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Semanas antes da estreia de Malhação – Vidas Brasileiras, a autora Patrícia Moretzsohn teceu elogios a Cao Hamburger, autor da aclamada temporada anterior, Viva a Diferença, que conquistou merecidos elogios do público e da crítica por promover um diálogo com o jovem brasileiro como nunca se havia visto na história da novela juvenil. Patrícia declarou que Cao redefiniu a identidade do produto e elevou Malhação a um patamar superior, tendo como principal preocupação manter o padrão alcançado. Ironicamente, tudo que a autora apresentou neste primeiro mês de temporada mostra que Vidas Brasileiras conseguiu, sim, retroceder em importantes temas. Pode parecer precipitado, mas já dá para se obter uma noção dos erros cometidos.
Inspirada na canadense 30 Vies, a nova história vem focando seus problemas não mais no ponto de vista dos jovens, e sim de uma personagem adulta, a professora Gabriela (Camila Morgado), que foi mostrada como uma educadora amada e querida pelos alunos em uma festa de despedida – algo que não deu para entender, pois parecia uma cena de um capítulo do meio. Ao longo das semanas, ficou claro que a docente se mostrou um tipo invasivo, metendo-se na vida dos alunos de forma constrangedora e anulando sua própria vida e de sua família.
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O primeiro drama, do garoto Kavaco (Gabriel Contente), indicava um suposto envolvimento com drogas, em virtude de seu estranho comportamento e das brigas de seus pais, vividos por Daniel Dantas e Malu Mader. Gabriela resolveu investigar por conta própria os problemas do aluno, até que se descobriu que ele era viciado em um verniz usado na pintura de barcos, pois ele trabalhava escondido numa marina, levou um tubo da substância para a escola e o cheiro se espalhou pela ventilação. Enquanto isso, os pais se entenderam e resolveram suas diferenças, aparentemente, do nada. Tudo muito raso e em pouco tempo.
Já a história seguinte, de Verena (Joana Borges), lidava com um tema de fundamental importância: o assédio. Abusada pelo professor Breno (Marcelo Argenta), a garota se viu traumatizada e recorreu à professora, que, na tentativa de ajudar, simplesmente resolveu agir por conta própria, complicando ainda mais a situação. Para piorar, a condução do entrecho tomou um rumo arriscado: a possibilidade de Verena não estar falando a verdade – desfeita após a professora ter acesso a imagens que comprovavam que o professor assediou a aluna.
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Estas duas situações chamam atenção porque simplesmente retrocedem em importantes avanços conduzidos por Cao Hamburger em Viva a Diferença. É impossível não comparar com os problemas com drogas sofridos por Lica (Manoela Aliperti) e MB (Vinícius Wester) e com o trauma sofrido pela periguete K1 (Talita Younan), abusada pelo padrasto e sofrendo com a desconfiança da mãe.
Aliás, no último caso, a diferença ficou ainda mais gritante, pois a Globo se viu envolvida em uma forte campanha contra o assédio em Abril daquele ano, quando o elenco feminino se mobilizou em favor da figurinista Su Tonani, que denunciou abusos cometidos pelo ator José Mayer, posteriormente afastado. Com a campanha e a abordagem de Viva a Diferença, ficou clara a intenção de reforçar que a culpa nunca era da vítima, ao contrário do que Vidas Brasileiras passou.
Em meio a isso, desenrola-se o desinteressante triângulo entre Pérola (Rayssa Bratillieri), Alex (Daniel Rangel) e Maria Alice (Alice Milagres). A patricinha passa por um momento difícil após a prisão do pai (Edson Celulari) e o bloqueio dos bens dele e da mãe Isadora (Ana Beatriz Nogueira). No entanto, seu namorado Alex parece pouco se importar com isso e vem investindo sem pudor em Maria Alice, filha da empregada Rosália (Guta Stresser), sem se importar com os sentimentos de Pérola. A situação não agrada, pois os personagens são sonsos e se passam por bons moços, o que não condiz com suas atitudes.
Malhação – Vidas Brasileiras, logo em seu primeiro mês, peca pelo desenvolvimento falho de seus temas e pelo mau aproveitamento da fórmula do “rodízio de protagonistas” de 30 Vies. É claro e óbvio que a teledramaturgia não tem nenhuma obrigação de mostrar a realidade nua e crua como ela é, porém, precisa de verossimilhança nas histórias que pretende contar e é isso que tem faltado ao enredo de Patrícia Moretzsohn.
Desta forma, fica ainda mais incompreensível a decisão de encurtar Viva a Diferença em 50 capítulos, pois a história de Cao Hamburger ainda tinha fôlego, enquanto a atual foi previamente esticada. A autora precisará aproveitar esse longo tempo pra mudar a forma de abordar seus temas o quanto antes, pois, se mantiver o que foi apresentado, fatalmente sairá ainda mais prejudicada do que já está.