A atual novela das sete da Globo deu uma boa guinada com a volta de Afonso (Rômulo Estrela) ao trono de Montemor e, desde então, Deus Salve o Rei vem apresentando um bom ritmo, além de convidativos desdobramentos. A trama de Daniel Adjafre, dirigida por Fabrício Mamberti, deixou de andar em círculos e agora parece que finalmente engrenou de vez. A intervenção de Ricardo Linhares surtiu efeito positivo. Após as ótimas cenas da expulsão de Rodolfo (Johnny Massaro) do poder e do povo aclamando o novo rei, o enredo passou a focar na bruxaria e novamente empolgou.

A chegada da peste provocou algumas mortes – desligando Saulo (João Vitor Oliveira) e Martinho (Giulio Lopes) da novela – e amedrontou a população. Até mesmo Catarina (Bruna Marquezine) e Ulisses (Giovanne De Lorenze) pegaram a doença, embora tenham sobrevivido. É verdade que ficou inverossímil os sadios entrarem em contato com os doentes o tempo todo e não serem contaminados, mas essa situação funcionou como trampolim para o destaque das três bruxas da história: Brice (Bia Arantes), Selena (Marina Moschen) e Agnes (Mel Maia)

Ainda serviu para aumentar a rivalidade entre Amália (Marina Ruy Barbosa) e Catarina, uma vez que a vilã, mesmo doente, pediu para sua fiel escudeira Lucíola (Carolina Ferman) espalhar pelo reino que a mocinha tinha trazido a peste para Montemor.
O boato gerou uma boa tensão na trama e ainda proporcionou uma participação luxuosa: Stênio Garcia vivendo Dom Bartolomeu, o temido e assustador Inquisidor, chamado por Catarina para queimar sua rival na fogueira. O único ponto negativo foi a saída da ótima Rosa Maria Colin do elenco, após a sábia Mandigueira ter sido morta por populares.

Apesar desse desfalque em um elenco que já carece de atores veteranos, os conflitos prenderam o público, destacaram os intérpretes e movimentaram o folhetim. Até porque estava na hora de Amália protagonizar algum bom drama. A mocinha nunca teve um enredo próprio e era muito difícil torcer por ela depois que a mesma não se preocupou nem um pouco em ficar ao lado de Afonso, quando o então príncipe a convidou para morar no castelo como sua esposa. Seu egoísmo prejudicou a empatia que o telespectador deveria ter pela personagem. O mesmo valeu para a atitude de Afonso, abdicando do trono pelo seu amor, sem se preocupar com o seu reino. A volta do mocinho ao poder de forma heroica resolveu essa questão, mas ainda faltava solucionar o mau desenvolvimento de Amália. Ser vítima de um falso boato (e quase ser morta por isso) acabou funcionando.

Marina Ruy Barbosa demonstrou com competência o sofrimento da mocinha com as falsas acusações e se destacou quando Amália precisou enfrentar a ira do povo, que pedia a sua queimação na fogueira. Ainda protagonizou ótimas cenas com Stênio Garcia, irretocável na pele do Inquisidor. O ator tem feito muitas participações nos últimos anos – a última novela que contou com sua presença do início ao fim foi Salve Jorge, em 2012, e ainda assim era um perfil desimportante -, mas essa foi a sua melhor, sem dúvida. Vale destacar também os embates entre Dom Bartolomeu e Afonso, além, claro, da última cena, quando o vilão acabou assassinado por Brice, através do seu beijo mortal.

E, Brice, inclusive, finalmente teve o destaque que sempre mereceu. Entrando e saindo da novela ao longo dos meses, a personagem deveria ter sido um dos focos do enredo desde o início. Bia Arantes está muito bem na pele da bruxa que mescla vilania e traços de humanidade, protagonizando bons momentos ao lado de Mel Maia e Marina Moschen. A personagem cresceu com o enredo focado na bruxaria, implicando ainda em sequências bem realizadas envolvendo feitiços e poderes. O mergulho na fantasia melhorou bastante o roteiro e deveria ser mais explorado.

Mel é outro destaque vivendo a bruxinha Agnes, responsável pelo salvamento de Amália, após ter transmitido pela força do pensamento o salmo da bíblia que a mocinha deveria repetir para Dom Bartolomeu diante do povo. Marina é que merecia mais espaço, pois sua Selena é um dos tipos mais interessantes do roteiro. Ela defende o papel com talento e ainda forma um lindo par com Giovanne De Lorenze (Ulisses). Ao menos ganhou mais destaque em virtude dessa nova virada.

Após um período de altos e baixos, Deus Salve o Rei finalmente parece ter tomado um rumo e todos os desdobramentos em torno das bruxas de Montemor ajudaram a manter a atenção do público, mexendo no enredo de forma inteligente. Resta torcer apenas para que tipos tão atrativos como Brice, Selena e Agnes continuem em evidência e não percam importância com a conclusão desse contexto.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor