Emanuel Jacobina, um dos criadores de Malhação, retornou à novela adolescente em agosto de 2015, após a elogiada temporada Sonhos, desenvolvida por Rosane Svartman e Paulo Halm. Intitulada Seu Lugar no Mundo, a história desenvolvida por Jacobina parecia interessante no começo, mas foi se perdendo em meio a conduções inverossímeis, personagens perdendo suas funções e abordagens equivocadas. Ainda assim, parecia que a chance de se redimir viria com a temporada seguinte, intitulada Pro Dia Nascer Feliz, que estreou em agosto de 2016, após as Olimpíadas, e chega ao fim em maio deste ano. Ledo engano.

A atual edição conseguiu repetir os mesmos erros da anterior, apesar de apresentar um elenco um pouco melhor. Foram aproveitados poucos personagens para o novo enredo, entre eles Jéssica (Laryssa Ayres), Nanda (Amanda de Godoi), Krica (Cynthia Senek) e Cleiton (Nego do Borel). Enquanto isso, como exemplo, Marina Moschen e Nicolas Prattes, que viveram o casal Luciana e Rodrigo (malconduzido pelo autor), estão repetindo o par em Rock Story, atual novela das sete, desta vez de forma bem mais rica e convincente, interpretando respectivamente a patricinha Yasmin e o cantor Zac, líder da banda 4.4.

Um dos erros é a personalidade da mocinha Joana (Aline Dias). De início uma protagonista de atitude e pulso firme, ao longo do tempo, a personagem se tornou muito intrometida. A falta de química com Felipe Roque (que vive o mocinho Gabriel) também foi evidente, a ponto de Joana passar a se envolver com o irmão dele, Giovane (Ricardo Vianna).

A rival de Joana, Bárbara (Bárbara França) também sofreu com as mudanças estapafúrdias. A filha mais velha de Ricardo (Marcos Pasquim) sempre foi uma vilã voluntariosa, a ponto de fazer ofensas racistas e xenofóbicas contra a rival. Até aí, sem problemas. Porém, a personagem guardava um lado humano interessante em função da convivência com suas irmãs Juliana (Giulia Gayoso) e Manuela (Milena Melo). Essa complexidade foi esquecida sem qualquer motivo aparente. As brigas entre as personagens, que deveriam ser usadas como um bom recurso para a relação conflituosa entre elas, tornaram-se constantes a ponto de cansar.

Juliana, por sua vez, tinha uma interessante relação de gato e rato com Lucas (Bruno Guedes). As provocações entre os dois faziam do par o mais promissor da temporada. Até que ela se apaixonou por Jabá (Fábio Scalon) e houve uma inversão de personalidades entre eles: o primeiro, arrogante, virou uma boa pessoa, enquanto Lucas chegou a virar um irresponsável.

Este chegou a se envolver com Martinha (Malu Pizzatto) sem nunca ter sido amigo dela e, para piorar, ela ficou grávida. A abordagem da gestação foi erroneamente desenvolvida, parecendo algo engraçadinho – e não uma coisa séria, como deveria ser – e repetindo o erro cometido com Krica e Cleiton na temporada anterior.

Nanda, por sua vez, chegou a se envolver com Rômulo (Juliano Laham) para tentar esquecer Filipe (Francisco Vitti), todavia, as constantes desconfianças e a indecisão amorosa dela a transformaram em um tipo irritante e cansativo, desvalorizando o talento de Amanda de Godoi (a mais promissora revelação de Seu Lugar no Mundo). Para piorar, entrou na história o professor Renato (Jayme Matarazzo), para quem supostamente o coração do ex foi doado. O triângulo nada acrescentou e o autor resolveu recorrer a cenas de Filipe como fantasma e aproximar Rômulo de Sula (Malu Falangola), amiga cearense de Joana, para fazer ciúmes em Nanda. Nada disso funcionou.

Agora, foi a vez de Caio (Thiago Fragoso) também sofrer com a mudança de personalidade. O cunhado de Ricardo, irmão da esposa falecida deste, era uma boa pessoa, embora guardasse mágoa do dono da academia Forma em função do acidente. Entretanto, foi transformado em um vilão perverso, a ponto de se disfarçar de enfermeiro para matar o empresário. Algo que em nada condiz com seu perfil inicial.

E o texto do autor novamente despertou críticas em função de diálogos considerados preconceituosos. Primeiramente, Sula, chegando ao Rio de Janeiro, deu uma declaração xenofóbica: “aqui tem tanta gente bonita que tô com saudade de ver gente feia”. Depois, o mocinho Giovane, com ciúmes de Joana, chegou a insinuar que sua namorada ficasse gorda para que ninguém a paquerasse. Estas frases seriam normais se fossem ditas por vilões, como é o caso de Bárbara. Porém, foram ditas por personagens de bom caráter, projetados para serem os “exemplos a serem seguidos”.

Apesar dos problemas, o elenco consegue tirar proveito do fraco roteiro e aproveita todas as oportunidades. Aline Dias, que chama atenção por ser a primeira atriz negra a protagonizar Malhação, está segura como sua mocinha Joana. Bárbara França, que vive a vilã Bárbara, é o maior destaque da temporada. Malu Falangola, Giulia Gayoso, Amanda de Godoi, Laryssa Ayres e Milena Melo são outros bons nomes da turma jovem.

Entre os adultos, Deborah Secco também está muito bem como Tânia, uma mãe de família, e Thiago Fragoso convence em todas as nuances de Caio. A grandiosa Joana Fomm, em participação especial, emociona como a avó de Gabriel e Giovane, dona Cleo. Como pontos negativos, as fracas atuações de Felipe Roque (Gabriel), Nego do Borel (Cleiton) e Juliano Laham (Rômulo).

Apesar da boa audiência, Malhação: Pro Dia Nascer Feliz repetiu a fraca trajetória de sua antecessora e novamente se perdeu em meio a uma condução pífia e ao desperdício de personagens e enredos, por parte do autor Emanuel Jacobina – que, anteriormente a estas duas histórias, produziu uma ótima temporada em 2010/11.

Com isto, só resta torcer pela próxima temporada, intitulada Viva a Diferença e assinada pelo cineasta e roteirista Cao Hamburger, responsável por produções como Castelo Rá-Tim-Bum, Pedro e Bianca e Que Monstro Te Mordeu?, exibidas na TV Cultura, com estreia prevista para Maio. Infelizmente, assim como Seu Lugar no Mundo, Pro Dia Nascer Feliz não deixará saudades.


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