Em abril de 1981, poucos meses depois do término da série de sucesso Malu Mulher, protagonizada por Regina Duarte, a Globo colocou no ar Amizade Colorida, com Antonio Fagundes vivendo um fotógrafo independente e machista em busca de relacionamentos sem compromisso.

Por Amor

Mas as críticas negativas e a ação da Censura foram tão intensas que a produção teve vida curta, saindo do ar em 29 de junho do mesmo ano. As mulheres também protestaram contra a produção; um abaixo-assinado com 100 mil assinaturas foi entregue ao Ministério da Justiça e, aparentemente, surtiu efeito.

Pretensões

Malu Mulher

Originalmente batizada de Edu Homem, Amizade Colorida ganhou o título definitivo para não parecer uma resposta ao sucesso de Malu Mulher. Fagundes vivia Edu, fotógrafo desinibido que improvisava um estúdio em seu apartamento e se envolvia com várias mulheres ao longo dos episódios da produção.

No Jornal do Brasil de 26 de fevereiro de 1981, Cleusa Maria falou sobre as pretensões dos autores Armando Costa, Bráulio Pedroso, Domingos de Oliveira e Lenita Plonczynski:

“Edu é, acima de tudo, um homem livre. Nem viúvo, nem casado, nem descasado. Sem valores estabelecidos, é uma pessoa à procura de estabilidade econômica e emocional. Indagador, torna-se, assim, na opinião de Bráulio Pedroso, um personagem aberto, bom para um seriado”.

Assim como Malu Mulher, Amizade Colorida também tocou em temas delicados. Logo no primeiro episódio, exibido dia 20 de abril de 1981, Edu sofreu de impotência. No Jornal do Brasil de dois dias depois, Maria Helena Dutra classificou o episódio como engraçado.

“A estreia da série foi bem transada, com boas interpretações, direção segura e texto interessante. Cumpriu todas as promessas de seus responsáveis, nos anúncios anteriores, de que a história do Edu Homem não seria uma réplica de Malu Mulher e sim uma comédia sobre agruras masculinas”, destacou.

Triângulo amoroso impróprio

O quinto episódio, Gatinhas e Gatões, exibido no dia 25 de maio de 1981, gerou muita polêmica. Edu se envolveu com mãe e filha, interpretadas, respectivamente, por Tamara Taxman e Carla Camurati. A produção sofreu forte ação da Censura, sendo qualificada de baixo padrão moral.

Um grupo de mulheres do Alto de Santana, de São Paulo (SP), chegou a entregar um manifesto com 100 mil assinaturas ao então ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, reclamando do triângulo amoroso, considerado impróprio.

Outro episódio teve tantos cortes da Censura que não pode ser exibido. Em Bagunça, Edu hospeda em casa uma de suas namoradas e assume todas as funções domésticas, instaurando o caos no apartamento. No horário no qual deveria ter sido exibido, foi lida uma nota informando que os advogados da emissora entraram com um recurso no Serviço de Censura Federal como sinal de repúdio aos vetos.

Esses problemas fizeram o seriado, que deveria durar, pelo menos, um ano, ser abortado com apenas 11 episódios exibidos – naquela época, os programas da Rede Globo tinham longa duração. O último programa foi ao ar no dia 29 de junho de 1981.

Cancelamento precoce

Em matéria do Jornal do Brasil de 22 de julho de 1995, Rose Esquenazi entrevistou o diretor Paulo Afonso Grisoli, que admitiu que o fim da atração, apenas três meses depois da estreia, foi provocado pela Censura.

“Daí para a frente, a série nunca mais pode ser viabilizada respeitando a proposta original. Entre arcar com altos custos de produção e ter os episódios mutilados, a Globo preferiu acabar com a série”, explicou.

A mesma reportagem contou que Antonio Fagundes irritou-se profundamente com os acontecimentos.

“No início, quando ainda estávamos discutindo a proposta do seriado, já haviam saído várias críticas metendo o pau. Acho que aconteceu um preconceito. Uma posição chata assumida pela imprensa”, disparou.

Amizade Colorida foi substituída pela série Obrigado, Doutor, com Francisco Cuoco, e foi reprisada em 1995, dentro do festival que comemorou os 30 anos da Globo.

Depois de Amizade Colorida, Fagundes passou um tempo na TV Cultura, apresentando o programa É Proibido Colar. Mas logo em seguida já estava de volta na Globo, em atrações como Avenida Paulista, Caso Verdade e na novela Champagne. O resto é história.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor