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Um clássico da década de 1980 estreava há exatamente 38 anos: Vereda Tropical, novela de Carlos Lombardi, escrita por ele e Silvio de Abreu, dirigida por Jorge Fernando e Guel Arraes, originalmente exibida entre 23 de julho de 1984 e 1º de fevereiro de 1985, com uma única reprise, no Vale a Pena Ver de Novo, em 1987. A trama entrou no Globoplay em setembro do ano passado.
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Muitos foram os destaques no elenco: Lucélia Santos, Mário Gomes, Maria Zilda, Marieta Severo, Walmor Chagas, Geórgia Gomide, Marcos Frota (como o impagável Super Téo) e o então garoto Jonas Torres (com nove anos quando a novela estreou).
Abaixo, listo 10 curiosidades sobre esse sucesso ansiado por uma legião de noveleiros saudosistas (eu incluso).
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Parceria ente autores
Foi a primeira novela solo de Carlos Lombardi na Globo, que a escreveu com a supervisão de Silvio de Abreu, de quem havia sido colaborador em Jogo da Vida (1981-1982) e Guerra dos Sexos (1983).
Sobre a parceria, Carlos Lombardi narrou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo:
“Falei que não aguentaria fazer uma novela sozinho e estabelecemos que o Silvio de Abreu seria meu supervisor. Eu não estava pronto para encarar uma novela sozinho, de maneira nenhuma. (…) O trabalho de supervisão do Silvio era diário. Primeiro, ele botou ordem na minha sinopse. Disse o que era bom e o que era ruim, além de indicar possibilidades para os personagens. Foi um trabalho didático”.
Segundo Silvio de Abreu, muito do sucesso da novela também se deve à dupla de diretores Jorge Fernando e Guel Arraes, que já havia dirigido Jogo da Vida e Guerra dos Sexos, ambas novelas de sua autoria.
Novela quase não estreia
A Censura Federal implicou com a novela e, três dias antes da estreia, uma sexta-feira à noite, Vereda Tropical foi proibida de ir ao ar sob a alegação de que não era apropriada para o horário das 19 horas. Os censores haviam indicado 32 cortes no primeiro capítulo.
Na segunda-feira pela manhã (dia da estreia, 23/07/1984), Silvio de Abreu e Carlos Lombardi, acompanhados por dois representantes da TV Globo, desembarcaram em Brasília para conversar com os censores. Após muita negociação, a novela foi liberada.
Música censurada
A música “De Repente” – creditada no disco da novela pelo seu subtítulo “Fazer Neném” – foi censurada pelo Governo Federal, de acordo com o informado na capa do LP nacional – “Radiodifusão e execução pública proibidas em virtude da música ter sido vetada pelo Departamento de Diversões Públicas” – por causa do verso “Fazer aquilo tudo e até neném”.
Guilherme Arantes, o compositor e intérprete, desabafou para o livro “Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”:
“Uma bobagem, porque eu estava tendo filhos e fiz aquilo para minha mulher. Mas é que tinha, vamos dizer, sons de sexo explícito dentro da música. Ela era provocativa”.
Invasão em jogo real
No último capítulo, o jogador de futebol Luca (Mário Gomes), finalmente contratado pelo Corinthians, estreia no lotado estádio do Morumbi, em São Paulo. A gravação foi um acontecimento memorável: o personagem chegou de helicóptero ao gramado antes do jogo (real) em que o Corinthians enfrentava o Vasco da Gama. Quando o centroavante Serginho marcou o seu segundo gol, o ator Mário Gomes invadiu o campo vestindo o uniforme do clube e comemorou abraçando o atacante.
O juiz da partida, José Assis de Aragão, diante do fato inesperado, teve um momento de indecisão, mas expulsou o ator do gramado. O caso irritou os dirigentes da Confederação Brasileira dos Árbitros, que suspeitaram que o juiz tinha favorecido a entrada do ator. A Rede Globo inocentou Aragão, declarando que tudo havia sido improvisado.
A partida entre Corinthians e Vasco, valendo pelo Campeonato Brasileiro, que abrigou as gravações, aconteceu em 27/01/1985 (domingo), e as cenas foram exibidas na sexta-feira, dia 1º de fevereiro, da mesma semana. O gol de Luca teve a narração de Osmar Santos.
O jogo terminou empatado em 2 a 2 e os 40 mil torcedores protestaram contra o mau desempenho de seus jogadores pedindo a entrada em campo de Mário Gomes, gritando “Luca! Luca! Luca!”.
Ator-cantor
Foi o melhor momento na carreira de Mário Gomes, excelente como o jogador Luca, um tipo meio bobalhão, divertido, esquentado e amoroso – com resquícios de seu trabalho anterior, o Nando de Guerra dos Sexos, mas agora como protagonista.
Aproveitando sua cancha de cantor, Mário Gomes gravou a música “O Dono da Bola”, que entrou para a trilha da novela, tema de seu personagem. Não foi a primeira vez: em 1976, o ator gravou “Chiclete e Cabochard” para seu personagem Dino César, um aspirante a cantor, na novela Duas Vidas, de Janete Clair.
Longe das novelas, o ator virou vendedor ambulante nas praias do Rio de Janeiro.
Perfume real
Na trama da novela, o personagem Oliva (Walmor Chagas) era dono da CPP, uma fábrica de perfumes, cujo carro-chefe era o popular “Vereda Tropical”.
O perfume da trama saltou da ficção para a realidade: o fabricante Davene lançou no mercado um perfume com o nome da novela, com sucesso entre o público feminino.
Abertura
Os desenhos da animação da abertura eram da artista gráfica Sylvia Trenker, que foi mulher do designer Hans Donner. Trenker já havia criado várias vinhetas para a Globo, como os famosos logotipos das novelas Locomotivas e Nina, em 1977.
A música da abertura dava título à novela: “Vereda Tropical”, um bolero composto em 1936 pelo mexicano Gonzalo Curiel, gravada por Ney Matogrosso especialmente para a produção.
Citações a outras novelas
Silvio de Abreu, como de hábito em sua obra, cita outras novelas e personagens de sua autoria, ou referencia obras de colegas. Em Vereda Tropical, quando Jamil (Gianfrancesco Guarnieri) cogita com Theda Bara (Vic Militello) sobre a identidade do homem misterioso que lhe manda cartas de amor, ela questiona-se se será o açougueiro ou o verdureiro. No meio da conversa, eles lembram-se de falar no padeiro, o Seu Vieira (personagem de Gianfrancesco em Jogo da Vida).
Jamil pergunta então a Theda como vai a mulher de Vieira e ela responde que Jordana mudou de nome, agora se chama Roberta e é casada com um barbudo que tem idade para ser filho dela. No caso, Jordana era Glória Menezes em Jogo da Vida, e Roberta, a própria Glória na novela seguinte de Silvio, Guerra dos Sexos. O barbudo em questão era Nando, personagem de Mário Gomes em Guerra dos Sexos.
Estreias
Estreia em novelas de Jonas Torres, Luiz Fernando Guimarães, Regina Casé e Catarina Abdalla. Primeira novela na Globo de Geórgia Gomide.
Primeira aparição de Maurício Mattar na televisão, em uma participação no último capítulo. Primeira das duas únicas novelas de Matilde Mastrangi, mais conhecida na época como atriz das pornochanchadas do cinema nacional (a outra novela foi Cortina de Vidro, do SBT, em 1989).
Prêmios
Vereda Tropical levou vários prêmios da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) pela edição de 1984: melhor novela, revelação masculina (Marcos Frota), texto (Carlos Lombardi e Silvio de Abreu), diretor (Jorge Fernando) e atriz (Geórgia Gomide).
Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela de 1984. Geórgia Gomide levou o prêmio de melhor atriz.
AQUI tem tudo sobre Vereda Tropical: a trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e outras curiosidades.