Elogiar a atual temporada de Malhação virou uma rotina. Cao Hamburger está estreando como autor no seriado adolescente da Globo com o pé direito, após produções muito bem-sucedidas na TV Cultura e no cinema. Sua parceria com o diretor Paulo Silvestrini está acima das expectativas. E entre as várias qualidades de Malhação – Viva a Diferença, é preciso enfatizar o grau de realismo com que a adolescência vem sendo retratada.

A festa organizada por Lica (Manoela Aliperti), em seu apartamento, foi apenas mais uma prova do quanto o mundo dos adolescentes vem sendo exposto com precisão, sem ‘fantasias’. A menina mais rebelde da trama novamente procurou extravasar suas frustrações através de um aparente divertimento, sem pensar nas consequências. A ‘reunião’ teve bebida alcoólica à vontade, muita música, beijos e drogas. Tudo o que várias festinhas desse tipo costumam ter, para o desespero de muitos pais.

Todos sabem que menores de idade não podem beber, segundo a lei. Porém, é notório que essa legislação nunca é obedecida, ainda mais em festas particulares, promovidas pelos próprios adolescentes. Uma das grandes falhas presente em várias temporadas de Malhação era justamente a ausência de bebida alcoólica em momentos festivos ou qualquer momento de confraternização. Suco e refrigerante dominavam essas situações. Sempre soava infantil ou irreal demais. Algumas fases até tiveram uma ou outra bebida, mas de forma bem discreta. Essa é a primeira temporada que explora isso sem medo.

É verdade, também, que o fim da censura em torno da Classificação Indicativa contribuiu para essa liberdade maior em Malhação – Viva a Diferença. Em 2016, o Ministério Público resolveu finalmente acabar com a proibição da veiculação de cenas ou situações mais fortes antes das 20h, deixando a responsabilidade a cargo de cada canal. Ou seja, a classificação em si (o aviso antes de cada programa) segue igual, só mudando a censura.

Infelizmente, a própria Globo continua cortando várias sequências das reprises do Vale a Pena Ver De Novo, mesmo com a nova medida. Entretanto, em Malhação, ao menos, deixou os autores (Cao Hamburger, no caso) mais livres.

Toda a sequência da festa ficou ótima, valorizando cada momento e destacando vários conflitos. A quantidade de garrafas de bebida que Lica disponibilizou impressionou e a chegada de Moqueca (Felipe Hintze), logo repassando MDMA (droga conhecida como ‘Michael Douglas’) para MB (Vinicius Wester), expôs como o tráfico de drogas ocorre na classe média alta.

Outra boa cena foi a aproximação de um rapaz, provocando incômodo em Guto (Bruno Gadiol), que não recebeu bem a cantada que levou. O momento serviu para mostrar as dúvidas que permeiam o personagem, confuso em relação ao que é. Seria gay, bi ou hétero? Por enquanto nem ele sabe. Tema sempre atrativo.

Ainda houve espaço para situações divertidas, como a entrada de Benê (Dapne Bozaski), com uma produção impecável, deixando todos chocados com sua beleza. A nerd que se transforma em princesa, um clássico de filmes adolescentes americanos. Clichê que quase nunca falha. As reações de Benedita sem óculos foram impagáveis e a atriz novamente mostrou como é talentosa. Ainda protagonizou um momento delicado ao lado de Mikael Marmorato, quando Juca devolveu os óculos da menina.

Vale citar também a cena romântica de Tina (Ana Hikari) e Anderson (Juan Paiva), que saíram da festa mais cedo e transaram na casa da menina, com camisinha. Já o instante de Lica tendo uma overdose, em virtude do excesso de bebida e do Ecstasy, impactou. Manoela perfeita.

Malhação – Viva a Diferença tem se mostrado uma produção de grande qualidade, mesclando ficção e realidade com maestria. A veracidade com que a adolescência vem sendo explorada merece um justo reconhecimento, não subestimando o telespectador e exibindo o que realmente acontece no cotidiano de muitos jovens – positivamente ou negativamente. Para entreter e alertar.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor