André Santana

Apesar de registrar boa audiência, Amor Perfeito dividiu opiniões. A trama de Duca Rachid, Julio Fischer e Elísio Lopes Jr. não alcançou grande repercussão e foi alvo de reclamações, sobretudo em razão do rápido esgotamento da trama central.

Diogo Almeida como Orlando em Amor Perfeito
Diogo Almeida como Orlando em Amor Perfeito (reprodução/Globo)

Após um início apressado, a novela das seis da Globo criou a famosa barriga e passou várias semanas se arrastando, focando apenas na relação de “gato e rato” que se estabeleceu entre Marê (Camila Queiroz) e Gilda (Mariana Ximenes). Ao mesmo tempo, o romance da mocinha com Orlando (Diogo Almeida) seguiu sem maiores sobressaltos.

Na reta final, já é possível cravar que Amor Perfeito padeceu do mesmo mal de Mar do Sertão (2022), sua antecessora, cuja trama central também se esgotou rapidamente.

A atual novela das seis só ganhou movimentação e prendeu o público recentemente, o que aumentou os índices de audiência da Globo na faixa.

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Pressa

Amor Perfeito - Camila Queiroz e Mariana Ximenes
Camila Queiroz (Marê) e Mariana Ximenes (Gilda) em Amor Perfeito (Reprodução / Globo)

Os primeiros capítulos de Amor Perfeito foram desnecessariamente frenéticos. O romance entre Marê e Orlando, o suposto assassinato de Leonel (Paulo Gorgulho), a prisão da mocinha, o parto de Marcelino (Levi Asaf), a passagem de tempo e o retorno da protagonista se deu em pouco mais de uma semana.

Ou seja, em poucos capítulos, os autores desataram o plot inicial do folhetim. Esperava-se que a saga de Marê seria contada em detalhes, com nuances e reviravoltas, criando uma expectativa sobre como e quando ela daria a volta por cima e recuperaria sua herança.

Pois nem houve tempo de criar tais expectativas. Bastaram poucos capítulos para Marê deixar a prisão e conseguir de volta tudo o que Gilda havia tomado dela. A mocinha, inclusive, se aproximou do filho perdido, e só não sabe que Marcelino é seu filho até hoje porque acredita que sua criança morreu.

 

Pontas soltas

Amor Perfeito - Paulo Gorgulho
Paulo Gorgulho como Leonel em Amor Perfeito (Paulo Belote / Globo)

Amor Perfeito correu tanto em suas primeiras semanas que vários fatos ficaram sem explicação, e só foram retomados agora, na reta final. Por exemplo: Gilda atirou em Leonel depois que o empresário mostrou as provas de que ela o traía com Gaspar (Thiago Lacerda).

No entanto, até então, não foi mostrado que Leonel desconfiava da esposa, e nem ficou bem explicado de onde vieram as fotos que comprovavam a traição. Só agora, quando a novela está prestes a acabar, que o detetive que tirou as tais fotos voltou à cena. Nada explica tamanha demora em esclarecer este ponto, a não ser a pressa desnecessária do início da novela.

Até porque, sem essa afobação, Amor Perfeito não teria encarado uma barriga tão grande. Foram capítulos a fio com Gilda e Marê numa eterna queda de braço. Até o romance da mocinha ficou insosso, já que não foi ameaçado em nenhum momento. Tanto que, mesmo casado com Gilda, Orlando não deixou Marê de lado. Os autores não tiveram coragem de manter os pombinhos separados por muito tempo.

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Erro que se repete

Mar do Sertão
Sergio Guizé e Isadora Cruz em Mar do Sertão (divulgação/Globo)

Vale lembrar que Mar do Sertão, trama de Mário Teixeira que antecedeu Amor Perfeito, sofreu do mesmo mal. Toda a história envolvendo a suposta morte de Zé Paulino (Sergio Guizé) e seu retorno, quando encontrou Candoca (Isadora Cruz) casada com Tertulinho (Renato Góes), foi contada de forma apressada.

Os primeiros capítulos foram marcados por várias passagens de tempo. Não houve tempo de o público se envolver com o romance entre os protagonistas, e nem de entender direito o que aconteceu com Zé Paulino no período que ficou fora. Após seu retorno, Candoca voltou para ele e a trama se resumiu a Tertulinho tentar separá-los.

Mar do Sertão só não perdeu o pique porque se sustentou no bom humor e nas tramas paralelas. Já Amor Perfeito nem isso fez, pois as histórias paralelas ficaram meses em banho-maria, e algumas sequer foram desenvolvidas adequadamente.

Os autores parecem buscar agilidade em suas histórias. No entanto, na ânsia em movimentar suas tramas, eles se esquecem do básico: emoção. É preciso criar uma conexão entre o público e os personagens, mas é impossível estabelecer este vínculo com essa pressa toda.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor