São 22 anos de história. Em todo esse tempo, Malhação apresentou os mais diferentes enredos e formatos. Inúmeros atores jovens foram lançados, como Marjorie Estiano, Bianca Bin, Sophie Charlotte, Nathalia Dill e Juliana Silveira. Algumas temporadas fizeram história, outras nem tanto. Agora, a atual temporada, Viva a Diferença, vem mostrando a cada capítulo que faz parte do time das tramas mais memoráveis.
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Primeiro trabalho de Cao Hamburger na Globo, o enredo deixa claro a expertise do autor em lidar com o público jovem, como já mostrado em produtos como os inesquecíveis Castelo Rá-Tim-Bum (TV Cultura) e Disney Club/Cruj (SBT). A condução dos núcleos e desdobramentos de Viva a Diferença indicam que Malhação vem passando por uma renovação ainda mais completa do que nos últimos anos.
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Para começar, o foco não é na figura do casal principal, e sim das cinco protagonistas e suas vivências. Keyla (Gabriela Medvedovski), Benê (Daphne Bozaski), Lica (Manoela Aliperti), Tina (Ana Hikari) e Ellen (Heslaine Vieira) são personagens cativantes e riquíssimas, que honram o subtítulo da atual temporada.
A consolidação da amizade entre as personagens vem sendo muito bem desenvolvida e reforça os laços de união, tão bem defendidos por elas – entrechos que ganham ainda mais verdade através da naturalidade e segurança do quinteto de atrizes.
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O autor também tem procurado ao máximo fugir do maniqueísmo, tanto que até mesmo os personagens com comportamentos mais condenáveis fogem da dicotomia entre bem/mal. Mesmo o perfil mais próximo disto – a invejosa coordenadora pedagógica Malu (Daniela Galli), também tem nuances muito reais, funcionando como representante da onda conservadora que varre o país.
Mais recentemente, temas importantes ganharam ainda mais espaço na temporada. A começar pelo racismo sofrido por Ellen em sua transição da escola pública (Colégio Cora Coralina) para a particular (Colégio Grupo). Mesmo com todas as tentativas de sabotagem por parte de Malu – em especial sua omissão quanto às discriminações contra a garota – Ellen conseguiu entrar para a nova escola.
Outro bom tema abordado foi a paixão platônica da aluna pelo professor, envolvendo Lica e Bóris. O sentimento da rebelde garota pelo coordenador pedagógico, que chegou a ser expulso do colégio, rendeu excelentes cenas e valorizou o talento de Manuela Aliperti, Daniela Galli e Mohamed Harfouch, ótimo como o professor querido pelos alunos. Também se deve fazer um justo elogio a Marcello Antony, em seu melhor desempenho em muito tempo, na pele do manipulável diretor Edgar.
E agora, na última quarta-feira, Malhação deu um importante passo em relação às edições anteriores ao mostrar uma festa na casa da mesma Lica, regada a drogas pesadas e muita bebida. Uma decisão acertada, uma vez que o consumo de substâncias ilícitas e álcool costuma ser muito presente em festas juvenis e o seriado não costumava apresentar isso. As cenas da balada ficaram excelentes e muito bem dirigidas, especialmente o gancho final em que a filha de Marta (Malu Galli) tem uma overdose.
E não foi só isso. Outros conflitos foram abordados na mesma festa, como as dúvidas de Guto sobre sua sexualidade após levar uma cantada de um rapaz e a transformação de Benê, que deixa o visual nerd de lado por uma noite e aparece belíssima, mostrando o quanto um clichê do folhetim pode ser uma delícia de se acompanhar se bem feito. Assim como os triângulos amorosos, também presentes nesta temporada, especialmente entre Ellen, Jota (Hall Mendes) e Fio (Lucas Koka Penteado) e Keyla, Deco (Pablo Morais) e Tato (Matheus Abreu).
Os desdobramentos da festa também renderam ótimas sequências na quinta-feira, com as cenas mostradas em flashback relembrando outros momentos impactantes não mostrados por si só. Os atores envolvidos nas sequências mereceram todos os elogios, especialmente Bruno Gadiol, Daphne Bozaski, Vinícius Wester, Felipe Hintze (que vive o malandro Moqueca) e Manoela Aliperti.
Ainda foi um grande acerto a cena da noite de Tina e Anderson, flagrados por Mitsuko. A mãe da garota, totalmente contrária ao romance, decidiu enviar a filha ao Japão, para afastá-los de vez. Ana Hikari, Juan Paiva, Lina Agifu e Carlos Takeshi (que interpreta Noboru, pai de Tina e favorável ao relacionamento) também se saíram muito bem.
Por todo este conjunto apresentado, pode-se dizer que Malhação Viva a Diferença apresenta uma renovação ainda mais completa do que as temporadas anteriores, mesmo as mais elogiadas como as de 2002 e 2004 (na fase do Colégio Múltipla Escolha) e as recentes Intensa (2012-13) e Sonhos (2014-15).
O enredo realista e cativante de Cao Hamburger e equipe, a direção competente de Paulo Silvestrini e o elenco seguro contribuem para este impecável resultado, tornando a atual temporada a melhor produção dramatúrgica em exibição.