“Em cada vida, várias histórias”. Malhação – Vidas Brasileiras terá esse lema como maior identidade e a responsabilidade da nova temporada, que estreou nesta quarta-feira (07/03), é complicada: entrar no lugar do imenso sucesso Malhação – Viva a Diferença, êxito de audiência, repercussão e crítica, escrito por Cao Hamburger. A missão de manter a qualidade da faixa é dita até pela autora, Patrícia Moretzsohn, e o início da nova saga mostrará as pretensões desse enredo.

O Rio de Janeiro volta ao cenário da trama adolescente, mais especificamente o bairro de Botafogo, deixando São Paulo da temporada anterior de lado. E pela primeira vez Malhação terá um personagem maduro como protagonista: a determinada Gabriela, professora de Português e Literatura, que luta por uma educação de qualidade e se preocupa com todos os seus alunos, muitas vezes fazendo parte da vida de cada um. A talentosa Camila Morgado foi selecionada para esse posto e é um nome de peso.

Outra novidade da fase é a estrutura do enredo. Baseada na produção canadense 30 Vies, premiada série que estreou em 2011 e teve 11 temporadas, completando 660 capítulos – também é a primeira vez que Malhação se baseia em um formato de fora -, a história tem um rodízio de protagonismo. A cada 15 dias, um aluno vira o personagem central do roteiro, tendo a professora como grande aliada para lidar com os conflitos.

Ao todo são 17 jovens (selecionados entre quase 600 nomes que fizeram testes em várias regiões do Brasil) que vivem esses adolescentes e frequentam o mesmo ambiente: a escola Sapiência, onde Gabriela trabalha dando aula para alunos do ensino médio.

A estreia fez questão de enfatizar o protagonismo de Gabriela e pecou na pressa. Foram muitos acontecimentos jogados de forma superficial e o intuito pareceu apenas provocar impacto, causando uma falsa sensação de agilidade. Logo no começo, a professora surgiu interrompendo sua aula para ajudar uma aluna, vítima do ex-namorado, que publicou um vídeo íntimo seu na internet, implicando no deboche dos colegas. Jade (Yara Charry) estava no terraço do colégio e aparentava uma preparação para se suicidar, quando a protagonista chegou para consolá-la.

Pouco tempo depois, a mesma personagem central apareceu já em casa, acordando para mais um dia de aula. Ficou evidente que sua vida é uma correria, implicando em uma falta de tempo para a família: o marido, Paulo (Felipe Rocha), e os filhos gêmeos, Flora (Jeniffer Oliveira) e Alex (Daniel Rangel), além da caçula Mel (Maria Rita). No trajeto para a escola, Gabriela acabou se vendo no meio de um arrastão no túnel, se preocupando com os filhos e se chocando com o fato dos bandidos serem todos adolescentes, tendo a idade de seus alunos.

Paralelamente, Pérola (Rayssa Bratillieri) se chocava com a prisão do pai, Eduardo (Edson Celulari), acusado de corrupção, entrando em conflito com a mãe, Isadora (Ana Beatriz Nogueira vivendo outra perua amargurada), e tentando se matar horas depois, ingerindo tranquilizantes. Ou seja, foram muitos acontecimentos e todos jogados com uma correria indisfarçável. Agilidade é diferente de pressa. E nem deu para se sentir envolvido com qualquer daqueles dramas em virtude, justamente, da falta de construção.

Ao mencionar construção, inclusive, é preciso citar a delicada cena final, com todos os alunos cantando ‘Não Vá Embora’, de Marisa Monte, para Gabriela, demonstrando todo o carinho que eles sentem por aquela tão dedicada professora. Enquanto a música era tocada, cenas da personagem ajudando os adolescentes eram exibidas. Camila Morgado emocionou. Entretanto, a emoção seria infinitamente maior se a cena tivesse sido colocada futuramente e não na estreia. Ninguém viu a relação dela com os jovens e as poucas sequências do início não são o bastante. E também não deu para entender se a trama voltará no tempo ou se as imagens exibidas foram meros “spoilers” mesmo. Esse gancho, por sinal, confirmou a impressão causada antes: parecia um capítulo de meio de temporada e não de começo.

Malhação – Vidas Brasileiras, dirigida por Natalia Grimberg, teve uma estreia apressada e com muitas tramas jogadas sem construção. Porém, a premissa é interessante e Patrícia Moretzsohn tem experiência de sobra nesse formato. Resta torcer para que essas questões se resolvam ao longo das semanas, deixando o enredo mais sólido, e que a autora realmente consiga manter a qualidade que ‘Viva a Diferença’ alcançou com louvor. Não é fácil, mas possível.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor