Travessia era a grande aposta da Globo para manter (e até ampliar) os bons índices de audiência obtidos por Pantanal. A história de Gloria Perez foi considerada um produto de forte apelo popular; daí a sua escolha para substituir a saga de Juma Marruá (Alanis Guillen). Enquanto isso, Todas as Flores, inicialmente escalada para suceder o folhetim de Bruno Luperi, acabou “rebaixada” no Globoplay.

Travessia - Jade Picon

Porém, em sua primeira semana, Travessia não demonstrou toda esta força que a Globo esperava. Enquanto Pantanal ficou na casa dos 30 pontos no Kantar Ibope com seus cinco últimos capítulos, a nova novela das nove derrubou os índices para parcos 23,3. Com isso, a história de Brisa (Lucy Alves) fez a Globo se lembrar da “maldição” de Um Lugar ao Sol (2021), trama menos vista da história da faixa das oito/nove.

A volta do pesadelo

Um Lugar ao Sol - Alinne Moraes, Andréia Horta e Cauã Reymond

Assim como Travessia, Um Lugar ao Sol alcançou tímidos 23,3 pontos no Kantar Ibope em sua primeira semana. A trama de Lícia Manzo não conseguiu reverter a péssima marca e saiu de cena com o triste rótulo de fracasso. Agora, com Travessia, a Globo revive este momento de terror.

Antes de Um Lugar ao Sol, foram poucas as novelas das nove da Globo que registraram números abaixo dos 30 pontos em sua primeira semana.

Até então, o recorde negativo era o das edições especiais de Império (2014) e A Força do Querer (2017), exibidas durante a pandemia, com 28,5 pontos em suas primeiras semanas. Já entre as tramas inéditas, o recorde negativo pertencia a A Regra do Jogo (2015), com 27,3 nos seis primeiros capítulos.

Trabalho perdido

Pantanal - Isabel Teixeira e Juliano Cazarré

Porém, tais fracassos tinham explicações. A Regra do Jogo estreou em meio ao auge de Os Dez Mandamentos, fenômeno da Record. Já as reprises de Império e A Força do Querer aconteceram num momento em que o público já demonstrava cansaço diante das reapresentações forçadas pela pandemia de Covid-19.

A inédita Um Lugar ao Sol derrubou ainda mais os índices… A obra de Lícia Manzo, além de contar com um roteiro de pouco apelo popular, ainda teve a desvantagem de ser uma obra fechada, ou seja, estava praticamente pronta quando entrou no ar. Com isso, a autora não teve a oportunidade de corrigir os rumos de sua obra.

Neste contexto, a escolha pelo remake de Pantanal para dar sequência ao horário nobre mostrou que a Globo estava disposta a investir num arrasa-quarteirão, que fosse capaz de reverter o fiasco da história de Christian e Renato (Cauã Reymond). O plano funcionou e a saga pantaneira cumpriu a missão de elevar a audiência.

Assim, a primeira semana de Travessia acabou por fazer a Globo perder boa parte da plateia conquistada por Pantanal. Ou seja, todo o trabalho da trama de Benedito Ruy Barbosa foi perdido.

Travessia tem conserto?

Travessia - Lucy Alves

A queda tem várias explicações. Além da “ressaca” natural do espectador, que costuma prometer não mais acompanhar novelas entre o fim de uma trama e o início da outra, Travessia também pode estar pagando pela campanha de lançamento mal feita, com chamadas que pouco revelavam da história.

Além disso, a primeira semana foi um tanto confusa e arrastada. Após um primeiro capítulo agitado, a narrativa não apresentou grandes acontecimentos ao longo da semana. Até mesmo a protagonista Brisa teve pouco espaço no enredo…

Mas, ao contrário de Um Lugar ao Sol, Travessia é uma obra aberta e, como tal, poderá se corrigir no ar. Experiente, Gloria Perez deve conseguir identificar o que está funcionando em sua história e dar ao público o que ele quer.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor