“A gente cresce com o que é diferente da gente. Se existe uma hora que se aprende que o diferente é ruim, eu não quero aprender isso nunca. O que eu quero é mostrar que a riqueza é a diferença”. Essa simples, mas significativa mensagem fez parte do teaser de Malhação – Viva a Diferença, já deixando clara a intenção da nova temporada do seriado adolescente, que estreou nesta segunda-feira (08/05), após a exibição de uma prévia na última sexta e cinco vídeos com cerca de cinco minutos na Globo Play sobre os perfis principais.

A história, dirigida por Paulo Silvestrini, marca a estreia do talentoso Cao Hamburger como novelista na produção dramatúrgica mais longeva da Globo. O autor de sucessos infantis como Disney Club (1997), Um Menino Muito Maluquinho (2006), Que Monstro te Mordeu? (2014) e o inesquecível Castelo Rá-Tim-Bum (1994), que marcou toda uma geração, já mostrou sua competência em lidar com as crianças e agora terá o desafio de se comunicar com os adolescentes, embora Malhação seja para todos os públicos e tenha um forte apelo infanto-juvenil.

As chamadas da nova temporada foram promissoras e a estreia honrou todas as expectativas, após a convidativa sinopse ter sido divulgada amplamente nas últimas semanas. Pela primeira vez o seriado tem São Paulo como pano de fundo, depois de 24 fases ambientadas no Rio de Janeiro. E outra novidade é a questão envolvendo o protagonismo.

Não há um casal de mocinhos e, sim, cinco meninas completamente diferentes que acabam se conhecendo em um metrô, iniciando uma forte amizade que precisará lidar com vários conflitos e dramas ao longo dos próximos meses. A ousadia do autor é mais do que válida, quebrando uma tradição de muito tempo e deixando evidente que o foco será a relação do quinteto.

O primeiro capítulo foi delicioso e apresentou as protagonistas de forma breve, mas já identificando algumas características de cada uma, para logo depois focar no encontro do quinteto. Ellen (Heslaine Vieira) – uma hacker que mora na periferia de SP -, Tina (Ana Hikari) – uma rebelde artista sansei -, Lica (Manoela Aliperti) – uma patricinha rica de estilo alternativo -, Keyla (Gabi Medevdovski) – uma mãe adolescente -, e Benê (Daphne Bozaski) – uma menina tímida que não tem amigos -, se deparam sozinhas em um vagão de metrô, quando Keyla entra em trabalho de parto, para o desespero das demais, que conseguem ajudá-la. A inesperada situação une as cinco e cria um vínculo eterno que mudará a vida delas.

A estreia teve um quê de série americana com a exibição de cenas do futuro, para depois contar tudo o que aconteceu dez horas antes. A forma como o autor entrelaçou as histórias impressionou pela habilidade e a ideia de inserir uma chuva torrencial justamente no dia do encontro das cinco provocou uma tensão ótima, beneficiando o conjunto. Não foi difícil se envolver com a vida daquelas carismáticas meninas, mesmo em um tempo tão curto. Isso ocorre quando a trama é boa. E o começo da história não poderia ter sido melhor. A sequência das quatro desesperadas tentando ajudar a quinta a ter seu filho tirou o fôlego, sendo necessário elogiar a divertida situação delas pegando dicas de parto no Google. Direção precisa de Paulo Silvestrini. E o momento do nascimento do bebê, ao som de “Trem Bala”, de Ana Vilela, foi de uma delicadeza ímpar. Um primeiro capítulo de emocionar.

A ideia de Cao é promissora e envolvente, pois criou tipos verossímeis e que nunca se relacionariam em virtude das inúmeras diferenças que os separam. O parto serviu para interligar todas as histórias de forma competente e esse início já despertou atenção, principalmente pela sensibilidade da condução do enredo. Sãs cinco meninas muito humanas, onde as virtudes e os defeitos caminham juntos.

A Vila Mariana é a principal ambientação dessa nova história recém-iniciada e vale destacar a cidade cenográfica de 6.000 metros quadrados, a maior já feita para “Malhação”. A trama ainda tem uma lanchonete que servirá de ponto de encontro, lembrando os tempos de “Giga Byte”, inesquecível bar de Dona Vilma (Bia Montez) que foi cenário de várias temporadas.

Malhação – Viva a Diferença teve uma estreia tocante e promissora. Cao Hamburger iniciou sua história de forma cativante, prometendo retratar a adolescência com total veracidade através de dramas envolventes e bem construídos. A presença de dois colaboradores de Malhação Sonhos e Totalmente Demais (Mário Viana, roteirista, e Charles Peixoto, supervisor de texto) em sua equipe é mais um indicativo de potencial da trama. O telespectador merece uma temporada ótima depois de duas equivocadas em sequência. Que o nível seja mantido.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor