Mar do Sertão entra na reta final sem corrigir seu maior defeito
03/03/2023 às 10h24
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As tramas de vingança são as mais usadas na dramaturgia, tanto em novelas quanto em filmes e séries. A maior fonte de inspiração para tal é o clássico O Conde de Monte Cristo, romance francês de 1844, escrito por Alexandre Dumas, baseado na vida de Pierre Picaud.
Reprodução / GloboNa história, o marinheiro Edmond Dantès é preso injustamente e, enquanto encarcerado, cria uma amizade com um abade, que lhe indica uma misteriosa fortuna, iniciando uma trajetória de vingança. É uma fórmula que dificilmente dá errado. Em Mar do Sertão deu!
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O autor não soube desenvolver a vingança de Zé Paulino (Sergio Guizé).
Deslizes
Aliás, que saga? A novela está em plena reta final e o mocinho não fez absolutamente nada. O maior erro de Mário Teixeira foi atropelar os acontecimentos de seu enredo para imprimir a falsa sensação de agilidade no roteiro.
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Em menos de um mês, o protagonista sofreu um acidente, foi dado como morto, quase acabou assassinado pelo seu maior inimigo, perdeu a mulher de sua vida, voltou depois de 10 anos – já milionário – e prometeu se vingar.
Todos os acontecimentos citados rendiam, no mínimo, uns quatro meses no ar, tranquilamente, sem provocar a lentidão da narrativa.
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Infelizmente, a trama central de Mar do Sertão nunca saiu do lugar. E o contexto também não foi bem estruturado pelo autor: Zé Paulino realmente sofreu um acidente enquanto dava carona para Tertulinho (Renato Góes).
Nada aconteceu…
O carro com Zé Paulino e Tertulinho atolou na estrada, em plena ribanceira, e caiu no mar. O vilão não conseguiria salvá-lo, mesmo que se esforçasse para tal. Já a tentativa de assassinato planejada pelo rival, que descobriu em qual hospital Zé Paulino estava e fingiu ser um primo para desligar os aparelhos, rendia uma boa revanche com direito à volta triunfal.
Nada disso aconteceu. O público até hoje não sabe como o mocinho escapou, onde ficou durante 10 anos e nem como se tornou tão rico. E o retorno do personagem, que deveria ter sido o grande ápice do folhetim, não teve qualquer impacto. Para piorar, todos os moradores da fictícia Canta Pedra reagiram como se o rapaz estivesse voltando de uma longa viagem e não saindo de um caixão.
Após a destruição de todas as catarses que o clichê da vingança poderia ter rendido na novela, o autor tinha tudo para amenizar seus tropeços com uma boa construção em torno do troco que Zé Paulino daria em Tertulinho.
Pontos de virada desperdiçados
Porém, o mocinho ficou a novela toda querendo saber quem tinha tentado matá-lo no hospital, mesmo com um conjunto de obviedades sendo exposto a todo momento. Bastava somar dois e dois para saber que o vilão era o responsável.
Após longos meses, e já com mais de metade de folhetim no ar, o protagonista finalmente descobriu que o ex de Candoca (Isadora Cruz) tinha sido o autor do crime. A revelação rendeu uma ótima cena de pancadaria, onde Zé espancou Tertulinho com gosto.
Na mesma sequência, Tertúlio (José de Abreu) contou que os então inimigos mortais eram irmãos. A notícia traumática para ambos era para ter provocado a maior virada do enredo. Nada aconteceu, de novo…
Depois da briga, cada um foi para o seu canto e Mar do Sertão seguiu sustentada por esquetes dos núcleos secundários.
Outros alvos
Vale lembrar, ainda, que Zé Paulino também queria se vingar de Tertúlio porque o coronel demitiu seu pai de criação, anos atrás. Nada foi feito. Aliás, nem contra Deodora (Débora Bloch), mãe de Tertulinho e cúmplice do filho, o protagonista planejou algo.
A impressão é que o mocinho nem sabe o que está fazendo de volta a Canta Pedra. Até porque ele também foi pra lá com a missão de revolucionar o lugar e melhorar a vida das pessoas. Pois José pareceu um político populista e corrupto que promete, mas, depois de eleito, nada faz.
A única ação do mocinho foi a reconciliação com Candoca. Os dois ficaram juntos praticamente a história inteira e, ainda assim, só se casaram recentemente, o que também não causou nenhum acontecimento relevante no roteiro, já que sempre estiveram lado a lado.
O marasmo é tanto que até na reta final não tem um conflito minimamente atrativo envolvendo o personagem central. O pior é que Tertulinho ficou o tempo todo planejando matar o rival e o processo de regeneração do vilão foi destruído para que o seu incansável objetivo volte à tona nas últimas semanas. A história central nunca saiu do lugar.
Mar do Sertão é uma produção que sempre angariou elogios por conta do carisma dos personagens e o humor que carrega a novela nas costas. Contudo, é inegável que o mote central se mostrou como a maior falha do conjunto. Uma das piores sagas de vingança da história da teledramaturgia.