Recentemente, o público pode rever Julia Almeida na TV. A atriz foi Vidinha em Mulheres Apaixonadas (2003), trama de Manoel Carlos que foi encerrada em dezembro do ano passado, no Vale a Pena Ver de Novo. A artista é filha do autor e participou de inúmeras novelas de Maneco.

A atriz Julia Almeida e seu pai, o autor Manoel Carlos
A atriz Julia Almeida e seu pai, o autor Manoel Carlos (reprodução)

Além de Julia, o autor teve outros quatro filhos. Mas, infelizmente, Maneco já perdeu três dos cinco herdeiros. É uma profunda dor que o novelista lida até hoje, aos 91 anos.

O braço direito

Um dos filhos que Maneco perdeu era Ricardo de Almeida, que acompanhava o pai em seus trabalhos e era considerado uma espécie de braço direito, dando conselhos e fazendo parte do time de roteiristas de algumas produções de sucesso de Maneco.

O escritor acabou sendo uma das vítimas da AIDS, que se alastrou pelo mundo nos anos 1980 e, com poucas informações e estudos, o paciente não tinha condições de viver uma vida longa e sadia, como ocorre hoje em dia graças à medicina e ao coquetel de medicações, que o SUS distribui de forma gratuita. Com apenas 33 anos, Ricardo morreu em 1988, em decorrência de complicações da AIDS.

“Meu filho Ricardo foi meu parceiro não apenas em O Cometa, mas na minissérie Viver a Vida (1984), da Manchete. Quanto à perda do meu filho, essa é uma dor insuperável. Depois de um tempo, você para de chorar, mas nunca de sofrer. O Rick e eu tínhamos muitas afinidades, independentemente de sermos pai e filho. Guardo tudo que foi dele nos 33 anos em que viveu”, disse ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo.

De uma forma singela e criativa, Manoel mantém a memória de seu filho viva em suas novelas. “A partir de uma certa idade, os anos passam voando, mas os dias são intermináveis”: essa frase foi descoberta por Ricardo e que apresentou ao seu pai, afirmando que ela era da escritora Virgínia Wolff.

“Amei a frase e passei a usá-la em todos os meus textos, mas nunca tive a confirmação de que a autoria fosse mesmo da escritora inglesa. Tanto é assim que, sempre que um personagem a menciona, ele diz ser ‘uma frase, se não me engano, da Virginia Woolf’. A repetição em todas as minhas histórias é uma homenagem que eu presto à memória do meu filho”, afirmou.

Mais uma perda

Manoel Carlos e Manoel Carlos Jr.
Manoel Carlos e Manoel Carlos Jr.

Vinte e dois anos após a perda de Ricardo, Maneco levaria outro duro golpe do destino: Manoel Carlos Júnior era assessor de imprensa e tinha 59 anos quando morreu após sofrer um ataque cardíaco fulminante. Mais uma vez, o autor passava pela dura dor de enterrar um filho.

Dois anos depois, em 2014, ele teria uma nova tristeza em sua vida. Pedro Almeida tinha apenas 22 anos e, diferente do pai, queria estar no palco, atuando. Ele se mudou para os Estados Unidos para estudar teatro. Garoto ativo e sonhador, gostava de fazer exercícios físicos no Central Park e tinha uma namorada, Sophia Dominique. No dia 4 de outubro de 2014, Pedro foi encontrado sem vida em sua casa.

“Perdi três filhos, foi isso que a vida me deu. As tragédias já exageraram um pouquinho comigo”, disse o autor após sair do velório de seu filho caçula.

“Os amigos foram muito generosos comigo. Não podemos estar alegres, mas estamos felizes [com os amigos]. No São João Batista (cemitério na Zona Sul do Rio), eu tenho dois filhos lá, conforme vocês sabem. As tragédias já exageraram um pouquinho comigo. Ele [Pedro] não queria ser enterrado, queria ser cremado e fizemos a vontade dele”, continuou.

Um talento do teatro

Maneco aproveitou o momento para elogiar o talento que Pedro tinha ao subir em um palco.

“Ele era um ator de grande talento comprovadamente. Enchia a gente de orgulho em tudo o que ele fez. Brilhou lá fora. A escolha dele era o teatro, ele fazia questão. Era um ator de teatro”, afirmou.

Há alguns anos, Manoel Carlos, que recentemente foi homenageado pela Globo, curte sua aposentadoria em casa. Seu último trabalho foi a novela Em Família, exibida pela Globo em 2014.

Além das novelas que estão no Globoplay, outro clássico assinado pelo autor está no ar. Trata-se de História de Amor (1995), que pode ser vista no canal Viva.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor