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A cena em que Maria Marruá abandona em um barco a filha Juma, recém-nascida, para que ela retorne aos céus é a minha preferida da primeira versão de Pantanal.
O talento de Cássia Kis, os raios que iluminam o céu da região no momento em que Juma vem à luz, a câmera que se desloca com a embarcação enquanto Maria tenta alcançá-la… Tudo é tão perfeito que, desde o anúncio do remake na Globo, aguardei ansioso pela nova versão da sequência.
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Exibido ontem (5), o nascimento de Juma deixou a melhor das impressões. Que os primeiros capítulos do remake foram perfeitos, todo mundo já sabe – concordo em gênero, número e grau com a coluna de Nilson Xavier sobre a primeira semana.
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O adaptador Bruno Luperi tem explicitado, e ampliado, situações que o autor Benedito Ruy Barbosa deixou subentendidas. Casos, como exemplos, da grilagem de terras que levou à morte de Chico (Túlio Starling), filho de Gil (Enrique Diaz) e Maria (Juliana Paes), e da animosidade entre Gustavo (Gabriel Stauffer) e José Leôncio (Renato Góes).
Força sobrenatural
O sobrenatural também ganhou força, da mulher que vira onça ao Véio do Rio (Osmar Prado), entidade que protege o Pantanal tomando, quando necessário, forma de sucuri.
As duas figuras marcaram a trama, a de maior audiência e repercussão da breve, porém incrível, história da Manchete. Agora, ambas ganharam peso na narrativa. Maria conseguiu se entender com uma “igual” apenas com a troca de olhar. E o Véio usou de sua porção réptil para atiçar o instinto materno da onça…
Tais cenas reforçaram a magia de Pantanal. Há algo de encantador no folhetim, capaz de manter o espectador vidrado mesmo quando aposta apenas em sequências contemplativas.
Será a mesma necessidade de desanuviar que impulsionou o êxito de 1990? Estamos diante do mesmo cenário caótico, política e economicamente falando, agravado por uma pandemia que, acredito, diminuiu o interesse na antecessora Um Lugar ao Sol – densa demais para tempos tão difíceis.
Simplicidade
A atual produção das nove também é forte, mas a beleza da região e dos tipos concebidos por Benedito e revisitados por Bruno deixam até as piores ações toleráveis…
Uma novela tão grandiosa, da sinopse à expectativa que gerou com esta regravação, apostou na simplicidade para promover as transformações de Maria em onça e Véio do Rio em sucuri.
O público não viu efeitos grotescos como os de Os Mutantes – Caminhos do Coração (2008), obra da Record que hoje causa risos com transfigurações tão chinfrins. Também não houve ranger de dentes de Juliana, como Cássia e Cristiana Oliveira, a primeira Juma, faziam (e bem) há 32 anos.
Com um simples movimento de câmera, Véio do Rio virou cobra. Em uma troca de plano, Maria surgiu como felina. A opção rendeu elogios nas redes sociais. Sinal de que a magia da sinopse e a da TV – aqui sob a batuta do diretor artístico Rogério Gomes – funcionaram.
Recursos comuns causaram impacto tanto pela surpresa quanto pela força de um enredo que resistiu ao tempo. Na era da narrativa frenética, e dos muitos recursos tecnológicos, a opção pela fantasia e pela simplicidade demonstra força.
Pantanal da Globo é, assim como na Manchete, programa imperdível de todas as noites.