1 – Se tem uma novela que a Globo faz questão de esquecer é O Amor é Nosso. Considerada a mais problemática trama já exibida pela emissora, a novela das sete estreou em 27 de abril de 1981, portanto, há 39 anos.

2 – A novela contava, basicamente, a história do jovem cantor Pedro (Fábio Jr.), em busca do sucesso e do reconhecimento da crítica. A intenção, na “vida real”, era promover a carreira de cantor do galã – o LP nacional, além de estampar Fábio na capa, contava com um pôster anunciando o próximo lançamento fonográfico do astro.

3 – O negócio foi tão sério que há quem diga que a Globo apagou todos os capítulos da novela, restando pouca coisa no arquivo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


4 – A novela foi escrita pelo psiquiatra Roberto Freire e por Wilson Aguiar Filho.

5 – A proposta era abordar as reais aspirações e dúvidas do jovem, sem vê-lo apenas como um potencial consumidor.

6 – A trama também mexeu com novos conceitos sobre a Igreja Católica, por meio do revolucionário padre Leonardo (Stênio Garcia).

7 – Apesar de contar com nomes como Tônia Carrero, Buza Ferraz, Stepan Nercessian e Milton Moraes, entre outros, não deu certo.

8 – O público simplesmente não entendeu a história, que misturava romances com elementos policiais e confusões típicas dos jovens.

9 – O Amor é Nosso ainda tinha excesso de personagens – muita gente não tinha sequer função na trama.

10 – Exatamente no meio da novela, em uma situação emergencial, Walter Negrão assumiu o lugar dos autores originais.

11 – Cogitou-se, na época, que seria usada a mesma técnica de Janete Clair em Anastácia, a Mulher Sem Destino (1967): uma tragédia levaria boa parte do elenco, que seria renovado a partir de uma nova história.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


12 – Mas o “ônibus da morte”, como ficou conhecido na imprensa, não foi necessário.

13 – “Como peguei a novela exatamente na metade, achei melhor encerrar algumas tramas propostas pelos outros autores para poder desenvolver a minha. Assim, todos os personagens ligados ao lado policial da novela vão desaparecer, porque pretendo destacar o lado romântico da história”, disse Negrão à Folha de S. Paulo na época.

14 – A chegada do experiente novelista melhorou a fluidez do folhetim, mas já não havia muito o que fazer.

15 – Para tentar turbinar os índices de audiência, a Globo chamou o cantor Roberto Carlos para fazer uma participação especial. Então casado com Myrian Rios, que vivia Nina, a mocinha da história, o Rei entrou na história como ele mesmo, ensinando Pedro a cantar. Ronnie Von (foto) também participou.

16 – Como a Globo dominava praticamente toda a audiência e não existiam opções como TV paga e internet, a emissora nem sofreu abalo nos índices, mas, para o famoso Padrão Globo de Qualidade, um fiasco como aquele era difícil de ser tolerado.

17 – O crítico Artur da Távola (1936-2008), em sua coluna no jornal O Globo de 25 de outubro de 1981, um dia após a exibição do último capítulo da trama, definiu bem a situação: “Muito difícil fazer um balanço crítico de O Amor é Nosso. Não há obra. A novela acabou descosida, diferente, desossada, embora de certa forma divertida. Mas morrerá sem deixar saudades”.

Compartilhar.
Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor