A luta que Marcelo Rezende travou contra o câncer durou quatro meses.

Marcelo, de cabeça erguida, lutou contra essa doença agressiva e dolorosa, e mostrou uma força e uma fé que poucos imaginavam que ele teria.

Nesse período, ele optou por um tratamento alternativo, deixando de lado a quimioterapia. Muitos foram contra a escolha de Marcelo, mas ele seguiu em frente, acreditando em sua ideia e em sua crença.

Essa força de vontade e coragem em arriscar também estiveram presentes em sua carreira: Rezende começou no jornalismo esportivo, no periódico Jornal dos Sports do Rio de Janeiro.

Logo foi para a Rádio Globo e de lá para O Globo, onde trabalhou com o seu ídolo, o escritor Nelson Rodrigues. A seguir, o talento de Marcelo o levou até a principal revista de esporte da época: Placar, na qual foi repórter, editor e chefe da redação carioca. Pela editora Abril, acompanhou de perto duas copas do mundo, jogos olímpicos e mundiais de clubes de futebol, mas, depois de anos na mídia escrita, Marcelo optou por mudar de ares e foi para a televisão.

Era uma nova etapa em que ele, sem titubear, foi para a frente das câmeras cobrir jogos de futebol sob o comando de Galvão Bueno. Foi um dos principais repórteres da equipe que cobriu a Copa América de 1989, realizada no Brasil.

Mesmo com o bom desempenho no esporte, outra mudança estaria por vir: a direção da Globo transferiu o jornalista para a editoria “geral”. Assim, Marcelo estava mudando novamente de ares e principalmente de estilo. O comunicador realizou a cobertura do Rock In Rio 1991, virada de ano, a chegada do celular no Brasil e o funeral de Ayrton Senna.

Uma reportagem em especial marcou a carreira de Rezende: o caso da Favela Naval. Nessa denúncia, ficou comprovado que policiais militares torturavam moradores da comunidade em Diadema, na Grande São Paulo. No vídeo da matéria, um policial atira em um carro e acaba matando um morador.

Essa reportagem foi um marco na historia do jornalismo e dos direitos humanos, que modificou alguns critérios da formação dos policiais militares. Ali, Rezende se tornou um dos grandes jornalistas investigativos. E assim, alguns anos depois, ganhou o próprio programa e se tornou apresentador do programa Linha Direta.

Linha Direta, que já tinha ido ao ar em 1990, ficou nas mãos de Rezende que repaginou a atração, virando um grande sucesso em 1999. Era um início de uma nova carreira, agora como apresentador.

Novamente, o comunicador decidiu arriscar e, por isso, acabou saindo da Globo em 2002. A seguir, trabalhou na RedeTV!, no policialesco Repórter Cidadão, onde ficou marcado como a pessoa que desmascarou a farsa da entrevista de supostos bandidos do PCC, no programa Domingo Legal, do SBT.

Pela Record, teve sua primeira passagem em 2004, no Cidade Alerta. Não durou muito tempo, pois a audiência estava em baixa e, por isso, foi convidado a ser um dos apresentadores do Hoje em Dia, que estava sendo criado.

Dessa vez, Rezende resolveu não se arriscar e acabou saindo da Record, voltando para a RedeTV!, na qual se tornou âncora do jornal RedeTV! News, ao lado de Rita Lisauskas.

Depois, em 2010, foi contratado pela Bandeirantes para apresentar o programa Tribunal da TV, que tinha uma semelhança com o Linha Direta, devido as dramatizações dos crimes.

Sua popularização veio de fato em sua volta ao Cidade Alerta, em 2012. Ele mudou seu estilo, trazendo uma nova roupagem ao policialesco. Com Percival de Souza, intercalou as noticias com bom humor, brincadeiras e jargões que caíram no gosto popular: “Corta pra mim!”, “Bota exclusivo minha filha, dá trabalho pra fazer!” são algumas de suas frases marcantes.

Essa nova fase não agradou a todos: Rezende sofreu duras críticas e também processos, por suas opiniões polêmicas. Particularmente, não me agradava aquela mistura de jornalismo com humorismo, mas ali percebi o grande comunicador que ele se tornou, virando um dos principais apresentadores da nossa televisão.

Marcelo Rezende faleceu e, como podemos ver, ele inovou e arriscou em sua carreira.
Algumas vezes teve sucesso e em outras não.

Nessa luta ingrata contra o câncer, ele mostrou a força e a vontade de arriscar como foi a sua vida profissional. Muito alem disso: ele mostrou a todos a crença na derrota da doença até o fim, passando para todos que sofrem desse mal um alento e esperança.

Essa foi a maior “reportagem” de Marcelo Rezende: a fé no impossível.

Que descanse em paz.


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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor