André Santana

Renascer estreou sua nova versão na Globo conseguindo manter o magnetismo da versão original. A primeira fase da novela de Benedito Ruy Barbosa, adaptada por Bruno Luperi, tem tudo para repetir o êxito alcançado em 1993, com uma história de impacto, ótimas atuações – como a participação especial de Maria Fernanda Cândido – e uma fotografia de encher os olhos.

Maria Fernanda Cândido em Renascer
Maria Fernanda Cândido em Renascer (divulgação/Globo)

Mas uma coisa não agradou na estreia: a abertura da novela. Se na versão de 1993, ela era criativa até demais, no remake ela segue o atual padrão das aberturas de novela da Globo. Ou seja, é uma peça genérica, que traz apenas uma sucessão de imagens aleatórias que não contam, de fato, a história da novela.

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Outros tempos

 

Em 1993, a equipe de criação da Globo, capitaneada por Hans Donner, estava em plena efervescência. O avanço da tecnologia somado à peculiar criatividade do designer permitia a concepção de aberturas de novelas primorosas, que marcaram época.

É o caso de Renascer. O designer até abusou da tecnologia na primeira versão, deixando a abertura até exagerada. Mas não há como negar que a vinheta resumia muito bem a história que estava sendo contada na novela.

Totalmente realizada em computação gráfica, a abertura original mostrava uma frondosa árvore crescendo sob o chão árido. Na sequência, ela se transformava num edifício. Depois, surgia uma fazenda – na verdade, uma maquete – em que o chão era rompido, sendo possível enxergar os prédios surgindo. No final, os próprios prédios eram “engolidos”. Tudo isso ao som de Confins, na voz de Ivan Lins.

O excesso de efeitos em computação soa cafona nos dias de hoje, é verdade, mas era algo novo na época e chamava a atenção. Mas, independentemente dos exageros, é fato que a abertura original contava uma história, ao contrário da atual.

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Genérica

Humberto Carrão em Renascer
Humberto Carrão em Renascer (divulgação/Globo)

A nova abertura de Renascer está longe de ser ruim ou mal feita, bem entendido. As imagens mostradas são bonitas e embalam bem a atual novela das nove da Globo. O que chama a atenção é a falta de criatividade da vinheta, que segue o atual padrão de aberturas de novelas da emissora.

Há tempos, o canal tem apostado em aberturas “genéricas”, que não se preocupam em contar a história da novela de uma maneira original. Normalmente, as aberturas atuais são formadas por imagens aleatórias de algo relacionado à trama. Quando há efeitos, são recursos batidos, como a colagem de fotos em Elas por Elas – um efeito visto em várias novelas das sete e em várias temporadas de Malhação.

No caso de Renascer, as imagens mostram a produção do cacau. Nada muito diferente de Império (2014), por exemplo, que trazia imagens aleatórias de pedras preciosas. Ou de A Dona do Pedaço (2019), com imagens aleatórias de ingredientes de bolo. Não há mais a vontade de surpreender, como acontecia antes.

Fora que a imagem das árvores e da água que molha as folhas remete imediatamente à abertura de Terra e Paixão, sua antecessora. Algum desavisado pode até achar que a novela de Walcyr Carrasco ainda não acabou.

 

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Dividiu opiniões

Marcos Palmeira, Duda Santos e Humberto Carrão em Renascer
Marcos Palmeira, Duda Santos e Humberto Carrão em Renascer (divulgação/Globo)

Nas redes sociais, a nova abertura de Renascer dividiu opiniões. Quem gostou aprovou as imagens, que são realmente muito bonitas. Mas quem não curtiu apontou justamente a sensação de repetição que a nova abertura provoca.

“Desde Pantanal que o Bruno Luperi só faz aberturas com imagens aleatórias da natureza e não foi diferente com Renascer. A original tinha uma proposta bem mais interessante. Além disso, a abertura parece estar na velocidade dois. A música é o ponto positivo”, analisou o espectador Pedro Lima no X.

Sobre a música, aliás, é preciso reconhecer que foi um acerto trocar Confins por Lua Soberana. A canção que embala a nova abertura era usada na primeira versão nas vinhetas dos intervalos comerciais e seu refrão acabou ficando mais marcado na memória do público que a música da primeira abertura – embora ela também tenha sido marcante e tenha seu valor.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor