão subjetivos tanto quanto são os meus.

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Manoel Carlos é conhecido como o cronista da classe média-alta carioca. E por que suas novelas eram tão apaixonantes, se fugiam da realidade da grande maioria dos telespectadores? Porque apesar da estampa idealizada e glamourizada, os personagens e seus dramas eram reais, muito críveis. Não falo das situações (mãe e filha darem à luz no mesmo dia e horário, por exemplo), mas das emoções causadas pelos dramas que esses personagens viviam.

A melhor fase de Maneco – e, acho, isso é consenso – é a que vai de 1995 a 2003, compreendendo quatro novelas: História de Amor, Por Amor, Laços de Família e Mulheres Apaixonadas. Todas com direção de núcleo de Ricardo Waddington, o diretor que melhor traduziu em imagens as cenas e falas do autor.

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Vamos deixar de fora História de Amor (novela que eu adoro) por ser do horário das seis (diferente das demais, das oito/nove) e por não estar em evidência – Por Amor e Laços de Família passaram recentemente no Vale a Pena Ver de Novo e Mulheres Apaixonadas, no Viva.

Destas três, minha preferida será sempre Por Amor, que estreava há exatamente 25 anos, em 13 de outubro de 1997. Preciso deixar claro que essa é uma opinião bem pessoal e tampouco desmerece as demais novelas. Mas, se você me perguntar qual das três tenho mais apreço, respondo esta sem pestanejar.

Caldeirão de temas

Mulheres Apaixonadas é ótima pelo caldeirão de temas muito bem explorados. Nunca um novelista foi tão feliz ao desenvolver uma novela em que o protagonismo se revezava quando histórias diferentes ganhavam destaque.

Há uma narrativa seriada nessa carpintaria. Maneco segura bem, mantendo o interesse do público.

Ao meu ver, este foi o grande trunfo e a melhor qualidade de Mulheres Apaixonadas. Porém… uma Helena (Christiane Torloni) sem a força dramática das vividas por Regina Duarte e Vera Fischer. Para supri-la, as coadjuvantes ganharam destaque, revezando-se de tempos em tempos. Esta é uma saída muito engenhosa, por sinal. Mas… no frigir, prefiro as outras.

Ótima novela

Laços de Família marcou a passagem do ano de 2000 para 2001. Vera Fischer estava ótima; Íris é icônica; Capitu, sofremos juntos; Marieta Severo, que atriz! Contudo, acho que foi a partir desta novela que Maneco começou a achar que só os ricos importavam ao transformar os empregados em escravos bajuladores de seus patrões.

Adoro Thalma de Freitas, mas sua Zilda (“Ó Dóna Hélena!”) – brilhantemente satirizada por Hélio de La Peña no Casseta & Planeta – já escancara as abordagens do autor hoje vistas como abomináveis. Teve ainda o machismo de Pedro (José Mayer) e o assédio de Danilo (Alexandre Borges) – que custou a morte da empregada assediada e grávida, enquanto o assediador terminava por cima, pronto para novas presas.

E ainda por cima uma barriga, não da empregada Rita (Juliana Paes) grávida, mas da novela. O bom do Vale a Pena é que dá para editar muita coisa. Mas ratifico: ótima novela!

Por Amor também teve barriga, depois da segunda metade (aquela condenação de Nando não acabava nunca!), só que menos protuberante que a de Laços. A impressão é que Maneco deixou transparecer cansaço durante a barriga de Laços de Família.

Unidade da trama

Sinto em Por Amor uma unidade maior da trama e de sua condução. Os personagens se entrelaçam mais harmonicamente que nas duas novelas seguintes. Maneco também está com um texto mais afiado, principalmente ao conduzir personagens como Branca, Isabel e Milena. Claro que não há a poesia das falas de Miguel (Tony Ramos) de Laços, ou a ebulição de temas de Mulheres Apaixonadas.  Mas percebe que esses itens ofuscam a unidade que Por Amor garante?

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Nem vou citar personagens icônicos, porque todas têm. E merchandising social e os irresistíveis “white people problems”, comuns à toda obra do autor. Talvez Por Amor faça parte de um momento mais especial para mim – chamamos de memória afetiva e você também deve levar em consideração ao construir seus argumentos.

Fui convincente em minha defesa de Por Amor? A intenção não é fazer ninguém mudar de ideia. Sinta-se livre para contra-argumentar. Qual a sua preferida e por quê?

PS: Sabia que a sinopse de Por Amor existia desde 1983, época em que Manoel Carlos escrevia a novela Sol de Verão?

A sinopse ficou engavetada, Maneco desligou-se da Globo e retornou em 1991. A Globo pediu que desenvolvesse Por Amor para a faixa das seis, mas o autor alegou que esta seria uma história para o horário das oito. Escreveu então Felicidade.

Em 1995, de novo escalado para as seis horas, Maneco foi novamente sondado sobre Por Amor e novamente bateu o pé. Escreveu História de Amor. Em 1997, agora no horário das oito, o autor pode finalmente levar adiante o projeto de Por Amor.

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