O principal produto da Band teria mais uma temporada, como de costume, iniciada em março. Mas a pandemia do novo coronavírus adiou os planos da emissora. E, como o reality gastronômico virou uma das principais fontes de renda do canal, cancelar a exibição em 2020 estava fora de questão. Tanto que a produção conseguiu lançar a sétima temporada do “MasterChef Brasil” em julho, no dia 14 (terça-feira passada), com uma nova reformulação para o atual e conturbado momento do país.

O clássico formato com vinte ou dezoito participantes disputando a competição ao longo de quatro meses, com uma eliminação por semana, foi extinto. Agora são apenas oito concorrentes no estúdio e não há time fixo. Portanto, há um vencedor por semana e uma nova leva de pessoas na disputa seguinte. Já os jurados Henrique Fogaça, Paola Carosella e Erick Jacquin não comem mais no mesmo prato. Agora, para experimentar as comidas dos candidatos, cada um tem o seu prato em três bancadas separadas.

O prêmio também mudou. Ao invés de um suntuoso troféu, um carro e uma bolsa de estudos na renomada Le Cordon Bleu, em Paris, o campeão fatura um micro-troféu, R$5 mil oferecidos por um patrocinador, uma bolsa de estudos na Estácio de Sá, um forno e R$ 500 para gastar em compras de outra patrocinadora.

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A rede de supermercados que sempre patrocinou o “Masterchef” é uma ausência percebida. Outra mudança é na hora das compras para a realização das provas. São quatro por vez e não todo mundo junto. E, segundo informações da Band, todos da equipe e os participantes fazem testes para a detecção ou não da COVID-19.

Todas as alterações têm como objetivo evitar ao máximo o contágio da doença que vem assustando o mundo. Porém, ao menos neste começo de sétima temporada, nenhuma das medidas parece surtir qualquer efeito na prática. Embora as bancadas estejam bem separadas, na hora das compras, ainda que só com quatro pessoas, há um constante contato físico, assim como na hora das provas quando um acaba ajudando o outro naturalmente. Os jurados e a apresentadora Ana Paula Padrão ficam muito próximos. Nada de diferente das demais temporadas.

Ainda é necessário questionar a lógica de ter menos chance de contágio com oito participantes novos a cada semana ao invés de vinte candidatos fixos. Isso porque desde que o reality estreou há um esquema na emissora. Todos ficam em um hotel para a gravação do programa ao longo dos meses. Porém, cada um banca a sua estadia.

O único “trabalho” atual seria proibir todos de saírem durante a competição, limitando apenas para o acesso aos estúdios. E bancar a estadia deles com toda a segurança necessária. Seria um custo a mais? Sim, mas valeria muito mais a pena até para não descaracterizar um formato vitorioso. A nova medida parece uma tentativa de fugir da responsabilidade. Afinal, como há uma rotatividade semanal, se algum cozinheiro contrair a doença já não estará mais no programa e a responsabilidade deixa de ser da Band. Mas o risco para os integrantes da equipe se torna bem maior.

E a maior atratividade do “MasterChef” é justamente acompanhar a evolução dos participantes, criando torcidas e antipatias. Algo que, por exemplo, nunca existiu no frio e sem emoção “Mestre do Sabor”, da Globo. Também é uma delícia ver os jurados analisando com propriedade os candidatos, já sabendo das qualidades e fraquezas de cada um. A mudança constante de analisados destrói todo esse conjunto. É inegável que o formato perde muito com a reformulação apresentada. Para culminar, em momento algum o telespectador vê os cozinheiros se higienizando com álcool gel ou lavando as mãos constantemente. Podem até fazer nos bastidores, mas deveriam ao menos mostrar. As alterações em virtude do coronavírus são tão sutis que muitos telespectadores talvez nem percebam.

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Mas o formato é tão bom que até com todos os problemas das novas medidas é possível criar empatia e raiva dos candidatos. Tanto que na estreia Cecília se destacou pelo seu bom humor, enquanto Hailton emocionou com sua vitória, citando apenas dois exemplos. Já no segundo programa foi mais difícil encontrar alguém para torcer.

Uma pena, no entanto, que a essência do “MasterChef” tenha se perdido tanto na sétima temporada e criado um risco de banalização da vitória com a entrega de pequenos troféus semanalmente. Com todo respeito ao vencedor da semana, soa risível ouvi-lo falar “Eu sou o MasterChef de 2020” só porque fez um mísero prato elogiado. Isso não faz de ninguém um chef de cozinha. Era menos pior dar a vitória com os prêmios já mencionados e deixar o troféu para os que realmente merecem. Na verdade, era melhor e mais seguro manter o formato com os participantes fixos e confinados.

SOBRE O AUTOR

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor