Melhor novela de Glória Perez comprovou maior defeito da autora

Debora Falabella em A Força do Querer

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A Força do Querer, exibida originalmente em 2017, teve várias qualidades e fez por merecer todo o sucesso, honrando a ótima audiência alcançada. Porém, a novela de Glória Perez também teve alguns problemas claramente visíveis. A passagem de tempo de um ano, por exemplo, foi inútil e só prejudicou a verossimilhança de alguns contextos.

Também existiram alguns personagens avulsos, embora o elenco fosse enxuto. E um outro equívoco que ficou bem evidente na edição especial exibida pela Globo foi a falta de relevância de Irene (Débora Falabella).

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Vendida como a grande vilã da história, a personagem parecia promissora. Interesseira, manipuladora e ardilosa, a arquiteta selecionava vítimas para seduzir e depois roubar tudo o que elas têm. É assim que enriqueceu.

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Seu objetivo era conquistar Eugênio (Dan Stulbach), precisando primeiro virar melhor amiga de Joyce (Maria Fernanda Cândido) para elaborar seu plano perfeito.

Suas armações sempre contavam com a ajuda de Mira (Maria Clara Spinelli), uma cúmplice medrosa. Todo o início desse plano foi interessante de acompanhar. Todavia, o contexto acabou se arrastando e perdendo o fôlego.

É importante citar, aliás, que a situação é muito parecida com a protagonizada por Yvone (Letícia Sabatella), Silvia (Débora Bloch) e Raul Cadore (Alexandre Borges), em Caminho das Índias (2009), da mesma autora.

Esse núcleo da outra novela, por sinal, era muito cansativo e não funcionou. Glória não conseguiu conduzir esse drama de forma atrativa. Por isso mesmo havia uma desconfiança em torno da jornada de Irene.

Seria tão insossa quanto a da psicopata Yvone? Bem, isso não foi. Desta vez, pelo menos, a condução se mostrou melhor realizada e bem mais convidativa, muito em função da densidade dos perfis. E Débora estava perfeita no papel, ao contrário de Letícia, que se mostrou apática na época.

Surra no banheiro

Os dramas pessoais de Joyce, como a dificuldade em lidar com Ivana (Carol Duarte), por exemplo, também ajudaram a despertar interesse em torno da sua reação diante da traição da suposta melhor amiga.

E o aguardado momento resultou em uma ótima cena protagonizada por Maria Fernanda Cândido e Débora Falabella, implicando ainda no clichê da surra no banheiro. Nesse caso, por sinal, a responsável pelos tabefes foi Ritinha (Isis Valverde) – Joyce deu sapatadas na mau-caráter. Depois dessa boa sequência, havia a expectativa em torno do que aconteceria com a arquiteta.

Afinal, Eugênio até voltou com a esposa, após um tempo. A personagem, então, começaria a atuar em todos os núcleos, como a autora havia prometido antes da novela estrear? Se vingaria? Mataria?

Infelizmente, o resultado acabou sendo um banho de água fria. Irene simplesmente foi ficando cada vez mais avulsa no enredo e, como se apaixonou por Eugênio, resolveu armar para tê-lo de volta. Seu grande plano? Ficar provocando Joyce mandando fotos dela com o advogado e um golpe da barriga.

Ou seja, após a surra, a situação acabou voltando à estaca zero. É como se o telespectador estivesse assistindo a uma espécie de reprise.

Novos personagens

Até mesmo a entrada de Garcia (Othon Bastos) e Elvira (Betty Faria), ao contrário do que se esperava, não contribuiu para o desenvolvimento da vilã. Só serviu mesmo para o público ver um flashback de Irene com uma peruca loira, envenenando o marido de Elvira para ficar com a fortuna do ricaço.

Por sinal, esses dois perfis acabaram deixando a situação da arquiteta bem inverossímil. Isso porque, intimidada com a chegada da dupla, a amiga de Mira fez de tudo para fugir do alcance deles.

Só que Irene fez questão de dar um susto em Elvira, invadindo a casa da Bibi (Juliana Paes), onde a perua estava, provocando uma falta de luz e atirando na inimiga. Mas, se o intuito era mostrar do que era capaz, qual o sentido em esconder a identidade?

A esposa de Garcia logo deduziu que era a Solange (nome verdadeiro da víbora), mas poderia muito bem ser algum traficante inimigo de Rubinho (Emílio Dantas), por exemplo. E ela caiu na armadilha de Elvira, que a atraiu para um esconderijo de Sabiá (Jonathan Azevedo), com a intenção de exigir a sua fortuna de volta. Em virtude da emboscada, ela sofre um aborto em meio a um tiroteio.

É uma pena que Irene tenha se perdido no enredo, após um início promissor. De grande vilã a arquiteta não tem nada, lamentavelmente. Até mesmo as ‘vilanias’ momentâneas de Bibi e Ritinha tiveram mais efeito do que as dela.

Novelas anteriores

Mas é preciso lembrar que Gloria não é boa em criar malvadas. Além da já citada Yvone, vale mencionar algumas outras, como a esnobe May (Camila Morgado), de América (2005).

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Foi mais uma personagem que acabou avulsa e apagada no enredo, tendo como única função separar a chata Sol (Deborah Secco) de Ed (Caco Ciocler).

E o que dizer de Lívia Marine (Cláudia Raia) em Salve Jorge (2013)? A vilã que traficava mulheres e vivia com uma seringa em sua bolsa, para matar os inimigos, parecia oriunda de algum programa humorístico que satirizava folhetins. Não por acaso acabou sendo alvo de deboche. Cláudia também não estava à vontade no papel, mergulhando na caricatura.

Alicinha (Cristiana Oliveira, ótima), a mulher manipuladora e ambiciosa de O Clone (2001), foi um pouco melhor comparada com as demais; porém, ainda assim, não marcou.

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A Força do Querer foi uma excelente novela e Glória Perez merece todos os elogios que colheu. Todavia, a autora deixou bastante a desejar com a vilania de Irene.

Débora Falabella estava maravilhosa no papel e merecia bem mais oportunidades na história para poder brilhar ainda mais.

Tinha tudo para ser um tipo marcante em sua carreira, pois foi a sua primeira vilã dramática – a impagável Beatriz, de Escrito nas Estrelas (2010), era uma malvada cômica. Mas, lamentavelmente, não foi dessa vez. O objetivo do papel acabou diluído.

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