Dyego Terra

A televisão brasileira nunca esteve tão enfadonha. Com certeza, o leitor já percebeu que vem consumindo TV aberta cada vez menos. As horas em que um espectador passava sintonizado nos canais convencionais diminuiu.

Roberto Carlos
Divulgação / TV Globo

Tem sido impossível assistir horas a fio das atuais grades horárias das emissoras brasileiras, que padecem da falta de criatividade enquanto seus executivos parecem sem vontade de fazer televisão. Um bom exemplo disso é o desgastado especial de Roberto Carlos (foto acima).

Desculpas não faltam, mas, enquanto tentam justificar a inércia em vez de agir, os canais oferecerem toda sorte de ofertas de programas que já deram todos os sinais de desgaste. Porém, as redes insistem em deixar no ar.

SBT abriu a porta do desgaste

Casos de Família
Divulgação / SBT

A grade do SBT sempre foi recheada de faixas dedicadas a produtos sem a menor rotatividade. Durante anos, o canal se dedicou a exibir desenhos pela manhã, séries no horário do almoço, novelas pela tarde e auditórios aos domingos. Praticamente, só alterava e revezava os títulos em mudanças de programação resumidas a mera troca de horários.

Mas muita coisa mudou neste cenário. O Bom Dia e Cia foi cancelado e as séries desapareceram. Mas só uma coisa não mudou: o Casos de Família (foto acima) esteve no ar durante todas essas fases.

O nome da exaustão

Programa Silvio Santos
Reprodução / SBT

Desgastado, cambaleando no Ibope, rodando todas os horários da faixa vespertina, o telebarraco de Christina Rocha resiste bravamente na programação, pois é um dos queridinhos de Silvio Santos (foto acima). Assim, o programa segue no ar há 18 anos, mesmo passando vergonha no Ibope há anos e sagrando-se como a pior audiência da rede no horário vespertino. Aliás, a atração já teve menos público até que dos programas exibidos na madrugada.

Mas o canal é incapaz de achar algo melhor para ocupar o seu lugar. A direção bem que tentou acabar com o programa algumas vezes, mas o dono do Baú sempre ordena que a atração volte. Dois pontos no Ibope devem satisfazê-lo.

O “Q” de quem aguenta?

The Voice Brasil - Fátima Bernardes
Divulgação / TV Globo

Nem a “toda poderosa” foge do marasmo. O público já deu todas as provas que já não aguenta mais o The Voice Brasil. A cada temporada, o reality despenca mais na audiência. O vencedor desaparece um dia após o programa acabar.

Mas o canal carioca não para de confirmar novas temporadas para o musical, mesmo ele tendo sido um fracasso comercial e de audiência na atual 11ª temporada.

O que mais poderia justificar a insistência pela sua permanência? E pior, com várias vertentes na programação, já que a versão infantil segue confirmadíssima para 2023. Ao todo, já foram 20 temporadas, considerando as versões oficiais, infantil e para idosos.

MasterChef para as paredes

Ana Paula Padrão no Masterchef
Reprodução / Band

Mas desgastar um produto promissor não é algo exclusivo da Globo. A Band também se encarregou de destruir o MasterChef Brasil, apresentado por Ana Paula Padrão (foto). Com diversas temporadas seguidas e com vários spins offs, ninguém mais cita a competição culinária que, outrora, chegava a brigar pelo segundo lugar.

Há oito anos no ar, o programa já teve direito a nove temporadas recorrentes, mais uma da versão Júnior, quatro da versão Profissionais, uma de revanche, mais diversas edições especiais. Foram tantas que o público dispersou e, hoje, a rede o exibe para as paredes. Você piscou e a emissora produziu mais uma temporada.

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Nem Jesus aguenta mais

Jesus - Dudu Azevedo
Divulgação / Record

Na Record, que tem mais jornalísticos que a própria Record News, tudo termina em longas horas de sensacionalismo para conseguir o pouco de audiência que lhe restou do ousado e mal-executado plano de liderança.

E se no Brasil tudo acaba em pizza, na Record tudo acaba em novela bíblica. Todos os horários de novelas reexibem alguma história da Bíblia. Só Jesus (foto acima) já “ressuscitou” quatro vezes, com direito a quatro exibições em apenas quatro anos, sendo duas em 2022.

Sem contar Os Dez Mandamentos que já rodou todos os horários da programação e agora dá expediente pelas tardes, fracassando como nunca. Mas, na briga com o programa de Christina Rocha, a trama ainda consegue levar a melhor (ou, no caso, “menos pior”). A briga do ruim com o péssimo.

Enquanto isso, os diretores executivos, de programação e artísticos buscam culpados: a crise financeira, a alta do dólar, a pandemia de Covid-19, a recessão do mercado… Mas a verdade é que todos esses programas já existiam muito antes de qualquer uma dessas desculpas que estes senhores usam como mantra. A insistência neste argumento é mera desculpa para justificar o injustificável.

Com a audiência cada vez mais baixa e o telespectador fugindo para o streaming, muito por conta da falta de opção da TV aberta, a única culpada é realmente a crise… Mas é a crise de criatividade! Falta vontade de arregaçar as mangas e pensar em algo melhor para oferecer aos seus telespectadores.

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor