Falência: Marcos de Mulheres de Areia enfrentou dívida milionária e perda de mansão
28/07/2023 às 14h10
Assis Chateaubriand foi um dos maiores nomes da comunicação do Brasil. Dono do poderoso Diários Associados, ele trouxe a televisão para o país e colocou no ar a TV Tupi.
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Chateaubriand morreu no dia 4 de abril de 1968, aos 75 anos. Sua história foi contada no livro Chatô, O Rei do Brasil, de Fernando Moraes. A biografia tinha que virar filme. Foi aí que Guilherme Fontes, atualmente no ar na Edição Especial de Mulheres de Areia (1993), comprou os direitos.
O longa, no entanto, tornou-se um drama para a vida e o bolso do ator e diretor.
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O início de um sonho
Guilherme começou o projeto audacioso de contar a vida do magnata das comunicações em 1994, época em que o cinema nacional começava a surgir das cinzas depois de Fernando Collor extinguir a Embrafilme. Muitas empresas aceitaram patrocinar o longa e o ator conseguiu recursos via Lei Rouanet e do Audiovisual.
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O filme acabou virando uma novela – o orçamento estourou, as gravações foram interrompidas, figurinos e cenários não cuidados se estragaram…
Nessa mesma época, Fontes se dedicava a dar vida a Tavinho em O Rei do Gado (1996), trabalho onde também dividiu a cena com Gloria Pires, seu par romântico em Mulheres de Areia.
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O pesadelo
A previsão de estreia do filme estrelado por Marco Ricca, de 1997, foi adiada para 1999. No ano agendado para o lançamento, as gravações foram canceladas de vez e o projeto acabou engavetado. Na época, Guilherme Fontes foi acusado de ter se envolvido em um grande escândalo pelo mau uso da verba pública destinada a projetos culturais.
Por conta disso, a Justiça processou Fontes, condenado a pagar 66,27 milhões de reais aos cofres públicos. Esse é o valor reajustado, pois o total captado para o filme foi de 8,6 milhões de reais. A casa do ator e diretor no Rio de Janeiro acabou sendo leiloada.
Em 10 de março de 2006, a Folha de S. Paulo informava que o TCU (Tribunal de Contas da União) havia multado o ator Guilherme Fontes em R$ 250 mil e cobrava dele a devolução de R$ 15 milhões aos cofres públicos. O TCU afirmava que o produto final não foi apresentado e que o ator não prestou contas dos R$ 4,6 milhões que obteve.
Na época, Fontes afirmou que não teve condição de concluir o projeto nem de apresentar a prestação de contas, porque a suspensão do filme e a batalha judicial que se seguiu à paralisação das gravações o levaram à falência.
“A verdade é que faliram a minha empresa com essa exigência de prestação de contas doente e antecipada, desde 1999”, lamentou.
Acusações e condenações
Guilherme Fontes como Norberto em Órfãos da Terra (Divulgação / Globo)Em abril de 2010, ele chegou a ter prisão decretada por sonegação de impostos da sua produtora, a Guilherme Fontes Filmes. Porém, a juíza Denise Paes, da 19ª Vara Criminal do Rio, decidiu que transformaria a pena em prestação de serviços à comunidade.
Em entrevista à revista Trip, em 18 de maio de 2015, o ator e diretor afirmou que todo o processo de captação do longa foi limpo.
“Eu captei 8,6 milhões para o filme, em recurso público. E comprovei 11,7. Ou seja, coloquei, em recursos próprios, cerca de R$ 3 milhões a mais. Eu não sou dono de jornal, rádio ou TV, nem de agência de notícias. Vivo somente do que produzo como artista. Sou pessoa física, pago impostos sobre o que produzo. Não devo nada a ninguém”, desabafou.
O que aconteceu com Guilherme Fontes, o Marcos de Mulheres de Areia
Depois de 20 anos de idas e vindas, o filme foi finalmente finalizado. O público pode ver a produção estrelada por Andrea Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Walmor Chagas, Letícia Sabatella e grande elenco. Chatô foi diretamente para a Netflix e ainda está disponível em seu catálogo.
Ao ser questionado se iria modificar alguma coisa no filme, Guilherme foi direto.
“Acabou, chega! Eu estou legal. Já foi. Gastei muito da minha vida nesse negócio. Porra, 20 anos! É um exagero, nem sei como esse tempo passou, nem vi esse tempo passar. Eu estava preparado para um ano sabático em 2000, 2001, porque eu ia acabar o filme em 2000! Vou tentar agora”, afirmou.
Chatô, O Rei do Brasil, foi o único longa dirigido por Guilherme Fontes, que não pensa em voltar tão cedo ao cinema.
Já na TV aberta, seu último trabalho foi na novela Órfãos da Terra (2019), dando vida a Norberto Fraga. Atualmente, ele pode ser visto na série Os Outros, sucesso do Globoplay, como Jorge.