Depois do estrondoso sucesso de Pantanal, em 1990, e dos bons resultados de A História de Ana Raio e Zé Trovão, no ano seguinte, a Manchete investiu uma fortuna em um novo projeto, que foi exibido entre 10 de dezembro de 1991 e 29 de junho de 1992, terminando há 31 anos, se tornando um dos maiores fiascos da história da televisão brasileira.

Amazônia

Estamos falando de Amazônia, novela de Denise Bandeira e Jorge Duran, estrelada por muitos nomes que estiveram na trama de Benedito Ruy Barbosa, como Marcos Palmeira, Cristiana Oliveira, Antônio Petrin, Jussara Freire e José de Abreu, entre outros.

O projeto começou a ser concebido ainda em 1990, com a diretora Tizuka Yamazaki, mas as gravações foram realizadas somente a partir de agosto do ano seguinte, já sob o comando de Carlos Magalhães, Roberto Naar e Marcelo de Barreto, todos da equipe de Jayme Monjardim, que posteriormente acabou deixando a empreitada.

Investimento milionário

Com investimentos superiores a 20 milhões de dólares, a novela deveria ter estreado em outubro de 1991, mas acabou sendo adiada, por conta no atraso da construção das duas cidades cenográficas em Guaratiba, no Rio de Janeiro. Para tapar o buraco, foi exibida a minissérie O Fantasma da Ópera.

Se gravar no Pantanal já foi um desafio, na Amazônia foi ainda pior. Tratada como superprodução, mais de 150 pessoas, entre elenco, técnicos e diretores se embrenharam no mato para as gravações no Amazonas, sob um calor de 45 graus.

Cerca de 40 toneladas de equipamentos, incluindo um gerador, foram levados para o local. Cenas também foram rodadas no Teatro Amazonas, em Manaus.

O enredo era complexo: abordando ecologia, se passava em duas épocas ao mesmo tempo, no final do século 19 e o início do século 21. Também existiria uma ação no presente, mas ela foi suprimida.

“Decidimos tirar o presente da trama para que houvesse maior liberdade de criação, das cenas e caracterização dos personagens”, explicou Naar ao Jornal do Brasil de 10 de outubro de 1991.

Apesar de uma grande campanha publicitária, a estreia não foi promissora. O primeiro capítulo conquistou o terceiro lugar no Ibope, entre 22h01 e 23h35, marcando 10 pontos de média. No mesmo horário, a Globo ficou com 32 pontos, mostrando Programa Legal (foto abaixo) e o filme O Vingador, e o SBT, com Hebe e o Jornal do SBT, ficou com 16.

Além disso, a imprensa citou o início da trama como frustrante.

“Não foi uma boa estreia. Foram cerca de duas horas, com poucos intervalos comerciais. A estreia teve porte de longa-metragem. O roteiro, porém, ficou devendo em ação dramática. Sobrou cena de perseguição no futuro, faltou apresentação de personagens do passado”, descreveu Marília Martins no JB de 12 de dezembro de 1991.

“Para que Amazônia repita os índices de audiência de Pantanal, será preciso radicalizar: simplificar o roteiro de cada capítulo, sublinhar os pontos de conflito aberto entre os personagens e as marcas das semelhanças dos reencarnados. Talvez seja preciso aguardar que a cuidadosa cenografia do passado ganhe maior espaço na trama. É por este fio que ainda se sustentam as expectativas que cercaram Amazônia. A estréia foi um desastre. Mas ainda é cedo para avaliar”, completou.

Parte 2

No entanto, não era cedo. O público torceu o nariz e os índices despencaram e a novela chegou a marcar apenas três pontos no Ibope.

Após 42 capítulos, a trama original foi simplesmente encerrada e, com o mesmo elenco, entrou no ar Amazônia, Parte 2. A trama futurista foi limada e o passado dominou a cena.

Jorge Duran desenvolveu a segunda parte ao lado de Regina Braga, além de outros autores. Os diretores, com exceção de Marcos Schechtman, se demitiram, e Yamazaki acabou assumindo a supervisão de direção.

Amazônia

Mas isso não foi o suficiente. O primeiro capítulo da nova fase marcou seis pontos, quando se esperava, no mínimo, oito. Alguns dias depois, caiu para quatro. Depois, se fixou em cinco.

Alguns artistas, como Raul Gazola e Antônio Petrin, chegaram a dizer na mídia que existia uma campanha contra o canal.

“Existe uma campanha muito grande contra a emissora Manchete. O fato de uma segunda emissora fazer sucesso incomoda. Existe uma certa manipulação”, reclamou Gazola. “Quando se erra aqui, até colunista social faz campanha contra. Quando se erra em outras emissoras, o erro não é tão visado”, reclamou Petrin.

Pouco tempo depois, Cristiana Oliveira e o próprio Gazola, entre outros nomes, fecharam com a Globo. Além disso, a Manchete estava sendo vendida para o Grupo IBF, de Hamilton Lucas de Oliveira, pairando um clima de incerteza no ar.

Programada para ficar no ar até julho, para dar tempo de produzir uma substituta, Amazônia acabou saindo do ar em 29 de junho de 1992, ficando marcada negativamente na história do canal, que ficou em situação financeira ainda pior, e da televisão brasileira.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor