Sem grande alarde, o Manhattan Connection encerrará na noite deste domingo (22) um ciclo de 27 anos nos canais por assinatura do Grupo Globo. O programa capitaneado por Lucas Mendes estava na GloboNews desde 2011, e foi transmitido pelo GNT durante 18 anos.
A atração, porém, não chegará ao fim. O elenco e o formato irão migrar para a internet e negociam um programa semelhante em outro canal de notícias. Nos bastidores, especula-se que o grupo esteja conversando com a CNN Brasil.
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Na GloboNews, o Manhattan Connection nunca foi um grande fenômeno de audiência, mas trazia qualificação de público ao canal de notícias. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, ele deixou de ser um programa e virou um quadro do Especial de Domingo, bloco noticioso que ocupa seis horas da programação.
O fim do vínculo do grupo com a Globo foi confirmado pelo site O Antagonista, em que trabalha Diogo Mainardi, um dos colunistas do programa. De acordo com o portal, Lucas Mendes usará parte da derradeira edição para se despedir do público da emissora e contar aos telespectadores qual o destino da atração.
Ali Kamel, diretor geral de jornalismo da Globo, enviou um e-mail à redação comunicando a saída do grupo, relembrando momentos importantes e agradecendo pelos 27 anos de parceria.
Confira o texto na íntegra:
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“O programa praticamente se confunde com a história da TV por assinatura no país. Em 14 março de 1993 estreava no GNT, Manhattan Connection – “direto de Nova York”. Letícia Muhana, diretora do canal, e Alberto Pecegueiro, diretor da Globosat, viram desde o início o potencial e a força do programa. Dois craques. Estavam certo: são 28 anos consecutivos no ar. As autodeclaradas ratazanas Lucas Mendes, Caio Blinder, Nelson Motta e Paulo Francis, com Lúcia Guimarães e a Angélica Vieira nos bastidores, foram sucesso imediato. Por que ratazanas? Não sei. Mas suspeito: sempre correram soltas, assustando apenas políticos, economistas e outros personagens do noticiário que preferiam se esconder, fugindo rente ao meio-fio. A turma do Manhattan sempre se divertiu com a brincadeira, pegando carona na fama macabra da cidade. O público adorou.
Era uma novidade na grade. Programa de bancada, com debate ardido mas descontraído, e um elenco incrível.
Lucas, ídolo de todas as gerações de jornalistas de televisão. Além de mestre na arte da reportagem, transformou-se num apresentador magnífico. Costuma dizer que tem o papel de extrair o máximo e o melhor dos participantes – e contribuir só com informações de apoio. Faz muito, mas muito mais do que isso. É um maestro, de texto afinado. Sempre ao lado da inseparável, muito querida e sempre atenta e competente Angélica. Na hora do sufoco, a quem ele pede socorro ? Angélica, a matéria já está no ponto ?! Angélica, quanto tempo a gente ainda tem?! Angélica ! Ainda bem, a Angélica, além de defender os bastidores, começou também a aparecer na frente da câmera, em passeios amorosos por Nova York. Fez fama em on e em off.
Paulo Francis fez barulho e história por onde passou e assim foi no Manhattan, com passagens antológicas, na memória de todos nós. Inteligência refinada, mente brilhante, e isso é mais do que clichê, eu juro. Que falta ao Brasil faz um Francis. Tive o prazer e a honra de editar sua coluna no Globo, quando eu fui editor do Segundo Caderno. Tão fã dele, que guardo algumas trocas de correspondência em “fax” (não existia e-mail), uma ou duas vezes sobre comentários dele sobre o Islã. Ninguém que tenha visto o Manhattan de então deixa de pensar em Francis vendo o Manhattan de hoje. É isso o que fazem aqueles que são grandes: deixam marcas.
Caio Blinder: jamais deixou de participar de uma edição do programa nesses quase 28 anos! Uma trajetória linda, incrível, de um jornalista notável, profundo conhecedor de relações internacionais. Minha relação profissional com ele remonta também ao Globo onde mantinha uma coluna. E a admiração vem de anos. Profissional completo. Poucos sabem, mas ele tem outra função no Manhattan: descobridor de talentos. Foi ele quem “descobriu” Ricardo Amorim, economista respeitado e que sempre desfilou comentários seguros sobre todos os temas, no programa desde 2003.
Nelson Motta levou para o programa seu conhecimento dos meandros da cultura, jornalista, compositor e escritor que é. Comentários certeiros. E o bom humor e o sorriso que nos fazem tão bem. Ficou no programa até 2001, quando voltou ao Brasil. Lúcia Guimarães foi então para frente das câmaras com desenvoltura, completando o time, aquele olhar especial. Saiu em 2008 e, no ano seguinte, foi substituída por Pedro Andrade, no programa até hoje.
Depois da morte prematura de Francis em 1997, Arnaldo Jabor com sua assinatura própria: análise, ironia e polêmica.
Em 2003, entrou Diogo Mainardi, substituindo Jabor. São já 17 anos. Uma peça que se encaixou com perfeição ao Manhattan. Um texto privilegiado, sem temor algum de defender suas opiniões, sem compromissos senão com sua independência. Levou para o programa o espírito da coluna que por tantos anos manteve na Veja, leitura obrigatória, tanto para os que concordavam com ele quanto para os que não concordavam (bons tempos em que as pessoas não se importavam de conhecer a opinião dos outros). Nada tenho a ver com a ida dele para o programa, mas somos amigos desde o início dos anos 2000, quando veio morar no Rio por um tempo. Amizade de que me orgulho. E que permanece mesmo ele estando em Veneza.
Em 2011, o Manhattan deixou o GNT e veio para a GloboNews. Trouxe a sua marca, o seu sucesso.
Esses meus e-mails demorados, vocês sabem, escrevo quando é o momento de comunicar mudanças. E de exaltar a trajetória de colegas queridos, profissionais exemplares. E para agradecer. Agradecer muito.
Hoje à noite, na GloboNews, teremos o último episódio do Manhattan Connection. Convido todo mundo a assistir.
Em nome da Globo e no meu, o meu muito obrigado ao Lucas, ao Caio, ao Diogo, ao Ricardo, ao Pedro e à Angélica.
Ali”